27 outubro 2013

Por que a direita e a esquerda se unem no ódio aos black blocs!


27/10/2013 14:58

Por Paulo Nogueira - de Londres

Os Black Blocks tiveram atuação relevante nos levantes ocorridos no Egito
Os Black Blocks tiveram atuação relevante nos levantes ocorridos no Egito
Ninguém gosta dos black blocs exceto eles próprios. Cheguei a essa conclusão depois de ver Dilma, pelo Twitter, condená-los pelo ato “covarde” de bater num coronel da PM. Segundo Dilma, eles têm protagonizado cenas de “barbárie”.
Você lê o Globo e a Veja e lá estão eles, atacados como vândalos, baderneiros, criminosos, bandidos etc.
A direita e a esquerda estão unidas no ódio aos black blocs por diferentes razões. Para a direita, eles são um incômodo porque denunciam escandalosamente a desigualdade social brasileira.
Para a esquerda, especificamente a ligada ao PT, eles são um incômodo porque mostram que não estão satisfeitos com os avanços sociais feitos nos últimos dez anos por governos petistas. Em consequência, atrapalham a marcha de Dilma rumo ao segundo mandato.
No meio do calor das discussões parece ficar de lado uma questão crucial: por que irromperam na cena brasileira estes mascarados pouco amistosos e extremamente combativos?
Sem responder a isso a polêmica em torno dos black blocs é estéril. Os black blocs são os filhos não amestrados da iniquidade. Poucos dias atrás, uma militante do grupo concedeu uma entrevista cândida à BBC Brasil, republicada pelo DCM.
Ela contou que virou black bloc por causa da “concentração de renda”. Não viu nos partidos políticos convencionais nada que a interessasse.
Eis o ponto.
O PT, com as alianças no poder em busca da “governabilidade”, deixou de ser atraente para jovens inconformados, idealistas, indignados com tanta miséria no Brasil.
Eles querem algo novo. E é então que entram em cena os garotos do Passe Livre e do Black Blocs. Ao contrário de outros grupos que poderiam e talvez deveriam estar protestando nas ruas – sindicatos e UNE, por exemplo – eles não têm o rabo preso com o PT.
Querem que o Brasil melhore socialmente – com PT ou sem PT. Por isso são tão detestados pelo PT.
A emergência dessa nova categoria de manifestantes – que não têm nada a ver com os demagogos que falam em “corrupção” para comover a classe média como já aconteceu em 1954 e 1964 — mostrou uma coisa. O Brasil pede um partido de esquerda que represente, hoje, o que o PT foi em seus primeiros tempos.
O PT poderia caminhar mais para a esquerda e atender aos anseios dos neomanifestantes? Eis a grande questão. Pessoalmente, não acredito. Os compromissos em nome da “governabilidade” tornam virtualmente impossível fazer alguma coisa muito diferente do que se fez nos últimos dez anos.
Como proteger os índios decentemente, para ficar num só caso, se alianças com ruralistas são vitais para que o governo toque a sua vida?
Uma coisa parece certa: a Rede Sustentabilidade não é a novidade que os inconformados das ruas pedem. Mudam os personagens, mas os compromissos permanecem: Marina jamais falou em aumentar o imposto dos mais ricos porque vai depender deles para tentar se eleger.
Spinoza dizia sobre certas coisas que o importante não era gostar ou desgostar delas, mas entendê-las. Ninguém parece estar entendendo os black blocs.
Querem que eles sumam? Experimentem reduzir a desigualdade social que está na origem deles.
O resto é silêncio, como escreveu Shakespeare.
Paulo Nogueira é jornalista, baseado em Londres, e fundador e diretor editorial do site de notícias e análises Diário do Centro do Mundo.

19 outubro 2013

BLACK BLOC: MAIS POLÊMICA!

Sobre seitas e calúnias (desculpem a redundância)–SOBRE BLACK BLOCS E CALÚNIAS DO PCO 

