23 maio 2006

O Modelo de Desenvolvimento Econômico no Pará 2

*Marlon George C. Palheta

O Modelo de Desenvolvimento Econômico no Pará

O modelo desenvolvimento implantado em nosso Estado deixou relegados setores da sociedade a mais profunda desigualdade social, pois no período de 1991 a 2000, segundo o Atlas do Desenvolvimento Humano no Brasil do PNUD- Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento, a taxa de indigentes manteve-se estável em 27,09%, o que representa em termos absolutos cerca de 1.677.495 pessoas que vivem na mais absoluta miséria. A taxa de crianças indigentes aumentou de 36,20% para 36,27%, ou seja, na era do tucanato o estado não fez investimento em políticas públicas para a redução da indigência de nossas crianças.
A distribuição de renda entre os 20% mais pobres e os 20% mais ricos da população do Pará, no período acima, há uma disparidade muito grande. Em 2000 só 1,53% da população pobre se apropriavam da renda enquanto os ricos abocanhavam 68,93%, conclui-se que os 20% de pobres ficaram mais pobres em 42,88% e os 20% dos mais ricos aumentaram sua riqueza em 3,7%. Este diagnóstico mostra os beneficiários do processo de crescimento econômico do governo do tucanato no Pará.
O Pará apresenta um dos piores perfis de distribuição de renda do Brasil. Pegando, por exemplo, o índice de Gini, que expressa o grau de concentração na distribuição do rendimento da população e é medido por um valor que varia de 0(zero), situação de perfeita igualdade, a 1(um), situação de desigualdade máxima, sendo que um valor mediano- 0.5, é considerado um valor representativo de fortes desigualdades. A taxa do Pará oscilou de 0,599 em 1991 para 0,629 em 2000, explicado em função do aumento de pessoas subempregadas ou ocupadas em atividades de baixa produtividade que percebem baixos rendimentos.
Urge construir um projeto de governo para o Estado do Pará que seja frontalmente antagônico ao modo atual de governar, e favorável aos anseios da maioria do povo paraense. Este projeto seria o da participação popular e a reconstrução do Estado do Pará a serviço da população com a recuperação de serviços públicos como saúde, saneamento e assegurar efetivamente a segurança pública em nosso Estado; Desenvolvimento Sócio-Ambiental que valoriza a historia e o conhecimento do conjunto de população que vive nos campos, nas florestas, no interior e nas cidades, como os indígenas, quilombolas, ribeirinhos e os produtores familiares e que promova, efetivamente, a inclusão destes homens e mulheres a uma melhor qualidade de vida.
Artigo publicado no Jornal *Diretor do Sindicato dos Bancários do Pará e Amapá
Diário do Pará, em 16/05/06.
Primeiro caderno, Cartas.

18 maio 2006

O modelo de desenvolvimento do Para!!!!

