04 novembro 2024
2º turno: Vitória de um Centrão mais à direita e as derrotas do PT e do PSOL!
Gilberto Kassab, dono do PSD, apoiou candidaturas da extrema direita e mantém ministérios no governo Lula Foto José Cruz/Agência Brasil
Passado o 2º turno das eleições municipais, já é possível traçar um balanço mais completo deste processo. Primeiro, reafirmou-se a vitória do Centrão e da direita. O Partido Social Democrático (PSD) e o Movimento Democrático Brasileiro (MDB) ganharam cinco capitais, cada um, repetindo numericamente o feito de 2020. Mas, o PSD ultrapassou o MDB, alcançando um total de 885 prefeituras em todo o país.
Demais siglas, como União Brasil e Republicanos, também tiveram vitórias significativas, conquistando 583 e 433 prefeituras, respectivamente. O bolsonarista Progressistas (PP) elegeu 746 prefeituras. O Partido Liberal (PL), que é categoricamente oposição de direita ao governo, ficou com 516.
O partido de Bolsonaro abocanhou quatro capitais, resultado inédito para o ex-presidente e seu partido. Tiveram, ainda, o maior número de prefeituras nas cidades com mais de 200 mil habitantes. Mas, no 2º turno, perderam para o Centrão em várias capitais que disputaram. Ou seja, mesmo tendo vitórias, foram aquém do esperado por Bolsonaro e a cúpula do PL.
Faça uma doação
Vitórias e derrotas
Se no 1º turno o PL foi o partido que mais cresceu em número de votos, e também o que garantiu a ida ao 2º turno no maior número de cidades (dentre elas, nove capitais); no 2º turno o partido venceu em apenas duas (Aracaju/SE e Cuiabá/MT), perdendo, em geral, para candidaturas do Centrão ou da direita que fazem uma oposição mais dura ao governo, mas ainda institucional, como em Goiânia, onde Bolsonaro se envolveu pessoalmente no enfrentamento contra Ronaldo Caiado (União Brasil).
Houve, ainda, um crescimento dos votos nulos e das abstenções, que expressam desde um desgaste do regime até uma certa apatia e indiferença.
O PT e o PSOL, por outro lado, sofreram uma grande derrota, embora o PT tenha ganhado mais prefeituras que em 2020. No 2º turno, o PT disputava diretamente três capitais: Cuiabá (MT), Porto Alegre (RS) e Fortaleza (CE). Ganhou apenas em Fortaleza, aos 45 do segundo tempo, pela diferença de apenas 10 mil votos.
Soma-se a isso a derrota de Boulos, em São Paulo, que, apesar de ser do PSOL, era o candidato de Lula e do próprio PT na cidade. Para um setor à frente do Governo Federal é uma derrota importante.
O Centrão e a direita
O Centrão que sai vitorioso dessa eleição não é o velho Centrão do último período. O que chamamos de Centrão foi, de conjunto, mais para a direita. Estão estruturando e consolidando uma direita ideológica extremada, nos limites da institucionalidade, e uma ultradireita que desafia e vai além dos limites da democracia burguesa, como o “bolsonarismo” em suas diversas variantes.
Desde a redemocratização, o Centrão ajudou a compor todos os governos – do PSDB ao PT. Hoje, 70% do espectro partidário está à direita do PSDB. Destes, uns 30% são uma força de ultradireita, capaz de mobilizar e, também, de chegar ao 2º turno e quase ganhar.
PSD e MDB são partidos tipicamente do Centrão. Assim como o União Brasil e Republicanos, sem deixarem de ser pragmáticos e fisiológicos, são hoje ideologicamente muito mais à direita e até abrigam alguns tipos diversos de bolsonaristas, como Tarcísio, Damares e Mourão.
Um pé em cada canoa
O presidente Lula e o governador de SP Tarcisio
Ao mesmo tempo em que seguem essa guinada à direita, o PSD, o MDB, o Republicanos, e até o PP, compõem ministérios no governo Lula. E, ainda, fazem parte do governo Tarcísio, em São Paulo, assim como faziam parte do governo Bolsonaro. Isso mostra como é falso o discurso do PT sobre combater a direita.
Isso também se reflete nas eleições municipais. Eduardo Paes (RJ) e Fuad (MG), do PSD, são mais próximos de Lula; enquanto Topázio Neto (SC) e Eduardo Pimentel (PR), do mesmo partido, são apoiadores de Bolsonaro, com os vices do PL.
