No
momento em que busca se adequar aos cortes dos juros e acaba de
desembolsar R$ 1 bilhão para capitalizar o Banco Votorantim, o Banco do
Brasil enfrenta um outro problema que ameaça a sua rentabilidade. De
acordo com fontes da instituição ouvidas pelo GLOBO, o principal desafio
do BB atualmente está na Justiça do Trabalho. Preocupado com o custo de
uma avalanche de ações trabalhistas, o banco tem freado gastos e
investimentos e prepara um pacote de medidas para evitar que processos
se acumulem e criem um rombo na instituição.
A preocupação cresceu
com a previsão da cúpula do banco de que os resultados financeiros vão
piorar a partir do último trimestre, porque os correntistas estão
quitando os empréstimos mais caros e só os mais baratos continuarão na
carteira.
O foco da aflição da direção do BB é a ação dos
bancários que trabalham em cargos administrativos nas sedes da
instituição. Eles são sindicalizados, como os funcionários que ficam nas
agências bancárias. Só que, ao contrário dos que atendem ao público,
quem trabalha na direção-geral não tem carga horária de seis horas. A
ação é conhecida como 7 e 8 horas. E os funcionários que ganharam na
Justiça conseguiram o reconhecimento dessa parte da jornada como horas
extras.
— Por causa dessa contenda judicial, o BB está segurando
investimentos para fazer caixa. Os gastos que podem ser adiados estão
sendo, porque o pessoal sabe que isso vai estourar neste ano — disse uma
fonte ligada à instituição sob condição de anonimato.
Antigamente,
apenas funcionários que se aposentavam entravam com o pedido de
horas-extras. No entanto, desde o início deste ano, vários bancários da
ativa começaram a recorrer à Justiça para receber as duas horas diárias a
mais. Isso fez aumentar a preocupação com o tamanho da fatura e também a
previsão dessa despesa na contabilidade da instituição.
De acordo
com fontes, a apreensão maior do BB é em relação às ações trabalhistas
na Justiça de Brasília. A adesão ao grupo de funcionários que entram na
disputa tem aumentado nos últimos meses. E na capital federal os juízes
têm determinado que os bancários recebam a diferença de horas relativa
ao trabalho dos últimos dez anos e não dos cinco anos anteriores, como é
de costume.
Por causa desse aumento exponencial dos processos, o
BB está prestes a concluir um plano com reforço em algumas áreas,
realocação de pessoal e uma divisão de trabalho que faça com que os
bancários da área administrativa trabalhem no máximo seis horas.
Questionado
sobre o assunto, o Banco do Brasil respondeu, por meio da assessoria de
imprensa, que “a sétima e oitava horas são discutidas no âmbito de todo
o sistema financeiro. O BB faz provisões conforme metodologias
adequadas às diversas demandas judiciais e, no caso específico, o
Judiciário tem se pronunciado favoravelmente ao banco, em alguns
estados. O Banco do Brasil avalia internamente medidas sobre a sétima e
oitava horas que possibilitem a condução do tema de acordo com a
necessidade da empresa e dos funcionários.”
Com a escalada dos
processos na Justiça, o Banco do Brasil aparece em segundo lugar no
ranking de empresas com maior número de ações trabalhistas. A lista do
Tribunal Superior do Trabalho (TST) com cem empresas já condenadas pela
Justiça a pagar indenização por violar direitos dos empregados foi
divulgada há duas semanas. O BB ficou em segundo lugar, com 2.472
processos.
A relação foi elaborada a partir do Banco Nacional de
Devedores Trabalhistas, criado por lei ano passado, e será divulgada
pelo TST anualmente como desestímulo aos devedores.
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