27 janeiro 2010

Desenvolvimento sustentável com bem-estar social é tema de seminário no FSM




A necessidade de se pensar em desenvolvimento com respeito ao meio ambiente e em alternativas de modelos econômicos que beneficiem a toda a sociedade foram os aspectos que marcaram os debates do seminário A Conjuntura Econômica Hoje, realizado na manhã de terça-feira, 26, no Teatro Dante Barone da Assembleia Legislativa do RS, em Porto Alegre.

O debate foi o primeiro de uma série que se realiza no Parlamento gaúcho, uma das sedes do Seminário de Avaliação dos 10 Anos dos Fórum Social Mundial, que se realiza em diversas cidades da Região Metropolitana de Porto Alegre durante esta semana.

Na abertura do evento, o presidente da Assembleia Legislativa, deputado Ivar Pavan (PT), afirmou que um dos desafios atuais é compatibilizar desenvolvimento com proteção ambiental: "Isso só se viabilizará com a intervenção do poder público, ancorado na democracia", ponderou. Segundo ele, pelo fato de o Brasil ter adotado as políticas defendidas pelo FSM, teria sido um dos últimos países a entrar na crise mundial e dos primeiros a sair.

A mesa de painelistas do seminário foi formada pelo geógrafo inglês David Harvey; pela cientista política norte-americana Susan George; pelo economista e secretário nacional de Economia Solidária do Ministério do Trabalho, Paul Singer, e pelo coordenador nacional da CUT, João Felício.

Economia solidária

Para Paul Singer, a curto prazo o Brasil precisa reduzir o desemprego para fortalecer os sindicatos, os movimentos sociais, e o lado da sociedade que quer mudanças. "A crise financeira ainda não está bem resolvida. No Brasil ela praticamente acabou, e neste ano, provavelmente a economia volta a crescer", analisou. E acrescentou: "Há países estagnados, também socialmente, e a economia neoliberal mostra-se ofensiva, o que pode levar a um novo episódio de crise financeira".

Ao falar sobre alternativas para o desenvolvimento da sociedade, Singer manifestou-se sobre o crescimento da economia solidária brasileira, afirmando que "o sonho não é só um sonho, está ao nosso alcance". Ele considera que a economia solidária dá certo porque tem recebido incentivo e apoio, mas também porque "dá certo em felicidade humana, e não apenas em reais ou dólares".

O economista afirmou que a realidade histórica mostra que é possível sair da crise deixando de lado alguns dogmas neoliberais. ´"É preciso garantir para a nova geração trabalho decente e mais democracia. Esta é a grande tarefa". Ao concluir, também revelou otimismo em relação ao desenvolvimento da sociedade e existência humana, dizendo ser preciso ter fé na racionalidade humana e na inteligência dos trabalhadores. "Temos boas chances de ganhar", encerrou.

Relações trabalhistas

O coordenador nacional da CUT, João Felício, defendeu a discussão de acordos que considerem não somente as necessidades imediatas dos trabalhadores, mas também as mudanças que se pretende fazer no mundo. O sindicalista considera que o modelo econômico neoliberal fazia com que os trabalhadores ficassem na trincheira, não para atacar, mas tão somente para se defender.

"Estamos apostando que o neoliberalismo não retome mais o poder político no Brasil. Na atual fase, temos que sair da defensiva, ir para o ataque para construir a sociedade que queremos".

O representante da CUT afirmou ainda que a solução não estará em um governo ou um partido. "É preciso questionarmos que tipo de socialismo e que tipo de sociedade queremos".

Crise além da economia

Para a cientista política Susan George, a situação vivida no mundo não é apenas uma crise, mas várias: além da econômica, existiriam crises ecológicas e de conflitos internacionais, dentre outras. "Haverá novos motivos para conflitos, não só ocupacional, como no Iraque, mas devido a novas situações, como a necessidade de acesso a alimentos", ponderou.

A cientista política criticou a especulação financeira, por considerar que não contribui para a economia real e o bem social. Em sua explanação, Susan ressaltou que os ganhos do setor triplicaram desde a década de 20, e que a ciranda financeira acaba por ditar as regras para toda a sociedade.

"Por isso a conjuntura social está tão mudada, com tanta gente na pobreza. Um dos principais motivos é a especulação com commodities como milho, soja e trigo, e a transferência de terras para a produção de combustível", analisou.

Sobre a questão ambiental, Susan alertou ser preciso evitar que se chegue ao ponto em que não mais será possível retroceder. "O Planeta vai continuar e pode se sair muito bem sem nós", destacou, defendendo uma nova ordem de valores para o mundo, com a ecologia em primeiro lugar, a sociedade livre e democrática em segundo, e por último a economia, sempre a serviço da sociedade.

A respeito da economia a serviço da sociedade, Susan sugeriu medidas como o fechamento dos paraísos fiscais, "pois neles estão trilhões de dólares, pertencentes a poucas pessoas, e que não retornam em benefícios públicos", e o reflorestamento em troca do perdão de dívidas de países pobres.

Aliança humana

O professor de geografia humana da City University - Nova Iorque, David Harvey, defendeu a transformação do sistema vigente em uma nova ordem social, não dominada pelo capital. "A ideologia neoliberal diz que os problemas são sua falta, você é responsável. Os únicos que não são responsáveis são os pertencentes à classe capitalista, porque inventaram o comunismo capitalista", ironizou, apontando que em 2007 dois milhões de pessoas perderam suas casas nos Estados Unidos, representando prejuízo de US$ 40 bilhões.

"Já Wall Street concedeu bônus de US$ 32 bilhões àqueles que trouxeram a crise para o sistema financeiro. Ganhar bônus por fracassar, não é incrível?", admirou-se. "Para mudar o mundo, precisa-se de poder. Precisamos de uma grande aliança humana. Não podemos permitir que uma pequena parcela da classe capitalista domine tudo", concluiu.


Fonte: Agência de notícias AL/RS

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