10 junho 2013

Provável candidato do PSTU à presidência em 2014, Zé Maria afirma que trocar o PT por Eduardo, Marina ou Aécio é trocar seis por meia dúzia !

Em visita ao Recife, onde, na última sexta-feira, participou de um Debate sobre os 10 anos de governo do PT, o presidente do PSTU e provável candidato do Partido à sucessão de Dilma, nas próximas eleições, concedeu entrevista à Folha de Pernambuco, onde criticou o atual modelo econômico e onde traçou um parâmetro entre as candidaturas de Eduardo Campos, Marina Silva e Aécio Neves com a da presidente Dilma Rousseff, concluindo não haver diferenças substanciais entre elas, por defenderem o mesmo modelo que está aí e que privilegia fundamentalmente os bancos e empresários. Segue a entrevista:



“É mais publicidade que ação efetiva”

ANDERSON BANDEIRA e GILBERTO PRAZERES Do Blog da Folha
Candidato por três vezes ao comando do Palácio do Planalto (2002, 2006 e 2010), o presidente nacional do PSTU, Zé Maria, questiona o legado dos dez anos de governo petista no plano federal e volta a se apresentar como uma “real alternativa” de esquerda para o País. Essa opção, segundo Zé Maria, seria encabeçada por meio de uma frente composta por sua sigla, o PSOL e o PCB. Nesta entrevista à Folha de Pernambuco, o militante ainda critica a política econômica da presidente Dilma Rousseff (PT) e acusa os presidenciáveis Eduardo Campos (PSB) e Marina Silva (sem partido) de serem defensores do mesmo modelo. “A mudança que nós teríamos seria de pessoas, mas não de modelo econômico do País”, cravou.

 ENTREVISTA 

Zé Maria - Presidente nacional do PSTU 

O governo petista aposta muito na marca social, destacando a retirada de 40 milhões de brasileiros da miséria, como grande legado dos seus dez anos de gestão. O senhor entende que há mais publicidade do que uma ação efetiva neste caso? 

É mais publicidade do que ação efetiva. Olha só, o que significa concretamente isso? OPT diz que está acabando com a extrema pobreza no País e que a classe média está crescendo. O que é isso concretamente? O que é sair da extrema pobreza para o governo do PT? É uma família que tem uma renda per capita maior que R$ 70,00 por mês. Uma família com quatro pessoas, que ganhe toda ela, R$ 300,00, já não está mais na pobreza. O que é uma família sair da pobreza e passar para a classe média? O critério que o PT utiliza é uma família que tem uma renda per capita maior que R$ 147,00. Isso é o critério do governo. O critério da Fundação Getúlio Vargas (FGV) é de uma família que tenha uma renda familiar de R$ 1.112,00. Então, uma família de quatro pessoas que ganhe R$1.200,00 está na classe média. É dessa forma que essa média está crescendo? É desta forma que está acabando com a pobreza?

O debate econômico vem ganhado muito espaço nas discussões sobre a sucessão presidencial. Vê diferenças nas opções que se colocam até o momento? Alguém pode fazer mais e melhor do que o PT?

O governador Eduardo Campos tem se utilizado muito desse mote, que o Brasil pode mais, pode fazer melhor. O problema de Eduardo é que tem que ver qual o modelo econômico que ele defende. Hoje, ele é parte de sustentação desse modelo econômico que o governo Dilma aplica no País. Eu não vi, até este momento, nenhuma reclamação dele de que o governo está privilegiando demais os bancos, as grandes empresas e deveria privilegiar mais o povo. O que ele fala é que o governo tem que executar melhor as mesmas políticas econômicas que estão sendo executadas para garantir o tal crescimento do País. O governo do PT diz que está garantindo o crescimento do País, que, aliás, está cada vez menor. Mas o problema é: esse crescimento da produção de riqueza no País está sendo canalizado para onde? Então, é possível garantir um crescimento maior da economia brasileira? É perfeitamente possível. O que é que é necessário? Investimentos! Os empresários investem quando dá lucro. Quando não dá lucro, não investem. A crise econômica do capitalismo. É isso que nós estamos vendo na Europa, que vimos nos EUA, e vamos ver aparentemente e cada vez mais próximo aqui no Brasil. É que essa queda na taxa de lucro leva a uma redução no investimento. Isso vai levar a uma redução de emprego, redução do salário, precarização do serviço público e vai por aí a fora. Como é que isso pode ser invertido? O estado pode garantir? Pode. O estado tem recurso? Tem. Tem que deixar de dar o dinheiro para o banco. Não vamos espremer muito a cabeça não. Mas se nós quiséssemos, podíamos utilizar para garantir um plano de obras públicas no País que multiplicasse a construção de moradias populares para o povo pobre. O “Minha Casa Minha Vida” garante casa para todo mundo, menos para quem precisa mesmo. Podíamos garantir a construção de escolas, hospitais, postos de saúde e rede de saneamento básico. Um conjunto de medidas que pudessem melhorar a vida da população e ao mesmo impulsionar a economia do País, é perfeitamente possível fazer, bastando para isso suspender o pagamento da dívida. O governo espera o ano todo para poder investir R$ 30, 40 bilhões. Quando dá todo ano R$ 750 bilhões para os bancos. Por que não pega esse dinheiro e investe e diz para os bancos: “Olha parou aí. Você vai esperar. Depois que melhorar a vida do povo, vamos conversar o problema da dívida?”. O problema é que é uma questão de prioridade, uma questão de escolha.