Um milhão passam fome no Pará
MISÉRIA - IBGE revela o clamor da indigência entre os que sobrevivem sem renda no País
Uma panela cheia de ossos doados pelo dono de um açougue e uma porção de feijão é tudo o que a aposentada Maria José Pereira da Silva, 48 anos, mãe de sete filhos, tinha para alimentar a família ontem no início da tarde. Na casa sem geladeira ou fogão a gás, cada refeição é uma pequena vitória na guerra contra a fome. Hoje, Maria não sabe o que porá à mesa. Conta com a providência divina, materializada na ajuda dos vizinhos. 'Graças a Deus, aonde vou tem sempre alguém que me dá uma ajuda', resigna-se a moradora da comunidade Santa Lúcia 1, uma das mais pobres do município de Marituba, na Região Metropolitana de Belém.
Dramas como o de Maria se repetem todos os dias em milhares de lares no Pará. Não são raras as pessoas que acordam sem saber se terão uma refeição e muitas vezes vão dormir com a barriga vazia. O fantasma da fome, espectro produzido pela miséria, atormenta a vida de mais de um milhão de paraense - 1.060.061, conforme revela a pesquisa sobre Segurança Alimentar divulgada ontem pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
O estudo pioneiro no Brasil foi produzido junto com a Pesquisa Nacional por Amostragem de Domicílio (Pnad), de 2004, a pedido do Ministério do Desenvolvimento e Combate à Fome. As respostas revelam um País em que comida no prato não é um direito assegurado a todos.
O levantamento do IBGE revela que no Brasil, 6,55% dos lares padecem com a chamada insegurança alimentar grave, que como o nome sugere é a situação em que a família está ameaçada pela fome. No Pará, esse índice atinge 13,2% dos domicílios, onde vivem mais de um milhão de pessoas.
O estudo do IBGE apresenta gradações entre a segurança alimentar e a insegurança grave. É o caso de 26% dos lares brasileiros classificados na condição de insegurança alimentar leve. Outros 12,3% estão na categoria moderada. No Pará, 20,2% dos domicílios estão dentro da classificação de insegurança e outros 20,9% são considerados em situação de insegurança moderada. Apenas 45,7% dos lares estão em segurança alimentar. Ou seja, não tiveram qualquer incerteza quanto à possibilidade de ter comida na mesa no período de até 90 dias antes da aplicação da pesquisa, feita em 2004.
Mulheres padecem
O estudo do IBGE revela que famílias com crianças, chefiadas por mulheres e com renda per capita inferior a R$ 56 por mês, estão mais suscetíveis à falta de comida. Ente os lares chefiados por homens no Estado, o índice de segurança é de 47,6%. Já nas casas que têm todas as despesas custeadas pelas mulheres, apenas 39,8% são consideradas em situação de segurança alimentar.
Raimunda Oliveira Marques faz pequenos bicos para sobreviver e conta também com uma pensão de R$ 150, paga pelo ex-marido, pai de seus sete filhos. Com o dinheiro contado, ela diz que não dá para variar muito o cardápio. 'Ainda bem que aqui os meninos não têm muita frescura para comer. O que têm eles aceitam. Feijão, arroz, ovos e mortadela compõem a dieta básica da família, que raramente come carne. 'E tem dias que a gente não sabe nem se vai comer. Aí chega um vizinho, pergunta o que eu tenho e vai aparecendo uma ajuda daqui, outra dali', conta, mostrando a geladeira onde o pote de iogurte há muito é usado apenas para colocar água. Raimunda é vizinha da viúva Maria na comunidade Santa Lúcia 1 e compartilha com ela as incertezas agora mensuradas pelo IBGE.
O cerco à zona rural
O estudo do IBGE acaba com o mito de que, no interior, pobre não passa fome. A idéia de que basta pescar ou ir à roça buscar o alimento não afasta o fantasma da fome. Ouvidos pelo Instituto, os moradores da zona rural paraense revelaram que temem mais a fome que seus conterrâneos da cidade. Com isso, o índice de segurança na zona urbana é de 43,1%, enquanto na zona rural o índice é de apenas 33,9%.
A pesquisa revelou também que nas casas com pessoas com idade abaixo de 18 anos as famílias são mais vulneráveis à fome. Nos domicílios com pelo menos um morador menor de idade, o índice de segurança é de 58%. Entre os que não têm pessoas nessa faixa de idade, o índice de segurança é de 62,7%.
O estudo sobre a segurança alimentar realça mais uma vez a grande desigualdade social que separa as regiões Norte e Nordeste, do Sul e Sudeste do Brasil. O Nordeste se mantém na dianteira no ranking dos piores índices sociais do Brasil.
O melhor desempenho foi registrado em Santa Catarina, onde o índice de segurança no período da pesquisa chegou a 83,2%. Nosso vizinho, Maranhão, apresentou os piores resultados. Em apenas 30,9% dos lares maranhenses, os chefes consideraram improvável a possibilidade de faltar comida.
Embora esteja numa situação intermediária, a região Norte está longe dos bons índices do Sul. A surpresa foi o Estado de Roraima, que apresenta números dignos das regiões mais desenvolvidas. Lá, 70% dos domicílios se encontravam em situação de segurança alimentar. O pior desempenho ficou com Rondônia, que tem resultados próximos ao do Maranhão. Apenas 31,3% dos domicílios estão em condições de segurança alimentar.
No total, o Pará tinha 54,3% dos domicílios em situação de insegurança alimentar e, desse total, 62,8% estavam na classificação grave.
A situação vai piorando à medida que a renda cai. Nas casas, onde a renda mensal é de um quarto do salário mínimo, o percentual de insegurança chega a 93,8%. Nas famílias com renda entre dois e três salários mínimos o índice de insegurança cai para 14,7%.