Circula nas redes um texto de uma seita, no caso o PCO, acusando o PSTU e PSOL de "reprimirem" os Black Bloc's e de fazerem o papel de "polícia" no movimento, com base nos acontecimentos ocorridos na manifestação em São Paulo no último dia 15. O protesto reuniu amplos setores e, em essência, exigia democracia na universidade, diretas para reitor e o Fora Alckmin, entre outras reivindicações. Há muito não acredito em conceitos como imparcialidade e isenção, seja da imprensa ou dos próprio indivíduos ou organizações. Quando vemos e percebemos um fato, o fazemos a partir de nossa própria subjetividade, repertório, posição política e um longo etc. Dentro da esquerda e do movimento é a mesma coisa. Outra coisa, bem distinta, é a calúnia, método historicamente utilizado por algumas correntes e, em especial, no Brasil, pela referida seita. Vamos aos fatos. A manifestação nesse dia 15 começou a se concentrar no Largo do Batata no final da tarde, já cercado por um forte aparato repressivo. A definição era que caminharíamos até o Palácio dos Bandeirantes. Já no início da passeata, começou uma tensão entre os manifestantes e um setor dos Black Bloc's que insistiam em permanecer na frente do ato. Tradicionalmente, e foi assim nos atos de junho puxados pelo MPL, a faixa principal, que unificava as manifestações, abria a marcha. E todos seguiam atrás. Mas alguns ali, contra a vontade da maioria, não aceitavam isso. Já na Faria Lima, o impasse durou algo como trinta minutos. Vim saber depois, através de companheiros, que alguns "adeptos da tática Black Bloc" tentaram arrancar e rasgar faixas e bandeiras do movimento e de partidos, o que certamente colaborou para elevar o nível de tensionamento (lembrando os episódios de junho, quando fomos atacados por hordas fascistas). Organizadores da marcha, dirigentes do DCE da USP e de outras entidades tentaram pacientemente argumentar com esse setor. Em vão, infelizmente. Isso gerou uma irritação muito grande por parte deles. "Eles querem uma Marcha para Jesus, vão se foder", cheguei a ouvir de uma garota. Pois bem, sem acordo, a passeata seguiu. Os Black Bloc's à frente, com umas 100 pessoas (suponho) e atrás, tentando manter uma certa distância, o conjunto da manifestação (umas 2 mil). Os Black Bloc’s, porém, pareciam não muito dispostos a aceitar a ideia de que a maioria ali não os queria à frente fazendo sua “proteção”, e o tensionamento não terminou por aí. Já na Marginal Pinheiros, alguns Black Bloc's pegaram vários sacos de lixo e lançaram contra os estudantes que estavam à frente da marcha. Como jornalista, cubro manifestações há pelo menos uns 10 anos (eu sei, estou ficando velho). Já vi brigas, discussões e empurra-empurra entre correntes e partidos algo que, embora absolutamente lamentável, não chega a ser algo raro. Mas confesso que me surpreendi com aquele ataque, principalmente por não se dirigir contra um setor específico, mas sim contra a própria manifestação que diziam "proteger"! Felizmente, houve muito sangue frio ali para evitar que tudo não descambasse para um confronto físico generalizado. É importante frisar que isso não partiu do conjunto do Black Bloc, mas de um setor. Bem, por fim se chegou a um "acordo" com parte deles de se estabelecer uma "linha de contenção" à frente da marcha, com integrantes dos Black Blocs e demais ativistas. Bem mais à frente, caminhavam o grosso do bloco. Na prática, eram duas manifestações. Apesar disso, estava sendo uma bela manifestação, com o apoio explícito de muitas pessoas pelas ruas, como se os ventos de junho estivessem de volta. Até a polícia aparecer. Na Marginal Pinheiros, pouco antes da repressão policial, alguns vidros de uma concessionária foram quebrados. Seria leviano de minha parte dizer que os Black Bloc’s iniciaram o confronto com a PM. Até porque eles estavam bem à frente, pelo menos uns cem metros do restante da marcha. Mas o fato é que o conflito se iniciou entre os Black Bloc’s e alguns policiais. Segundos depois, chegaram mais policiais. Bombas de gás lacrimogêneo, pedras, molotov’s. Enquanto isso, a manifestação seguia parada na Marginal. Com o acirramento do conflito, parte significativa dos Black Bloc’s que estava à frente participando do conflito, correu para trás dos demais manifestantes. A Tropa de Choque então irrompeu por trás e, de forma covarde, começou a reprimir de forma generalizada. A marcha conseguiu resistir de forma organizada nos primeiros minutos, mantendo-se unida e evitando a dispersão. Mas a polícia começou a atacar de forma tão violenta aquele bloco de estudantes, que tiveram que buscar refúgio na loja da Toc&Stok. A partir dali, seguiram as cenas de brutalidade policial que assistimos. As 60 detenções ocorreram de forma aleatória e ilegal, sem qualquer flagrante. Não pretendo aqui fazer uma análise sociológica sobre a gênese e o papel dos Black Bloc’s, mas tão somente relatar o que ocorreu naquele dia 15, evidentemente não tendo qualquer presunção de "isenção". A relação com esse setor daqui pra frente o próprio conjunto do movimento precisa discutir e definir. Assim como a autodefesa, tanto em relação à polícia quanto aos provocadores. Agora, dizer que o PSTU, o PSOL, ou qualquer outro partido, organização ou entidade do movimento, "reprimiu" ou tentou "expulsar" os Black Bloc's do ato não passa de uma estapafúrdia calúnia. Cobrar responsabilidade de uma seita conhecida por sua completa ausência de moral e uso sistemático de calúnia na disputa política é difícil, eu sei. Mas o que é lamentável é que setores da esquerda repercutam essas calúnias com o objetivo de atacar o PSTU, que não abre mão (como algumas correntes) de travar o debate político com os Black Bloc's. Dizer, e mais, repercutir que "PSOL e PSTU agiram como policiais dentro do movimento estudantil" é leviano e irresponsável. No ato de São Paulo tivemos pelo menos 16 militantes detidos, alguns deles espancados pela PM. No Rio, dois dos nossos foram encarcerados pela PM de Cabral e só conseguiram relaxamento da prisão dois dias depois. Em Porto Alegre, nosso militante teve a casa invadida, livros e computadores confiscados e está respondendo inquérito que pode levá-lo para a cadeia. Isso tudo por lutar. São só alguns exemplos. Dizer que tal ou qual partido agem como "polícia no movimento" é denúncia grave e precisa ser provada. Na época da ditadura, levava a atos de "justiçamentos" (e com razão) entre os grupos de esquerda. Dessa seita degenerada não espero nada. Dos setores que estão fazendo coro com esse absurdo para ataques políticos, é bom que repensem esse método. A quem realmente interessa isso? Diego Cruzdinheiro com artesanato

Black bloc: quando o real é o virtual.

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Na alvorada do “Levante de Junho”, quando vi jovens de preto, e trajando máscaras, no ventre da primeira grande manifestação de São Paulo, vandalizando estabelecimentos ao longo da Rua da Consolação, vieram-me à mente imagens que assisti em Seattle, em 1999, durante protestos contra a Conferência da Organização Mundial do Comércio. Identifiquei ali a chegada da “Black bloc” ao Brasil.
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No dia seguinte, a “Folha de S. Paulo”, ao noticiar que o vandalismo fora perpetrado pelo “Black bloc”, acertou na origem, mas errou no gênero: não é “o”, mas “a” Black bloc, pois o termo não identifica um grupo, mas uma tática. A imprensa adotou o masculino e acha que o termo é substantivo, quando, na verdade, é adjetivo.
> Desde 1999 a BB se franqueou pelo mundo
Postei sobre o assunto e recebi contestações: alguns acusaram-me de fantasiar, mas hoje é luminar que a Black bloc estabeleceu-se no Brasil e vampiriza as manifestações populares.
Desde Seattle a tática se expandiu pelo mundo, o que lhe dá a característica adjetiva da franquia. No Brasil ela se consolidou, principalmente, no Rio de Janeiro, onde as manifestações prosseguem.
> Perfil temático
Os que se valem da tática têm uma característica comum: são anarquistas e se bastam em desafiar o establishment. Optam pela infiltração nas grandes manifestações porque nelas se podem esconder no anonimato, ao mesmo tempo em que se tornam notados.
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No Brasil, como em outros locais onde fatos sociais similares ocorrem, a ação Black bloc alcança a finalidade, que é tomar o foco das manifestações, mas tem como substrato um prejuízo aos movimentos nos quais se infiltram, pois a população passa a misturar as partes e a repelir o todo.
> Perfil sociológico
O canadense Robert Muggah, desde 1999, estuda a Black bloc nas redes sociais e identifica os sujeitos: jovens entre 19 e 25 anos, com nível escolar acima da média, que nasceram na era da internet e dominam as ferramentas virtuais com desenvoltura e intimidade, ou seja, são um corte da chamada “Geração Z”, extremamente conectada e capaz de interagir instantemente.
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> Reação
A polícia procura identificar os sujeitos, para tentar conter o predicado, achando que com isso poderá evitar-lhes a ação em 2014, quando as manifestações deverão retornar com fôlego redobrado, devido a visibilidade que o Brasil terá com a Copa.
A Polícia perderá se não se prover de inteligência cibernética. Em uma magnífica inversão da realidade a qual nos acostumamos a viver, no caso da Black bloc, o combate no asfalto é apenas o cenário virtual: o cenário real é a grande rede.