Também no MDB isso se expressa com Ricardo Nunes, em São Paulo, e Sebastião Melo, em Porto Alegre, tendo vices do PL e apoiados por Bolsonaro. Enquanto que, em Belém, o prefeito eleito, Igor Normando (MDB), é aliado do presidente Lula e foi apoiado pelo PT no 2º turno.
Muito se tem dito sobre como a vitória do Centrão mostra que a polarização no país ficou para trás. É verdade que a polarização foi menor e o papel das figuras de Lula e Bolsonaro não teve tanto peso. Mas, o significado disso tem sido a estruturação e a consolidação, cada vez maiores, da direita e, também, da ultradireita.
As divisões no bolsonarismo
Bolsonaro e Pablo Marçal
O signo da campanha foi a demonstração de um maior enraizamento da direita e da ultradireita. Pautaram o debate e mostraram diversas novas roupagens. O bolsonarismo vem de uma grande derrota, com as punições após a tentativa de golpe.
Diminuíram os rompantes autoritários, mas ganharam novos contornos, que passam pelo bolsonarismo tido como mais domesticado, com Tarcísio, inclusive com a capacidade de incidir sobre o Centrão. E há alas que têm um projeto mais abertamente autoritário, em fenômenos com características diferentes, como Marçal (SP) e Nikolas Ferreira (MG), passando por bolsonaristas “raiz”, mais tradicionais, como o prefeito eleito de Cuiabá, ou Ratinho Jr., no Paraná.
Embora sejam setores com diferenças entre si, são partes do mesmo fenômeno de ultradireita. E todos eles com grandes acordos programáticos entre si. Neste sentido, as divisões na ultradireita são uma derrota para Bolsonaro, mas também são um sintoma de que esta corrente política tem um lastro social e ideológico, não sendo apenas expressão de um “voto castigo” ou da simpatia episódica por uma figura populista.
Divididos, mas com vitórias importantes
Se, por um lado, houve um desgaste de Bolsonaro, não se pode dizer que o bolsonarismo ou a extrema direita tiveram uma derrota como a do PT. A direita se fortaleceu com o Centrão e com figuras de direita categóricas e extremadas, como Tarcísio de Freitas, em São Paulo.
A própria extrema direita saiu maior das eleições de conjunto e, mesmo onde perdeu, teve vitórias políticas importantes, como em Belo Horizonte, com Engler (PL); em Fortaleza, com André Fernandes (PL); em Curitiba, com a Cristina Graeml (PMB); sem falar no Marçal (PRTB), que apesar de não ir para o 2º turno em São Paulo virou uma figura nacional.
A pulverização da ultradireita pode significar seu fortalecimento ou enfraquecimento. Isto ainda não está dado. Há muita água para rolar. Mas, hoje, o resultado eleitoral mostrou que apesar dessa pulverização estes setores tiveram conquistas políticas e eleitorais em 2024, apesar da derrota pós 8 de janeiro e dos maiores questionamentos a Bolsonaro.
As várias derrotas do PT e do PSOL
Live patrocinada por Pablo Marçal com a presença de Boulos
As candidaturas do PT e PSOL não empolgaram nestas eleições. Como suposta solução, buscaram mais ainda aliança com setores da direita e dos bilionários capitalistas. A tarefa que se deram foi se apresentarem como os melhores nomes para salvar o sistema.
Chegou ao cúmulo de, por exemplo, em Cuiabá (MT), Lúdio Cabral, o candidato do PT, fazer coro com as pautas conservadoras defendida pelos bolsonarista, na questão do aborto e das opressões, se colocando integralmente a serviço do fundamentalismo religioso.
Ou, ainda, o aceno estapafúrdio de Boulos, ao aceitar a “live” com Marçal, dizendo que incorporaria propostas dele, assim como fez com Tabata Amaral, reconhecida liberal e privatista, que votou a favor da Reforma da Previdência de Bolsonaro.
O fracasso da tentativa de servir a dois senhores
No geral, estas candidaturas defenderam o mesmo modelo de Lula na Presidência. Disseram que governariam para todos, mas o programa apresentado estava inteiramente a serviço dos bilionários capitalistas.
Um programa que mantém a política fiscal exigida pelo mercado e a manutenção do Arcabouço Fiscal, com o corte de verbas nas áreas sociais, os ataques ao funcionalismo, as privatizações e Parcerias Público-Privadas (PPP’s), assim como a entrega do país às multinacionais, a depredação ambiental e os benefícios ao grande agronegócio.