Como senhor vê o atual debate eleitoral diante desse problema econômico? 

Parte importante do objetivo nosso, com essa discussão, é justamente evitar que a gente se defronte no ano que vem com aquilo que tem sido a prática nos últimos 16 anos no País. Chega o momento das eleições, o povo está colocado diante de duas alternativas. Ou é o seis ou é o meia dúzia. Ou é o PT ou é o PSDB. O PSDB quando esteve no governo fez a mesma coisa que o PT está fazendo e o PT no governo está fazendo a mesma coisa que o PSDB fez.

Eduardo Campos não fugiria dessa dicotomia? 

É seis por meia dúzia. Não é só Eduardo Campos. Marina, também. Ela está tentando viabilizar a construção de um novo partido agora (a Rede Sustentabilidade). Ela já foi candidata pelo PV nas eleições passadas. Qual é a contradição dessas duas alternativas que buscam se apresentar como novas? Eduardo Campos, como eu disse, faz parte da base de sustentação desse governo. Sustenta esse mesmo modelo econômico. Então, a mudança que nós teríamos seria de pessoas. Mas não de modelo econômico do País. Até este momento não há absolutamente nada de diferente daquilo que Eduardo pratica em Pernambuco e defende como projeto para o País do que a Dilma está fazendo. A Marina Silva fala muito em meio ambiente, sustentabilidade, na prioridade das pessoas, mas, ao defender esse mesmo modelo econômico, é prisioneira até no âmbito mais próximo de atuação dela que é o meio ambiente, das escolhas que se faz. Ou seja, na medida que o privilégio dela é o modelo que aqui está. A Marina, quando estava no governo Lula, foi quem formatou esse projeto que arrendou quase metade da Amazônia para as cidades das florestas sustentáveis, para os projetos de manejos que estão sendo feitos no Norte do País. O que é que é o projeto de arrendamento, a legislação que permitiu arrendar áreas florestais para a iniciativa privada, que foi aprovada no governo Lula, na época da Marina? O que é que é aquilo? É entregar uma área da Amazônia para uma madeireira explorar durante 70 anos. Obviamente, explorar de forma sustentável como fazer os tais projetos de manejos. O que é que é explorar de forma sustentável a Amazônia? Bem, isso foi aprovado com a Marina. Voce viu como foi a guerra para a aprovação do código florestal. Então, essas alternativas de um ou de outro, ou seja, acabam permanecendo no mesmo ponto de vista que tínhamos antes. Então, de resto vai ficar para o povo uma meia dúzia. E qual seria a alternativa diferente? O que nós queremos buscar com essa discursão é constituir uma alternativa que seja dos trabalhadores classistas, socialistas, que pode ser apresentada como uma alternativa para a falsa polarização. Não só o PSTU. Nós estamos apresentando informalmente a constituição de uma frente de esquerda (PSTU, PSOL e PCB) que possa partir de candidatura única dos partidos da esquerda socialista brasileira. Representar no processo eleitoral a aprensentação de um contraponto diante das alternativas que estão aí. Esse é o nosso esforço com esse debate do balanço do governo, com essa contestação que nós fazemos a essas alternativas que estão aí colocadas. Nós achamos que elas têm o mesmo sentido.

Por que vocês não conseguiram ainda materializar essa frente mais de esquerda?