Fonte: blog do Parsifal

GREVE DOS BANCÁRIOS: ASSEMBLÉIA APROVA PROPOSTA E TEM FIM A GREVE NO BANPARÁ.

A proposta do Banco, aprovada na Assembleia dos bancários do Banpará é a seguinte:

Garantia das cláusulas e índices de reajuste fixados na CCT FENABAN.

REAJUSTE: Aumento do piso em 8,5% com repercussão na tabela do PCS, inclusive para o nível superior.

PCS - Promoção para todos que tenham completado no mínimo dois anos de Banco, em janeiro de 2014 (5% conforme a regra do PCS, excluindo os adoecidos, os que estão sob efeito de qualquer penalidade disciplinar e os que faltaram por 6 (seis) dias); e desatrelamento entre a promoção por merecimento por antiguidade, passando cada uma a ter contagem independente da outra, a contar de janeiro/2014, zerando a contagem anterior.

ANUÊNIO: Aumento de 50% no anuênio passando de R$ 26,88 PARA R$ 40,32.

PLR ADICIONAL: 1,8% distribuído linearmente fora da regra da FENABAN. Considerando que o Banpará tem uma previsão de lucro de R$ 140 milhões, isso corresponderia a um valor de R$ 1.652,46 para cada funcionário, dentro de um universo atual de 1.525 funcionários.

LICENÇA PRÊMIO: Os 06 dias adquiridos anualmente (após o primeiro quinquênio completado – regra do gozo anualizado) serão gozados em dias úteis.

TERAPIAS HOLÍSTICAS: Ampliação das sessões mensais de terapia holística de 250 para 300 terapias mensais.

MANUTENÇÃO DE CLÁUSULAS DO ACT ANTERIOR: Salvo as modificadas/substituídas por meio do presente Acordo, bem como as já cumpridas nos prazos fixados no citado instrumento normativo, resguardando-se direitos individuais de empregados eventualmente não beneficiados à época da concessão/implementação.

VALE CULTURA: O banco compromete-se a aderir ao Programa de Cultura do Trabalhador, visando à concessão de vale-cultura, no valor mensal de R$ 50,00 aos seus funcionários que recebam remuneração bruta mensal de até 05 salários mínimos, em conformidade com o disposto no art. 7º da Lei 12.671/2012. O início da concessão aguardará a contratação de empresa operadora do serviço que será realizada mediante processo licitatório.

DIAS PARADOS: O banco seguirá a FENABAN, com compensação de 1 hora por dia, de segunda a sexta-feira, até o dia 15 de dezembro. Porém, o banco aceitou abonar os Dias Nacionais de Luta contra o PL 4330 (11/07 e 30/08), assim como os dias de greve da semana corrente (de 15/10 a 18/10), o que equivale a uma compensação de 22% das horas paradas.

Estudante preso nas manifestações no Rio diz estão conscientizando a população!

'O processo é longo e trará frutos', afirma preso em protesto


Ciro: “O sentimento de revolta é legítimo”
Foto: Agência O Globo / Divulgação

Quando foi a sua primeira manifestação e por que você resolveu ir às ruas?
Desde junho tenho participado. As motivações foram inicialmente os serviços públicos de péssima qualidade, a pouca representatividade e a profundidade das desigualdades sociais.
Há muitos que acreditam que os protestos mais recentes não têm bandeiras definidas, não têm reivindicações claras. Na sua opinião, isso é verdade?
A profusão de demandas não significa que não sejam claras. A questão da CPI dos Ônibus, desmilitarização da polícia, democratização da mídia, educação pública, gastos com a Copa, Museu do Índio, entre muitas outras, são bandeiras bem definidas e têm reivindicações trabalhadas.
As recentes manifestações estão fazendo do Brasil um país melhor?
Estão tornando as pessoas mais conscientes e atuantes. Além disso, estão deixando mais claro que precisamos de conquistas sociais e que nossa democracia ainda é frágil. O processo é longo e certamente trará frutos.
Como foi a sua prisão? Os policiais que o prenderam alegaram o quê?
Estava na escadaria da Câmara colhendo informações para apurar como tinha se iniciado o confronto. Nesse momento raro de tranquilidade, uma centena de policiais nos acuou, batendo o cassetete nos escudos para nos intimidar. O cordão de isolamento foi formado. Fomos detidos um a um e levados à força para os ônibus. Não houve qualquer alegação, apenas abuso de autoridade e constrangimento ilegal.
E os momentos na prisão, como foram?
Muito mais tranquilos do que qualquer um possa imaginar. A convicção de que estava fazendo a coisa certa, partilhada com os demais manifestantes presos, me permitiu superar as dificuldades e humilhações do sistema carcerário brasileiro. Mantivemo-nos íntegros do início ao fim.
Atos de depredação representam você? Você acredita que eles tenham alguma legitimidade?
Nas ruas, todos representam a si mesmos. Toda manifestação política de insatisfação, desde que não atente contra a integridade física e a dignidade, tem minha simpatia. O sentimento de revolta é legítimo. Quanto às depredações, é sua aceitação política que definirá a legitimidade. E ela tem crescido à medida que as instituições negam o caminho do diálogo.