O problema do PT não é apenas rejuvenescimento e meios de comunicação. É de conteúdo. Ou seja, tem a ver com responder a uma questão fundamental: Que classe social seu projeto, programa e política representam? Algo cuja resposta se encontra no fato de que são cada vez mais vistos como parte do sistema capitalista e da institucionalidade burguesa.
Aquele projeto social liberal, aplicado lá atrás, de distribuir dinheiro público para setores da burguesia e, em base ao crescimento econômico, fazer política sociais compensatórias, gerando ascensão social das classes baixas através do consumo, está esgotado.
A expectativa de que um crescimento econômico induzido pelo Estado vai virar mais consumo e melhorias para os trabalhadores, hoje, se choca com a realidade do próprio capitalismo brasileiro e mundial, que se debate, de crise em crise, com setores da burguesia, exigindo mais espoliação e maiores lucros. Na prática, o projeto do PT não apenas é (como sempre foi) parte desta engrenagem, como também, agora, é visto desta forma.
Pagando o preço pela proposta de gerir o capitalismo em crise
A derrota eleitoral do PT nesta eleição mostra que o governo Lula não serve nem para derrotar a ultradireita. Já que, ao contrário do que diz o ministro petista Paulo Pimenta, a ultradireita não foi derrotada ou isolada. E, muito menos, o governo Lula foi vitorioso nesta eleição municipal.
Não é para menos. Afinal, o governo do PT é o principal sustentador do Centrão e da direita, liberando as emendas parlamentares, não punindo os golpistas, distribuindo cargos e ministérios para a direita e fazendo todo tipo acordos de financiamento com bolsonaristas, como Tarcísio.
Em suma, o PT se dirige para a centro-direita, se transformando num partido cada vez mais igual a tudo que está aí. Um defensor da desgastada institucionalidade burguesa, do “status quo” (da ordem vigente ou da manutenção das coisas como estão) do capitalismo que ele ajudou a gerir por cinco mandatos.
Fonte: www.pstu.org.br
09 janeiro 2024
Editorial: O governo Lula, as privatizações e a ultradireita!
A eleição do ultradireitista Javier Milei, na Argentina, trouxe preocupações aos trabalhadores do Brasil. Não é para menos. Afinal, ele é parte do fenômeno da ultradireita mundial que, apesar das diferenças em cada país, tem muitas coisas em comum.
Este setor defende terra arrasada, acelerar e aprofundar, sem dó, os ataques à classe trabalhadora, aos setores oprimidos, ao meio ambiente e à soberania dos países, como também atacar as liberdades democráticas. Tudo em nome do lucro dos capitalistas. Para isto, também promovem o ódio contra negros, mulheres, LGBTI+ e imigrantes.
O projeto defendido por Milei inclui privatização geral das estatais argentinas, a dolarização da economia e conta com uma vice negacionista dos mortos da ditadura militar daquele país.
Faça uma doação
“Esquerda” reformista e neoliberal pavimenta o caminho para a ultradireita
A situação argentina traz dois alertas. O primeiro é que a ultradireita não está morta e está à espreita para voltar ao poder. O segundo, que não adianta os governos capitalistas que se dizem de esquerda governarem o capitalismo em um modo neoliberal mais lento, pois isso não impede o fortalecimento da ultradireita.
Na verdade, o caminho da direita é pavimentado porque “governos de esquerda” defendem medidas que interessam aos monopólios capitalistas e terminam desgastados, piorando as condições de vida do povo, precarizando o trabalho, não enfrentando a pilhagem e a subordinação aos imperialismos; sem conseguir, assim, resolver as necessidades mais básicas.
E isso aduba o solo onde viceja a ultradireita. Milei ganhou a eleição depois da derrocada do “governo de esquerda” do peronista Alberto Fernandez.
Não há “mal menor”
Neste momento, isso é muito importante. Há uma grande parcela da esquerda que defende que, para derrotar a ultradireita, é preciso apoiar e defender o governo Lula. Mas, quando vemos o que está sendo feito pela ultradireita e pelo Governo Federal, vemos como esta posição, na verdade, leva ao fortalecimento das pautas e demandas da ultradireita.
