06 fevereiro 2014

O fantasma de Junho e o governo Dilma: pais do futebol ou país?

                                                                                                     * Silvio Kanner

Tudo estava planejado para ser uma grande festa. O coroamento de mais quatro anos de domínio Petista. Uma festa popular e feliz com o Brasil no centro do mundo por algumas semanas quando o mundo poderia então perceber um novo “Brasil” pós Lula, mais igual, mais empregos, com programas sociais sólidos e com instituições democráticas que se não funcionam a plena capacidade, ao menos funcionam melhor que antes.
Economia de BRIC estável, popularidade presidencial elevada e um projeto de reeleição liquido e certo. Mas planos exigem sacrifícios e sacrifícios muitas vezes geram fantasmas, aqueles que na batalha ficam pelo caminho, entregues ao inimigo pelo estado maior em nome do plano, da estratégia. É inescapável, todo estado maior tem os seus.
A governabilidade do primeiro mandato petista exigia medias temerárias. Dialogar com o congresso numa linguagem compreensível o que o Olympus Petista, a despeito das justificativas internas, já dominava como sua principal ferramenta política: o dinheiro. Desbaratado o “sistema”, no sentido do capitão nascimento, formou-se a primeira franja de fantasmas.
Num grau menor, a liderança do ex-futuro Rede Sustentabilidade também apresenta ares fantasmagóricos. O desgaste da posição pode ser facilmente solucionado sem uma alternativa viável de oposição, o TSE, nesse caso, tratou de solucionar esse possível problema.
A economia dá sinais de crise, estagnação, os juros voltam a subir, depois de uma intensa propaganda da própria presidente sobre o absurdo dos juros altos, as famílias endividadas, e novos atores individuais e coletivos se apresentam no cenário presidenciável.
Mas todos esses problemas e fantasmas são ainda cotidianos, administráveis. Assombrando o governo Dilma, inequivocamente está o fantasma de junho. Lança incertezas ao centro da estratégia, pois como seria fácil de escrever antes de junho, o país da corrupção, das desigualdades, dos serviços públicos precários, dos privilégios políticos, e segue a lista, esquece todos esses problemas diante das suas duas grandes paixões: o carnaval e futebol. A copa resolveria tudo, num momento mágico de emulação e entusiasmo, mas junho está presente, precisamente para demonstrar que os brasileiros não pensam mais assim.
As grades mobilizações durante a copa das confederações surpreenderam todos, erguendo uma enorme sombra
Os pesos pesados da classe trabalhadora brasileira parecem estar fora do páreo! Controlados por lideranças governistas e acostumados a métodos diferentes de mobilização, apresentam-se desconectados.
Não queremos mais o “somos pobres, nosso governo não trabalha para nós, mas somos um país tropical abençoado por deus”. O fantasma de junho ameaça a principal ideologia brasileira. Ideologia que foi apropriada em toda a sua dimensão pela estratégia Petista. Não pensando em junho, mas em outubro. Não pensando no Hexacampeonato, mas quarto mandato. A idéia eixo desse plano ameaça evaporar.
Quando a idéia não convence, a coação pode assumir outro papel! Já vimos esse filme, copa e repressão já combinaram, Dilma estava de outro lado.
O espectro de junho, parafraseando Marx, ronda o Brasil, algo está para se decidir. Brasil, o país do futebol? ou o país que trata bem seu povo, colocando-o no centro das preocupações governamentais.


* Presidente da Associação dos Empregados do BASA - AEBA

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