09 outubro 2013

Black Blocs: A origem da tática que causa polêmica na esquerda!

publicado em 8 de outubro de 2013 às 8:49

Foto da página do Black Bloc SP
“O balancê, balancê. Escute o que vou te dizer. Geraldo fascista, vai se foder e leva o Cabral com você.” (Cantado por manifestantes em São Paulo)
Black blocs, lições do passado, desafios do futuro
Por Bruno Fiuza*

Especial para o Viomundo
Uma das grandes novidades que as manifestações de junho de 2013 introduziram no panorama político brasileiro foi a dimensão e a popularidade que a tática black bloc ganhou no país.
Repito: dimensão e popularidade – pois, ao contrário do que muita gente pensa, esta não foi a primeira vez que grupos se organizaram desta forma no Brasil, e muito menos no mundo.
Aliás, uma das questões que mais saltam aos olhos no debate sobre os black blocs no Brasil é a impressionante falta de disposição dos críticos em se informar sobre essa tática militante que existe há mais de 30 anos.
É claro que ninguém que conhecia a história da tática black bloc quando ela começou a ganhar popularidade no Brasil esperava que os setores dominantes da sociedade nacional tivessem algum conhecimento sobre o assunto.
Surgida no seio de uma vertente alternativa da esquerda europeia no início da década de 1980, a tática black bloc permaneceu muito pouco conhecida fora do Velho Continente até o fim do século XX.
Foi só com a formação de um black bloc durante as manifestações contra a OMC em Seattle, em 1999, que as máscaras pretas ganharam as manchetes da imprensa mundial.
Natural, portanto, que muita gente ache que a tática tenha surgido com o chamado “movimento antiglobalização” e tenha se baseado, desde o início, na destruição dos símbolos do capitalismo.
O que realmente assusta é a ignorância e a falta de disposição de se informar sobre o assunto demonstradas por certos expoentes e segmentos da esquerda tradicional brasileira.
O desconhecimento e a falta de informação levaram grandes representantes do pensamento crítico brasileiro ao extremo de qualificar a tática black bloc de “fascista”.
Ao se expressarem nesses termos, esses grandes lutadores, que merecem todo o respeito pelas inúmeras contribuições que deram à organização da classe trabalhadora no Brasil ao longo de suas vidas, caíram na armadilha de reproduzir o discurso da classe dominante diante de toda forma de contestação da ordem vigente que não pode ser imediatamente enquadrada em categorias e rótulos familiares.
Ao não compreenderem a novidade do fenômeno tentaram enquadrá-lo à força em esquemas conhecidos.
Fetichização
Essa incompreensão aparece, de cara, na própria linguagem usada tanto pela mídia conservadora quanto por certos setores da esquerda tradicional para se referir à tática black bloc.
Em primeiro lugar, usam um artigo definido e letras maiúsculas para se referir ao objeto, como se “o Black Bloc” fosse uma organização estável, articulada a partir de algum obscuro comando central e que pressupusesse algum tipo de filiação permanente.
Ora, tratar um black bloc desta forma seria o mesmo que tratar uma greve, um piquete ou uma panfletagem como um movimento.
Talvez a melhor forma de começar a desfazer os mal-entendidos sobre os black blocs seja combater a fetichização do termo.
Como chegou ao Brasil por influência da experiência americana, essa tática manteve por aqui seu nome em inglês, mas não é preciso muito esforço para traduzir a expressão.
Por mais redundante e bobo que possa parecer, nunca é demais lembrar que um “black bloc” (assim, com artigo indefinido e em letras minúsculas) é um “bloco negro”, ou seja: um grupo de militantes que optam por se vestir de negro e cobrir o rosto com máscaras da mesma cor para evitar serem identificados e perseguidos pelas forças da repressão.
Fazer isso não significa se filiar a uma determinada organização ou movimento. Da mesma forma que operários que decidem fazer um piquete para impedir a entrada de outros trabalhadores em uma fábrica em greve não deixam de fazer parte de seus respectivos sindicatos para ingressar em uma misteriosa sociedade secreta.
Eles apenas optaram por uma determinada tática de luta. É exatamente o que fazem os militantes que decidem formar um bloco negro (leia-se, “black bloc”) durante uma manifestação.
Não há dúvida de que a opção pelo anonimato e a disposição para o enfrentamento com a polícia são peculiaridades que diferenciam profundamente o bloco negro de outras táticas, mas nem por isso a opção por esse tipo de ação dá margem para confundi-la com um movimento.
Aí entramos em um segundo ponto fundamental para a discussão da tática black bloc: seus métodos. De cara, é preciso esclarecer que os próprios métodos dos black blocs mudaram ao longo do tempo e por isso é fundamental conhecer o contexto histórico, político e social em que nasceu e se desenvolveu essa tática.
A origem
Os primeiros black blocs surgiram na então Alemanha Ocidental, no início dos anos 1980, no seio do movimento autonomista daquele país.
Como o movimento autonomista europeu é muito pouco conhecido no Brasil (para não dizer completamente desconhecido), quem quiser se informar melhor sobre o assunto pode recorrer a um ótimo livro sobre o tema escrito pelo militante e sociólogo americano George Katsiaficas: “The Subversion of Politics – European Autonomous Social Movements and the Decolonization of Everyday Life”, disponível para download no site do autor (http://www.eroseffect.com).
Surgido a partir da experiência da autonomia operária na Itália dos anos 1970, o autonomismo se espalhou pela Europa ao longo das décadas de 1970 e 1980.
Um dos países onde o movimento mais se desenvolveu foi na Alemanha. Fiel ao espírito revolucionário original do marxismo, mas renegando o fetiche pelo poder das burocracias sindicais e partidárias, o autonomismo se desenvolveu como um conjunto de experimentos sociais organizados por setores que optaram por se manter à margem do modo de vida dominante imposto pelo capitalismo e criar focos de sociabilidade alternativos no seio das próprias sociedades capitalistas, mas pautados por valores e práticas opostos aos dominantes.
Na Alemanha Ocidental, o movimento autonomista surgiu no fim dos anos 1970, quando grupos começaram a organizar ações diretas contra a construção de usinas nucleares no interior do país por meio da criação de acampamentos nos terrenos onde as centrais seriam erguidas.
O mais famoso deles foi a República Livre de Wendland, um acampamento criado em maio de 1980 na cidade de Gorleben, na região de Wendland, no norte da Alemanha, onde estava prevista a construção de uma usina nuclear.
Enquanto os acampamentos antinucleares surgiam no interior da Alemanha Ocidental, em grandes cidades, como Berlim e Hamburgo, grupos de jovens e excluídos começaram a ocupar imóveis vazios e transformá-los em moradias coletivas e centros sociais autônomos.
Assim nasceram os primeiros squats alemães, inspirados pela experiência de grupos que já faziam isso havia anos na Holanda e na Inglaterra.
A mobilização contra a construção de usinas nucleares no interior e as ocupações urbanas nas grandes cidades se tornaram os dois pilares do movimento autonomista alemão.
Para os envolvidos nesses processos, a criação de espaços autônomos era uma forma de questionamento da ordem capitalista na prática, por meio da criação, no interior da própria sociedade capitalista, de pequenas ilhas onde vigoravam relações sociais opostas às vigentes no entorno dominante.
Obviamente, quando acampamentos e squats começaram a proliferar pelo país, o governo da República Federal Alemã se deu conta de que era preciso cortar pela raiz aquela agitação social.