É um esforço. Não é uma tarefa simples. Ou seja, nós fazemos uma avaliação de que se nós, para tentarmos romper essa polarização, apresentarmos uma alternativa numa candidatura única, de toda esquerda socialista que está aí no campo de esquerda ao governo, nós temos melhores condições de fazer esse debate com a sociedade, melhores condições de fazer a população compreender as ideias que nós defendemos. Seria, portanto, a melhor forma da defesa desse projeto alternativo no processo eleitoral. Mas numa constituição de uma frente entre vários partidos sempre é um processo complexo, porque, obviamente, se existem três partidos é porque há três ideias diferentes. Então, a construção da frente é uma arte de compatibilizar as diferenças que existem entre os partidos com esse objetivo de tratar se a gente construiu um patamar comum que nos permita apresentar uma alternativa só. Envolve debate de programa, envolve debate da seca, do critério das candidaturas, do financiamento. O PSTU tem um critério muito rígido. Não aceitamos nenhuma aliança com qualquer organização de empresários. Não aceitamos financiamento de empresas em nossas campanhas. Parte fundamental desse problema de regime político que temos no País, que faz a democracia brasileira essa farsa que a gente vê, que quem manda no processo eleitoral são as grandes empresas. Quem financia as candidaturas dos partidos são os grandes grupos econômicos. Esse povo decide, antes das eleições, decide quem vai ganhar. O povo só legitima quando vota.

Vocês estão no campo de debater as ideias. Como é que vai ser o trabalho de debater os nomes? 

Nós não temos problema emapoiar um candidato a presidente pelo PSOL, desde que nós cheguemos em um acordo em torno do programa, em torno desse critério de independente do caso, seja na questão financeira, seja nas alianças eleitorais. E na questão do espaço que cada partido vai ter nessa frente. Nós temos programas de televisão, as candidaturas estaduais. Então, se houve o respeito a cada espaço que cada partido deve ter, nós não vamos brigar para virar cabeça de chave. Obviamente, que meu nome vai estar sendo colocado, mas a briga da nossa parte não vai ser essa. Estamos preocupados daquilo que vai ser apresentado aos trabalhadores e à população brasileira. É uma construção complexa. Se lá na frente não tivermos sucesso nisso, o PSTU vai apresentar uma alternativa dessa visão que nós temos.

A inflação saiu do controle do governo e o remédio utilizado foi, novamente, subir a taxa de juros. É a única saída?

É claro que não. O que ocorre é uma inconsistência absurda. No mesmo momento que o governo estava adotando essas medidas, e não foi só aumento da taxa de juros, foi aumentando a isenção fiscal para empresas que atuam na área de alimentação do País, o governo deu dinheiro público para as empresas e o alimento continuou a subir. Ou seja, o governo baixa o incentivo para ajudar o agronegócio. Qual é o problema? Se está subindo o preço do alimento, qual é a forma de baixar o preço do alimento? É produzir mais alimento. O Brasil é o País que, talvez, tenha mais terras agricultáveis no mundo. Melhores condições para produzir alimento. O que é que nós estamos fazendo com essas terras?

Vemos municípios reclamando da queda dos repasses federais. E isso alimenta o debate da reformulação do pacto federativo. Como o PSTU vê essa questão?

A primeira medida importante nesse sentido não é a revisão do pacto federativo. É o que fazer com os recursos. Por que é que deu essa grita dos municípios? Porque o governo vem há um ano e meio, mais ou menos, intensificando cada vez mais, como instrumento de política econômica, a desoneração fiscal, como forma de manter a economia num patamar, digamos assim, boa. Cresceu 0,9% no ano passado, estão dizendo que esse ano vão subir até 4%. Agora, já estão dizendo que será 2%. Vai terminar em 1,5%. Então, o governo está numa cruzada para tentar aumentar o crescimento da economia e um dos principais instrumentos de política econômica é a desoneração fiscal. Qual é o problema? Isso tem consequência. O dinheiro não cai do céu. Estou dizendo para vocês. Esse ano aqui, esse incentivo para diversos grupos econômicos vai custar em torno de R$ 55 bilhões, que vai deixar de ser arrecadado pela União. Parte importante desse dinheiro é repassado para os estados e municípios. Não vai ter esse dinheiro. Os municípios e estados que já vinham em situação difícil, vão ficar numa situação pior.

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