Um partido não é definido apenas por seu programa e estatutos, mas
também por sua moral. Os militantes do PSTU podem olhar para trás com
orgulho de sua trajetória nesse terreno e comparar-se orgulhosamente ao
restante da esquerda.
Evidentemente, os militantes do partido estão e estarão submetidos a
pressões da sociedade, dos sindicatos, do Estado e das empresas para
corromper os ativistas. Mas o fundamental é ter uma concepção moral no
partido que combata essas pressões.
Por que é importante a moral?
Nenhuma agrupação humana subsiste sem moral, ou seja, sem normas que
regem sua vida interna e sua ação. O mesmo vale para qualquer
organização ou sociedade.
A burguesia, sabendo que é uma ínfima minoria na sociedade, sempre deu
importância a defender sua visão de mundo e sua moral para garantir seu
predomínio. Parte disso foi a luta permanente para criar e impor sua
moral egoísta e individualista, especialmente à classe explorada, sem o
que torna-se impossível que ela possa governar a sociedade.
Justamente a luta dos trabalhadores e sua constituição como classe desde
o século 19 permitiram que se fosse criando uma moral oposta à moral
burguesa. Uma moral baseada na unidade para lutar por seus interesses de
classe e na solidariedade entre companheiros de luta.
Decadência moral da sociedade capitalista
No final do século 20 e começo do século 21, como parte da chamada onda
neoliberal, um vendaval oportunista varreu as organizações operárias de
todo o mundo. Foram os tempos da “morte do socialismo” e do
individualismo mais exacerbado, que ecoam ainda hoje.
Porém, ao contrário da propaganda triunfalista, o mundo ficava cada vez
pior, com sinais crescentes de barbárie. Essa decadência geral da
sociedade, como não podia deixar de ser, se expressou fortemente no
terreno moral. Valores antes cultivados de forma hipócrita como
honestidade, convivência pacífica, bem comum e solidariedade foram
diretamente abandonados e trocados por uma espécie de moral do “vale
tudo”.
Vale tudo para um benefício individual, como uma melhor colocação no
emprego. Vale enganar o companheiro ou algum familiar em função de
interesses egoístas. Isso é o que nos ensinam diariamente. Fraudar uma
obra pública, desviar dinheiro da saúde ou da educação pública são
consideradas provas de esperteza.
Degeneração moral das organizações do
movimento operário no Brasil
É muito comum hoje escutar de um operário ou de um ativista de uma
categoria que “todos se corrompem”. Essa reação se explica porque no
Brasil se deu um dos processos mais profundos de degeneração política e
moral do movimento operário internacional: a falência do PT e da CUT.
O processo de integração total do PT e da CUT ao aparelho de Estado
significou um retrocesso moral nessas organizações e gerou um repúdio e
um ceticismo muito grandes na vanguarda e no ativismo.
O escândalo do mensalão, em 2005, mostrou que a integração ao aparato de
Estado havia gerado uma “moral de aparato”. Tudo vale para manter um
mandato parlamentar e um cargo no Estado.
A trajetória de nossa
corrente no terreno moral
Nossa participação no PT e na CUT foi construída em torno de batalhas
políticas, programáticas, metodológicas e morais. Desde o primeiro
momento, propúnhamos que o PT não fizesse alianças com a burguesia e
denunciamos as polpudas campanhas financiadas pelos patrões. Mas a
política da direção petista era estimular a utilização ao estilo burguês
das prefeituras e abrir as portas à corrupção.
Desde as vitórias de 1988, uma larga rede de negócios e negociatas foi
se instalando, através de acordos espúrios com empresas de coleta de
lixo, de ônibus, empreiteiras e consultoras fajutas que cobravam
comissões gordas para projetos que só existiam no papel. Casos como o de
Santo André (SP), que levou ao assassinato do prefeito petista Celso
Daniel.
A Convergência Socialista (CS), então no PT, agiu de forma completamente
oposta. Certa vez, um militante da corrente foi eleito prefeito em
Timóteo, Minas Gerais, em 1988. Passados alguns meses, porém, ele
resolveu reprimir uma greve dos funcionários municipais e rompeu com a
orientação da CS.
Imediatamente, esse militante, que tinha à disposição o orçamento de uma
cidade importante, foi expulso da Convergência porque havia rompido um
princípio: tomar partido ao lado do Estado burguês contra uma greve de
trabalhadores. Muitos dirigentes petistas, inclusive de correntes de
esquerda, não acreditavam que fôssemos capazes de “jogar fora” tal soma
de recursos.
Mas, para nós, tratava-se de defender o caráter revolucionário e de
classe de nossa corrente. Foi essa intransigência de princípios que nos
fez atravessar o período de militância dentro do PT e sair sem perder a
bússola moral, mantendo os princípios.
Correntes como a Democracia Socialista (Secretariado Unificado), de
origem trotskista, foram se adaptando cada vez mais e se degenerando
política e moralmente. Hoje são parte da gestão corrupta do Estado e da
repressão aos movimentos sociais.
O PSTU, desde sua fundação, foi muito claro. Nossas campanhas políticas
são feitas com os recursos conseguidos junto aos trabalhadores, jamais
aceitamos financiamentos da burguesia. Uma razão muito simples nos leva a
essa norma: aceitar o apoio financeiro dos inimigos de classe é abrir
as portas para que eles determinem a política do partido.
Afinal de contas, a burguesia é coerente: só vai financiar aqueles que
não a ameacem. Este foi o motivo pelo qual, no ano passado, denunciamos o
financiamento da campanha do PSOL de Porto Alegre pela Gerdau, pois
para nós não vale tudo para eleger um candidato.
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