Em 1980, lançou uma grande ofensiva policial contra acampamentos antinucleares e squats em diferentes partes do país.
A República Livre de Wendland foi desarticulada em junho, e os squats de Berlim sofreram um violento ataque policial em dezembro.
Diante da ofensiva policial, os militantes alemães se organizaram para resistir à repressão e proteger seus espaços de autonomia. Desse esforço nasceu a tática black bloc.
Durante a manifestação de Primeiro de Maio de 1980, em Frankfurt, um grupo de militantes autonomistas desfilou com o corpo e o rosto cobertos de preto, usando capacetes e outros equipamentos de proteção para se defender dos ataques da polícia.
Por causa do visual do grupo, a imprensa alemã o batizou de “Schwarzer Block” (“Bloco Negro”, em alemão).
Desse momento em diante, a presença de blocos negros se tornou um elemento constante nas ações dos autonomistas alemães, e sua função original era a de servir de força de autodefesa contra os ataques policiais às ocupações e outros espaços autônomos.
Um relato em alemão sobre o surgimento dos black blocs pode ser encontrado no seguinte endereço: http://www.trend.infopartisan.net/trd0605/t370605.html.
O caminho para Seattle
Da Alemanha, a tática se difundiu pelo resto da Europa, e, no fim dos anos 1980, chegou aos Estados Unidos, onde o primeiro bloco negro foi organizado em 1988, para protestar contra os esquadrões da morte que o governo americano financiava em El Salvador.
Uma ótima fonte sobre a história dos black blocs nos Estados Unidos é o livro “The Black Bloc Papers”, editado por David Van Deusen e Xavier Massot e disponível para download em http://www.infoshop.org/amp/bgp/BlackBlockPapers2.pdf.
Ao longo dos anos 1990, outros black blocs se organizaram nos Estados Unidos, mas a tática permaneceu praticamente desconhecida do grande público até que um bloco negro se organizou para participar das manifestações contra a OMC em Seattle em novembro de 1999.
Graças à ação desse black bloc, a tática ganhou as páginas dos grandes jornais no mundo inteiro, principalmente porque, a partir de Seattle, os black blocs passaram a realizar ataques seletivos contra símbolos do capitalismo global.
A mudança se explica pelo contexto em que se formou o black bloc de Seattle. A década de 1990 foi a era de ouro das marcas globais, quando os logos das grandes empresas se transformaram na verdadeira língua franca da globalização.
Nesse contexto, o ataque a uma loja do McDonald’s ou da Gap tinha um efeito simbólico importante, de mostrar que aqueles ícones não eram tão poderosos e onipresentes assim, de que por trás da fachada divertida e amigável da publicidade corporativa havia um mundo de exploração e violência materializado naqueles logos.
Ou seja: o black bloc de Seattle inaugurou uma dimensão de violência simbólica que marcaria profundamente a tática a partir de então.
Daquele momento em diante, os black blocs, até então um instrumento basicamente de defesa contra a repressão policial, tornaram-se também uma forma de ataque – mas um ataque simbólico contra os significados ocultos por trás dos símbolos de um capitalismo que se pretendia universal, benevolente e todo-poderoso. Foi nesse contexto que a tática chegou ao Brasil.
Os primeiros black blocs no Brasil
Os acontecimentos de Seattle levaram grupos de militantes brasileiros a se articular em coletivos para construir no país o movimento de resistência mundial à globalização neoliberal. Assim surgiram os núcleos brasileiros da Ação Global dos Povos, uma rede de movimentos sociais surgida em 1998 que criou os Dias de Ação Global, articulações mundiais para organizar protestos simultâneos em várias partes do planeta contra as reuniões das instituições internacionais que sustentavam a globalização neoliberal.
O primeiro Dia de Ação Global que contou com ações no Brasil foi 26 de setembro de 2000, marcado contra a reunião do FMI em Praga. Neste dia, em São Paulo, um grupo de manifestantes atacou o prédio da Bovespa, o que gerou confronto entre policiais e ativistas. Na época, o incidente não ganhou destaque na imprensa e o termo “black bloc” não foi mencionado, mas a lógica da ação desses militantes, em sua maioria ligados ao movimento anarcopunk de São Paulo, seguia a lógica da tática black bloc.
O segundo Dia de Ação Global que contou com atos no Brasil foi 20 de abril de 2001. Em São Paulo, foi organizada uma manifestação na Avenida Paulista como parte dos protestos convocados em todo o mundo contra a Cúpula das Américas, reunião realizada na cidade de Quebec, no Canadá, na qual líderes dos países do continente discutiram a criação da Área de Livre Comércio das Américas (Alca). Esta foi a primeira vez que uma manifestação contra a globalização neoliberal realizada no Brasil ganhou as manchetes da imprensa nacional.
Em São Paulo, um grupo entre os manifestantes adotou a mesma tática do black bloc de Seattle, em 1999, e atacou símbolos capitalistas na Avenida Paulista, como uma loja do McDonald´s. Mais uma vez, a imprensa nacional não fez referência ao termo “black bloc”, mas a tática utilizada na Paulista foi claramente a dos blocos negros. O curioso é que a mesma edição de 21 de abril de 2001 da Folha de São Paulo que noticia o protesto na Paulista traz uma matéria do enviado do jornal ao Canadá sobre o “bloco de preto” que atuou em Quebec.
O debate sobre a violência
Mas se nessa época a imprensa brasileira não usava o termo “black bloc” na cobertura dos protestos no país, ele já era bem conhecido da mídia internacional, principalmente da europeia e da norte-americana.
E ganhou ainda mais projeção durante as manifestações contra a reunião do G8 realizada em Gênova, na Itália, em julho de 2001.
O Dia de Ação Global marcado para 20 de julho de 2001 foi a maior mobilização do gênero até então e nesse dia as ruas de Gênova foram tomadas por mais de 300 mil pessoas, entre as quais marchou o maior black bloc organizado até então.
O grau de confronto com a polícia atingiu um novo patamar e um jovem italiano que fazia parte daquele black bloc, chamado Carlo Giuliani, foi morto pela repressão com um tiro na cabeça.
Gênova marcou um divisor de águas para a tática black bloc e para o chamado “movimento antiglobalização” como um todo.
Assim como acontece hoje no Brasil, o debate sobre o uso da violência nas manifestações – mesmo que apenas contra lojas e outros objetos inanimados – criou uma divisão entre ativistas “violentos” e “pacíficos” que contribuiu muito para a desmobilização do movimento como um todo dali para frente.
A semelhança do debate sobre o black bloc na época e agora é impressionante.
Quem quiser conhecer um pouco das discussões e das respostas de adeptos da tática black bloc na época pode encontrar uma boa seleção de textos de ativistas reunidos na coletânea “Urgência das ruas – Black block, Reclaim the Streets e os Dias de Ação Global”, organizada por um anônimo que se identifica como Ned Ludd (referência a um dos líderes do Movimento Ludita na Inglaterra do século XIX) e publicada no Brasil pela editora Conrad.
Com o fim dos grandes protestos contra a globalização neoliberal, o debate sobre os black blocs saiu das manchetes da grande imprensa internacional e brasileira.
A tática continuaria a ser adotada em manifestações na Europa e nos Estados Unidos nos anos seguintes, e militantes libertários no Brasil certamente sabiam muito bem o que eram os black blocs, mas o tema nunca repercutiu fora dos meios militantes.
E assim foi até que começaram as manifestações contra o aumento das tarifas de ônibus e metrô convocadas pelo Movimento Passe Livre em junho de 2013.
As manifestações de junho
Assim como os black blocs, o MPL estava longe de ser uma novidade no Brasil, mas, pela primeira vez, ambos começaram a ganhar um protagonismo inédito conforme as manifestações cresciam.
