30 maio 2011

Fiesp, CUT e Força Sindical se unem. Para quê?


Industriais e direções da CUT e Força Sindical se unem para defender os lucros dos empresários e evitar mobilizações

 Fiesp
 
  Temer, Arthur Henrique, Paulinho e Skaf

• A história não é nova. Empresários e sindicalistas se unem, colocam eventuais diferenças de lado e dão as mãos em prol de um objetivo comum. Um discurso recorrente. Nos anos 1990 era a invasão de importados provocada pela abertura econômica indiscriminada iniciada por Collor. Assim que Lula assumiu a presidência, convocou um amplo “pacto social”. Mais recentemente, a crise econômica internacional trouxe de volta essa questão.

Agora, a Fiesp, entidade que reúne os industriais de São Paulo, anunciou uma aliança com a CUT e Força Sindical, assim como o histórico Sindicato dos Metalúrgicos do ABC (ligada à CUT) e de São Paulo (ligada à Força). O perigo alardeado pelos empresários agora é a “desindustrialização” do país, ou seja, a diminuição do peso da indústria na economia e, mais uma vez, a concorrência dos importados e a “falta de competitividade” do Brasil.

Discurso requentado
O pontapé inicial da campanha foi dado no dia 23 de maio, durante entrevista coletiva que colocou lado a lado o presidente da Fiesp, da Força e o dirigente dos metalúrgicos do ABC. Em seguida, no dia 26, realizaram o seminário “Brasil do diálogo, da produção e do emprego”, que contou com a direção de todas as entidades e a participação do vice-presidente Michel Temer (PMDB). O seminário divulgou o documento “Acordo pela Produção e Emprego” com a sistematização das propostas.

A campanha, porém, não se encerraria aí. O objetivo é compor um órgão tripartite, reunindo patrões, trabalhadores e o governo, ao estilo das câmaras setoriais dos anos 1990. Entre as reivindicações divulgadas até agora estão a desoneração da folha de pagamento aos empresários, a isenção na PLR, a “representatividade da indústria de transformação no Produto Interno Bruto (PIB)” nas palavras da Fiesp, seja lá o que isso signifique, além de uma série de medidas genéricas.

Não é difícil entender o que os industriais querem. Mal acostumados com a série de isenções e subsídios despejados pelo governo Lula quando o país foi atingido pela crise internacional, entre 2008 e 2009, querem uma nova rodada de facilidades e bondades pagas com o dinheiro público. Uma das principais bandeiras é a desoneração do INSS para as empresas nas folhas de pagamento dos funcionários.

Essa é a pauta da indústria. Qual seria então a pauta dos “trabalhadores”? O presidente do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, Sérgio Nobre, deu uma pista à imprensa, ao defender a “renovação nas relações entre trabalhadores e empresários”. Para quem vem acompanhando as recentes movimentações de sua entidade, essa fala significa bem mais que uma frase de efeito. O sindicato do ABC vem defendendo uma modificação da CLT, que trata dos acordos coletivos.

Nobre defende, mais especificamente, que o “negociado prevaleça sobre o legislado”, ou seja, que os acordos coletivos firmados entre as direções dos sindicatos e os patrões possam eventualmente passar por cima das leis trabalhistas. Para quem se lembra, tal medida, polêmica, foi muito discutida durante o governo FHC. A diferença é que naqueles anos, ela vinha do lado dos patrões.

Em entrevista ao jornal Valor Econômico do dia 13 de abril, Sérgio Nobre afirmou que ”se ficarmos presos à CLT, travaremos uma série de avanços que são fundamentais para os trabalhadores e para as empresas”. Disse ainda que ”o espaço para negociação no Brasil é quase inexistente, tudo é engessado pela legislação”.

Medida preventiva
No momento em que o presidente da CUT, Arthur Henrique, o dirigente da Força, Paulo Pereira da Silva e o da Fiesp, Paulo Skaf, posavam para a foto oficial do seminário, no Paraná os 3 mil metalúrgicos da Volks de São José dos Pinhais faziam a sua maior greve contra a montadora. O que pode parecer coincidência indica o segundo sentido dessa política: atrelar ainda mais as direções das duas maiores centrais e dos seus mais representativos sindicatos a fim de prevenir uma onda de mobilizações.

A paralisação dos operários da GM de São José dos Campos (SP) já havia dado sinal amarelo aos industriais. O crescimento econômico, apesar dos recentes sinais de arrefecimento, prossegue, garantindo altos lucros às empresas. Gera, porém, uma contradição, já que os empregos e os salários não aumentam na mesma proporção. O que aumenta num ritmo ainda maior são as metas de produção e a exigência de horas extras.

Isso significa que, se por um lado é verdadeira a perda relativa de espaço da indústria frente aos produtos primários para exportação, por outro o setor está longe de viver uma crise. A Fiesp e os industriais, porém, querem ainda mais, através de subsídios e isenções garantidos pelo governo, e ainda evitar que o descontentamento da base operária evolua para greves e mobilizações.

Para isso, reeditam a ideia do pacto social, prontamente abraçado pelas direções das centrais e dos sindicatos. Assim, as lutas por salário e pela redução na jornada dão lugar à “defesa da indústria”. Dilui-se a luta de classes em benefício dos empresários. Como discursou Nobre no seminário da Fiesp, “nossas diferenças persistem, mas neste momento temos um adversário comum, que é o crescimento das importações e fatores que têm contribuído para isso”.

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