por Leonardo Mattos, via Facebook
Cresce neste momento a resistência à presença de bandeiras e militantes de partidos políticos nas recentes manifestações. Relatos de intimidação a militantes que portam bandeiras nos atos, votações online nas páginas dos eventos contra a presença dessas, gritos de “aqui não tem partido” começam a aparecer. Uma confusão perigosa que toma a forma como a causa.
É legítimo o questionamento à democracia representativa e ao sistema partidário, é real o sentimento de que todos são iguais. Mas precisamos ir mais fundo e entender que a falta de democracia na nossa sociedade não é culpa dos partidos em si. Ainda que um hipotético fim de todos os partidos pudesse ser levado em consideração, isso de nada adiantaria sem mudanças nos processos que colocam todos os governos como reféns do capital e que fazem com que o poder seja exercido por poucos e para poucos. É um erro entender que o elemento causador disso tudo é a forma partido, e um erro maior ainda canalizar a as energias num discurso de ódio a estes. É apontar a mira para o alvo errado.
Para os defensores “apartidários” da democracia cabe a explicação: partidos são uma das diversas formas de organização política presentes em nossa sociedade. O direito a liberdade de organização política e a liberdade de expressão foram duramente conquistados e são dois pressupostos essenciais da democracia. Defender que bandeiras, quaisquer que sejam, não devem ser levantadas e rejeitar a participação de militantes de partidos é desrespeitar esses pressupostos da própria democracia que se reivindica.
Integra esse quadro também o fato da grande mídia conservadora, que durante os protestos tem sido colocada contra a parede pela clara manipulação dos fatos, tentar sistematicamente associar o movimento a partidos políticos, como tentativa de deslegitimação. Ser contra a presença dos partidos porque a grande mídia usa disso contra o movimento é errar o alvo novamente! Devemos ser contra a cobertura da grande mídia como um todo, e não contra um grupo de pessoas que são parte integrante do próprio movimento. Esse pensamento ingênuo funciona como armadilha que no fim acaba por colocar os manifestantes contra outros manifestantes.
Além disso, alguns partidos presentes nas manifestações há anos participam da organização de atos pelo passe livre, contra o aumento das passagens, dos comitês contra a copa, de ocupações por moradia, da luta em defesa da educação e da saúde pública, entre diversas outras causas. É no mínimo injusto com estes proclamar que estão nos atos apenas por motivos eleitoreiros, para defender seus interesses partidários.
Ainda que existam partidos com essas práticas, trata-se de um pensamento raso tomar as partes como o todo e generalizar. Cabe aos próprios manifestantes entenderem que partidos realmente são aliados e quais são os oportunistas. Que mesmo sendo oportunistas, em nome da democracia não devem ser impedidos de participar.
Com o passar do tempo, é mais do que claro que ninguém é dono do movimento e que ao mesmo tempo o movimento é de todos. É impossível para qualquer organização se apropriar dele como se fosse seu. Não só é impossível como também seria burrice, sob o risco de tal organização ser rechaçada pelo próprio movimento. Rechaço esse que infelizmente começa a acontecer, não pelo fato de realmente existirem partidos cometendo essa burrice, mas pelo fato da mídia estar conseguindo convencer os manifestantes disso. Vamos manter esse levante como um movimento suprapartidário, ou seja, que vai para muito além dos partidos. E não apartidário, que é contra os partidos.
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