Até o dia 13 de junho, aquela era uma mobilização muito parecida com as que o MPL vinha organizando desde 2004.
Era um movimento restrito a um núcleo militante que reunia ativistas do próprio MPL, integrantes de partidos e coletivos libertários – alguns dos quais formaram black blocs durante os atos.
A violência policial contra a marcha do dia 13 de junho em São Paulo, no entanto, mudou tudo.
Os ataques contra jornalistas e jovens da classe média e da elite indignaram uma parcela da população normalmente avessa à militância política.
O choque diante da brutalidade da PM de São Paulo e a simpatia por uma causa que se tornou quase uma unanimidade – barrar o aumento das tarifas do transporte público na cidade – “levaram o Facebook para a rua”, para usar a feliz expressão que o jornalista Leonardo Sakamoto usou para definir a marcha de 17 de junho.
De repente, centenas de milhares de brasileiros se deram conta de que podiam, de alguma forma, usar as ruas para expressar sua insatisfação com algum aspecto da política brasileira.
Em um desses raros momentos da história nacional, o cidadão comum percebeu que a política não é propriedade privada dos políticos profissionais, e se deu conta de que ela se faz no dia a dia, na rua, em vários lugares. De vez em quando, até no Congresso.
As manifestações de 17 de junho abriram a caixa de Pandora, e gente de absolutamente todas as tendências políticas foi para a rua. Por um breve momento, a elite mais reacionária marchou ao lado do militante mais revolucionário. Mas em algum momento a contradição teria de aparecer.
As contradições de junho
A partir de agora, minhas observações se restringem ao que aconteceu na cidade de São Paulo, pois foi o único lugar onde acompanhei as manifestações in loco, e não acho que os movimentos nas várias partes do Brasil possam ser analisados sob uma única perspectiva.
Em cada cidade ou região teve especificidades que não sou capaz de avaliar.
Quem esteve na Paulista no dia 18 de junho já podia farejar, de certa forma, o que aconteceria no dia 20.
Aquilo era a Revolução Francesa. As reivindicações mais contraditórias conviviam nos cartazes empunhados por grupos sociais muito diferentes entre si, muitos deles antagônicos.
O pessoal das bandeiras verde-amarelas e dos slogans moralistas era claramente uma elite que tinha pouco ou nada a ver com os anarquistas e trotskistas que circulavam com palavras de ordem anticapitalistas.
A direita, a extrema-direita e a extrema-esquerda já estavam ali. Faltava a esquerda moderada, dos partidos no poder. E, quando ela apareceu, a bomba-relógio explodiu.
Pode-se acusar o PT de muitas coisas por ter convocado sua militância a ir para a Paulista no dia 20 de junho, mas uma coisa é certa: aqueles militantes tinham todo o direito de estar lá.
O problema é: vai explicar isso para a elite raivosa que, estimulada pelas mobilizações, passou a expor em praça pública seu ódio pelo PT…
Olhando em retrospecto, o ataque fascista aos militantes partidários no dia 20 de junho parece um desdobramento natural do que vinha acontecendo: com a revogação do aumento das tarifas, a única bandeira que unificava aquela multidão de opostos deixou de existir.
Sem o elemento unificador, apareceram as profundas contradições que já existiam entre os inúmeros grupos que saíram às ruas.
A elite queria a cabeça do governo do PT, a extrema-esquerda queria a revolução social, e, espremida entre os dois extremos, sobrou para a esquerda moderada o papel de defender o status quo, sobrou para a esquerda moderada a posição conservadora – no mais literal sentido da palavra.
Os meses seguintes só vieram confirmar a tendência que apareceu pela primeira vez no 20 de junho em São Paulo.
A grande mobilização que prometia unificar todos os setores da esquerda para responder ao ataque fascista virou um ato dominado pelas centrais sindicais e seus militantes profissionais, no dia 11 de julho, que foi incapaz de atrair o cidadão comum que saíra às ruas em junho.
As convocatórias da direita contra a corrupção se tornaram pequenos atos isolados, dissipando o medo de alguns militantes da esquerda de que as manifestações de junho pudessem abrir caminho para uma escalada fascista.
Por fim, a extrema-esquerda se deu conta de que o mar humano que saiu às ruas em junho não era tão anticapitalista assim, e passou a organizar também seus atos isolados.
Essas três tendências ficaram claras nas manifestações do 7 de setembro em São Paulo.
Pela manhã, marcharam os movimentos sociais ligados à esquerda moderada, que, em sua maioria, continuam defendendo o governo do PT.
À tarde, duas convocatórias distintas dividiram o vão livre do Masp: de um lado, um grupo formado pela elite de direita e extrema-direita, que era, supostamente, contra todos os partidos, mas que destilava seu ódio de classe contra o PT; do outro, um black bloc que também se dizia contra todos os partidos, mas que mirava prioritariamente no governo Alckmin, do PSDB.
Os black blocs no Brasil de hoje
Isso nos traz de volta ao nosso tema central: os black blocs.
Aqui é preciso abrir um pequeno parêntese para falar do Rio de Janeiro, pois este foi o único lugar em que os protestos de fato continuaram com força depois da revogação do aumento das passagens.
Acontece que, além da tarifa, lá havia outra bandeira que unificava o movimento: a oposição ao governador Sérgio Cabral.
E talvez seja por isso mesmo que lá os black blocs tenham se tornado mais fortes e atuado de forma mais coerente.
Vale lembrar que o movimento contra Sérgio Cabral girou em torno de uma ocupação urbana – o acampamento montado em frente à residência do governador – e, não por acaso, os black blocs cariocas desempenharam um importante papel de autodefesa do movimento contra a repressão policial.
Ou seja: justamente no momento em que caiu na boca do povo no Brasil, a tática black bloc estava voltando às origens, atuando como uma organização popular de defesa dos movimentos sociais.
Na minha opinião, a situação no Rio ajuda a explicar porque em São Paulo os black blocs nunca chegaram a contar com o apoio que tiveram na capital fluminense.
Em São Paulo, a partir do fim de julho os black blocs se formaram como uma força isolada, inicialmente em solidariedade aos cariocas, e depois lançando uma campanha contra o governador paulista, Geraldo Alckmin.
Ao se voltar contra Alckmin, os black blocs paulistas poderiam se articular com a esquerda moderada, por terem um inimigo comum, mas a incompreensão mútua impossibilitou a aproximação.
E aqui chegamos ao x da questão: a desconfiança mútua entre duas culturas militantes distintas, mas que compartilham muitos objetivos, está acabando com as possibilidades de aproveitar a incrível energia social gerada pelas manifestações de junho para construir novos espaços de debate e mobilização que poderiam abrir perspectivas inéditas de ação política no Brasil.
Não se trata aqui de querer apagar as diferenças entre a cultura de militância partidária – baseada na hierarquia, na centralização e na estabilidade – e a cultura libertária que está na base da tática black bloc – horizontal, descentralizada e instável – mas de propor que, apesar de suas diferenças, estes dois setores podem trabalhar juntos em prol de causas que os unem.
Por uma assembleia das ruas
O ponto de partida para essa aproximação é o diálogo aberto entre as partes, reconhecendo as diferenças e os equívocos de parte a parte, mas buscando achar formas de cooperação que respeitem as especificidades de cada um.