Há, por exemplo, uma luta em curso contra as privatizações promovidas pelos governos estaduais de São Paulo e de Minas Gerais, nas mãos do Republicanos e do Novo, respectivamente. As mobilizações contra as privatizações, marcadas para o dia 28, em São Paulo, e que estão ocorrendo nestes dias 21 e 22, em Minas Gerais, são importantes. Com a luta, é possível derrotar os planos privatistas dos governos estaduais e, também, exigir de Lula a reversão das privatizações já feitas, como a da Eletrobras e impedir novas privatizações.
Ocorre que o governo Lula não é um contraponto aos processos de privatizações dos governos estaduais da ultradireita. Pelo contrário, vem fazendo parcerias nas privatizações promovidas nos estados, como demonstram o financiamento que o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) dará para a privatização das escolas paulistas.
Pretendem induzir um suposto desenvolvimento do país, injetando dinheiro público na iniciativa privada. Por isso, o governo anunciou um Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) recheado de recursos públicos e baseado na proliferação de Parceria Público Privadas, que nada mais são que um tipo de privatização, com a diferença que os custos e riscos são assegurados pelo Estado, enquanto os lucros são privados. As multinacionais recebem todo tipo de incentivos e benefícios para abocanhar empresas, se instalarem no país e enviarem seus lucros para o exterior.
Há setores de direita que defendem, abertamente, privatizar tudo, cortando gastos públicos e criando o tal “Estado mínimo”. E há aqueles que se dizem de esquerda, mas que, na prática, também privatizam, só que de maneira diferente. Ao invés de venderem, fazem PPPs. Também defendem uma política fiscal neoliberal; mas, ao invés de cortes diretos dos gastos públicos, como fazia Temer, fazem a mesma coisa através do novo Arcabouço Fiscal. Defendem até aumentar um pouco os gastos, mas para tentar gerar algum crescimento econômico, remunerando os capitalistas com o orçamento público.
São duas faces da mesma moeda. Embora sejam diferentes, com ritmos diferentes, chegam ao mesmo lugar: um país mais subordinado, desnacionalizado, privatizado, com trabalho precarizado e alguma renda mínima.
Oferecem o mal menor: liberalismo em doses homeopáticas, com pequenas concessões no varejo. Mas, fazem o mesmo jogo do capitalismo em defesa dos interesses dos lucros privados dos bilionários brasileiros e internacionais. Mas, quem se diz de esquerda e, mesmo num ritmo mais lento, faz o jogo da burguesia e do capitalismo, alimenta a ultradireita!
Alternativa revolucionária, de classe e socialista
Para acabar com a desigualdade social brasileira é preciso enfrentar os grandes grupos capitalistas. Este é um problema histórico, que remonta à própria origem do país.
Inclusive, o fato do Banco do Brasil ter, comprovadamente, atuado centralmente na escravidão, possibilitando que acumulasse lucros e capitais, é só a expressão de uma responsabilidade que envolve todos os capitalistas brasileiros e o próprio Estado, submetidos ao imperialismo. Inclusive, não há reparação para o povo negro que não passe por enfrentar os interesses dos ricos e pela expropriação dessas riquezas que nos foram roubadas.
A dominação dos países imperialistas no Brasil é a base da nossa condição de pobreza, atraso tecnológico e desigualdade social. Da nossa condição de subdesenvolvimento e subalternidade econômica, política e social.
Por isso, também é tão importante a luta em defesa do povo palestino. Lula deveria romper relações diplomáticas, econômicas e militares com Israel, que está promovendo genocídio e apartheid. O que o impede de fazer isso não é uma movimentação tática para repatriar os brasileiros. Na verdade, este episódio comprova a subalternidade do Brasil aos interesses dos imperialistas. Esta luta é também parte da libertação do próprio Brasil do domínio do imperialismo.
O desafio político do nosso tempo é que, para enterrar de uma vez por todas o perigo de Mileis, Bolsonaros e Trumps, é preciso superar o programa, a estratégia e as táticas desta esquerda capitalista, liberal e defensora da ordem burguesa, que têm hegemonizado o cenário político, até o momento.
É preciso construir uma alternativa dos trabalhadores e das trabalhadoras, que vá à raiz dos problemas; ou seja, o capitalismo, e que signifique não só uma mudança de governo, mas também de sistema. Enquanto a esquerda ficar refém de um campo burguês e da defesa da ordem, cairá no colo da ultradireita a possibilidade de capitalizar este sentimento, ainda que ela seja a parte mais perversa deste sistema.
Assinar:
Postagens (Atom)