O jornal O Estado de S.Paulo publicou nesta terça-feira, dia 28, o artigo "Bancos andam na contramão do emprego", do presidente da Contraf-CUT, Carlos Cordeiro da Silva. O texto destaca que "os bancos fecharam 1.364 postos de trabalho no primeiro trimestre deste ano", conforme pesquisa da Contraf-CUT em conjunto com o Dieese. Para ele, "nada justifica a rotatividade que está sendo feita com a redução de salários e a discriminação das mulheres".
Segundo Carlos Cordeiro, "as demissões estão concentradas nos grandes bancos privados, principalmente em razão das fusões do Itaú-Unibanco e Santander-Real, contrariando os compromissos assumidos publicamente pelos presidentes dessas empresas de que não haveria fechamento de postos de trabalho". Na opinião do presidente da Contraf-CUT, "os bancos, que gastam milhões de reais para propagandear responsabilidade socioambiental, mostram que não fizeram a lição de casa, dando um mau exemplo para a sociedade".
Ao final do artigo, Carlos Cordeiro ressalta que "está na hora de os bancos pararem de andar na contramão e fazer a sua parte para manter postos de trabalho e gerar novos empregos, além de baratear o crédito e baixar juros, tarifas e spread. O Brasil só vai caminhar para frente com emprego, distribuição de renda e desenvolvimento".
Leia a íntegra do artigo de Carlos Cordeiro:
Bancos andam na contramão do emprego
Os clientes e a população possuem razões de sobra para reclamar das filas intermináveis nos bancos. Faltam cada vez mais funcionários para agilizar o atendimento, enquanto sobram caixas eletrônicos nas salas inseguras de autoatendimento. Isso porque as instituições financeiras têm fechado postos de trabalho, principalmente nas regiões Sudeste e Sul, ao invés de gerar empregos.
Segundo pesquisa inédita de emprego no sistema financeiro, lançada recentemente pela Confederação Nacional dos Trabalhadores do Ramo Financeiro (Contraf-CUT) em conjunto com o Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese), os bancos fecharam 1.364 postos de trabalho no primeiro trimestre deste ano. Eles desligaram 8.236 bancários e contrataram apenas 6.882. É uma inversão do que ocorreu no ano passado, quando houve um aumento de 3.139 vagas no mesmo período.
Esse primeiro resultado, que as duas entidades passarão a divulgar trimestralmente sobre a evolução do emprego nas instituições financeiras, toma por base os dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged) do Ministério do Trabalho. As demissões estão concentradas nos grandes bancos privados, principalmente em razão das fusões do Itaú-Unibanco e Santander-Real, contrariando os compromissos assumidos publicamente pelos presidentes dessas empresas de que não haveria fechamento de postos de trabalho. O Conselho Administrativo de Defesa Econômica (CADE) do Ministério da Justiça, que aprovou as fusões, precisa dizer para a população quais foram as contrapartidas sociais.
Os números somente não foram piores porque houve mais contratações nos bancos públicos, especialmente no Banco do Brasil e na Caixa Econômica Federal. Mas ainda há carência de pessoal para acabar com as filas, o que tem motivado a Contraf-CUT e os sindicatos, em parceria com outras entidades representativas, a fazer mobilizações, como a campanha "Mais empregados para a Caixa, mais Caixa para o Brasil".
Além da redução do emprego, está havendo também uma diminuição na remuneração média dos trabalhadores. Os desligados no primeiro trimestre recebiam remuneração média de R$ 3.939,84. Já os contratados têm salários médios de R$ 1.794,46, o que representa uma diferença de 54,45%, isto é, menos da metade. É a velha política da rotatividade para baixar salários e aumentar lucros.
Os números revelam também que, em vez de avanços na igualdade de oportunidades, cresceu a discriminação contra as bancárias. Os bancos pagaram às mulheres contratadas menos do que aos homens. O salário médio das trabalhadoras admitidas no período foi de R$ 1.535,34, enquanto a remuneração média dos homens chegou a R$ 2.022,56 - uma diferença de 24,09% em prejuízo das bancárias.
Os bancos, que gastam milhões de reais para propagandear responsabilidade socioambiental, mostram que não fizeram a lição de casa, dando um mau exemplo para a sociedade. E recursos financeiros não faltam para esse setor da economia. Mesmo com a crise mundial, os lucros seguem invejáveis. No primeiro trimestre deste ano, os 50 maiores bancos lucraram R$ 7,5 bilhões, segundos dados do Banco Central.
Nada justifica, portanto, a rotatividade que está sendo feita com a redução de salários e a discriminação das mulheres. Um dos dispositivos defendidos pelos trabalhadores para frear essa rotatividade é a ratificação do Brasil à Convenção 158 da Organização Internacional do Trabalho (OIT), que dificulta a demissão imotivada.
Aliás, a facilidade dos bancos em dispensar empregados, especialmente aqueles com mais tempo de trabalho e com maior remuneração, o que exige o pagamento de indenizações mais elevadas, rasga o discurso patronal de flexibilizar a legislação trabalhista para reduzir os encargos previstos para a rescisão de contratos. Como se não bastasse, nenhuma medida foi anunciada pelos bancos para reduzir as premiações e os bônus, muitas vezes milionários, concedidos para um punhado de executivos.
Mas, acima de tudo, está na hora de os bancos pararem de andar na contramão e fazer a sua parte para manter postos de trabalho e gerar novos empregos, além de baratear o crédito e baixar juros, tarifas e spread. O Brasil só vai caminhar para frente com emprego, distribuição de renda e desenvolvimento.
Carlos Cordeiro da Silva
Presidente da Contraf-CUT
Fonte: Contraf-CUT
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