Os momentos em que os black blocs foram mais fortes foram justamente aqueles em que atuaram no seio de movimentos mais amplos, que englobavam grupos com táticas muito diferentes, todos lutando por causas comuns.
E esta é, na minha opinião, uma das fraquezas dos black blocs hoje (pelo menos em São Paulo): uma certa fetichização da tática, tomando a formação de blocos negros como um fim em si mesmo.
Olhando para a história dos black blocs, me parece que os melhores momentos dessa tática foram quando ela serviu de instrumento para um movimento mais amplo.
E esses momentos foram marcados por avaliações de que tipo de ações serviam mais aos fins buscados.
Por exemplo: a condenação, a priori, da destruição de propriedade privada corporativa me parece absurda por parte de qualquer um que sonhe com uma sociedade mais igualitária.
No entanto, cabe questionar, sim, se essa tática é a mais acertada em um determinado momento da luta.
O ataque contra símbolos das grandes corporações globais promovido pelo black bloc de Seattle fazia todo sentido no seio de um grande movimento que desafiava, justamente, o poder dessas grandes corporações.
Mas será que o simples ataque a agências bancárias e concessionárias de carros de luxo faz sentido em mobilizações que não passam de algumas centenas de pessoas sem uma bandeira clara, em uma São Paulo cuja população tende a repudiar esse tipo de ação? Para que serve essa ação?
Os black blocs têm força social suficiente para sustentar uma mobilização sem buscar apoio de outros setores? Na minha opinião, a resposta para todas essas perguntas, hoje, é “não”.
Por outro lado, as organizações tradicionais da esquerda, como partidos e sindicatos, claramente não estão conseguindo se sintonizar com as pessoas que saíram às ruas em junho justamente por insistirem em restringir suas mobilizações aos seus próprios quadros, olhando com desconfiança para qualquer um que não seja filiado a uma organização formal.
Ao fazerem isso, reproduzem no nível da rua a mesma lógica de quem está no poder: a ideia de que a política é um assunto para iniciados e especialistas, da qual só podem participar aqueles devidamente credenciados por organizações estabelecidas, sejam elas partidos, sindicatos ou movimentos sociais.
Ora, foi justamente isso que levou as pessoas às ruas em junho: a revolta contra o distanciamento entre aqueles que formulam a política e aqueles que apenas sofrem suas consequências.
Os gritos histéricos de “sem partido” podiam ter uma conotação fascista em alguns casos, mas eles também expressavam esse mal-estar profundo de uma política que se vê como cada vez mais autônoma do resto da população.
O grito de junho foi, acima de tudo, um grito contra o autismo da política institucional no Brasil – e nesse autismo se incluem absolutamente todos os partidos com alguma representação parlamentar (com exceção, talvez, do PSOL, cujos militantes estavam nas ruas desde o começo).
Foi um grito contra o abismo que existe entre a política institucional e o cidadão comum, criado por políticos profissionais (de todos os partidos) que colocam o jogo da politicagem acima da defesa de bandeiras concretas de interesse da população.
Nesse sentido, mesmo o combate à corrupção, que em geral tem um viés claramente conservador, se torna parte de uma crítica mais ampla a um sistema representativo que, cada vez mais, é ditado apenas pelos interesses dos representantes, e não dos representados.
Ao insistir em mobilizações restritas aos iniciados, as organizações tradicionais da esquerda reproduzem a barreira que afasta o cidadão comum da política, e por isso são hostilizadas por aqueles que se sentem excluídos da política.
Os black blocs, por outro lado, oferecem justamente o contrário: a possibilidade de qualquer cidadão participar da mobilização política sem necessidade de filiação prévia.
Enquanto partidos e sindicatos são vistos como uma porta fechada para os não iniciados, os black blocs são vistos como uma porta aberta para a política.
Disso decorre, em grande parte, a atração que vem exercendo sobre muitos jovens que estão saindo às ruas pela primeira vez na vida.
Muitas vezes essa distinção leva alguns a se apegarem a um fetiche que opõe “velhas” e “novas” formas de organização, como se fossem irreconciliáveis.
A pergunta mais importante hoje, na minha opinião, é: seria possível romper com essa visão binária e criar espaços onde as diferentes lógicas pudessem dialogar?
Acredito sinceramente que sim. Até porque isso já aconteceu no passado.
Em Gênova, por exemplo, o black bloc optou por marchar ao lado dos Comitês de Base (Cobas) dos sindicatos italianos; na Alemanha, os black blocs muitas vezes marcharam ao lado dos sindicados no Primeiro de Maio; e, aqui mesmo no Brasil, lembro perfeitamente de militantes do PSTU que participavam das reuniões da Ação Global dos Povos para a organização dos atos em São Paulo.
Ou seja: o que nos falta são espaços de articulação que abram espaço para o diálogo entre culturas militantes distintas, mas que compartilham certos objetivos.
O que nos falta é um fórum de lutas, uma assembleia das ruas.
Um espaço assim, que não fosse controlado por nenhuma organização, mas que estivesse aberto aos militantes de qualquer organização e a quem não é filiado a nenhuma delas, poderia servir de convite à participação dos não iniciados e agregar a experiência dos iniciados, abrindo a possibilidade de diminuir a desconfiança mútua e abrir caminho para uma cooperação entre grupos que adotam táticas distintas, mas que podem ser complementares.
Outra condição fundamental para que um espaço assim pudesse florescer é que não se pautasse pela lógica eleitoral.
Uma das razões do desgaste da política institucional no Brasil (e em várias outras partes do mundo) é a necessidade de reduzir todas as discussões ao calendário eleitoral.
Uma verdadeira assembleia das ruas seria um espaço de discussão e formulação de um projeto popular para a cidade, para o estado e para o país, que articulasse seus integrantes em torno de bandeiras comuns, mas que não se colocasse a serviço de campanhas eleitorais de A,B ou C.
Um espaço que pudesse se tornar um poder constituinte da multidão, definindo o que o povo quer do seu governo. Caberia ao governo de turno, a partir daí, lidar com essas demandas.
Os zapatistas, no México, já nos forneceram um modelo desse tipo de organização ao lançarem, em 2006, sua “Outra campanha”, uma mobilização nacional que pretendia ir além do calendário eleitoral e formular um verdadeiro projeto popular independente das ambições dos partidos da ordem.
É claro que em um espaço como esse a participação de militantes partidários e sindicais seria mais do que bem vinda, mas sempre como indivíduos, e não como representantes de suas organizações, o que exigiria daqueles mais acostumados com as formas tradicionais de militância um esforço para abrir mão da ambição de ditar a linha política a ser seguida por todos os participantes dessa articulação.
Por outro lado, exigiria dos adeptos da tática black bloc um esforço para coordenar suas ações com as dos demais grupos, muitas vezes se abstendo de realizar ataques ao patrimônio público e privado quando esse tipo de ação puder comprometer outros grupos que adotam táticas distintas.
Acredito, sinceramente, que a criação de um espaço plural como este poderia diminuir o fosso entre a “velha” e a “nova” esquerda e abrir novas e estimulantes perspectivas para a luta popular no Brasil.
Mas, para isso, seria preciso um exercício de compreensão mútua que fosse além dos preconceitos e buscasse aprender a respeitar a diferença e a diversidade, vendo nela não uma fraqueza, mas uma força do movimento.
*Bruno Fiuza é jornalista, historiador e mestrando em História Econômica na Universidade de São Paulo

06 outubro 2013

Por que a Rede Globo ataca o Sepe e os partidos de esquerda?

Cabral, João Roberto Marinho, Pezão, Paes e Dilma em inauguração 
do Museu de Arte do Rio, obra da Fundação Roberto Marinho
(Foto: Tânia Rego/ABr)

No dia 3 de outubro, o jornal O Globo publicou uma matéria e um editorial atacando o Sindicato dos Profissionais da Educação (Sepe) e o PSTU. Na referida matéria, o jornal questiona a representatividade do sindicato, chama a categoria de “massa de manobra” e faz insinuações de que a entidade estaria sendo usada para fins políticos eleitorais, além de culpar o PSTU pelo fechamento da General Motors em São José dos Campos no início do ano.
 
Não é novidade, para todo profissional de educação do estado ou do município, que o legítimo representante da categoria é o Sepe. A representatividade desse sindicato é fruto da luta em defesa da educação pública, em anos e anos de enfretamento duro com os governos de turno, e não está ameaçada pelo burocratismo de qualquer organização de cartório como o Uppes, sindicato moribundo, momentaneamente ressuscitado pelo jornal O Globo.
 
Ao final da reportagem “Sepe teve registro suspenso na Justiça do Trabalho”, o jornalista Orivaldo Perin afirma que Vera Nepomuceno foi candidata a vice-prefeita do Rio em 2006. É verdade. Vera é militante do PSTU há 15 anos. Durante anos, fez parte da coordenação geral do Sepe e hoje é a diretora de imprensa do sindicato.
 
Isso não altera, em absoluto, o caráter independente do Sepe em relação aos partidos. Suas decisões são tomadas e deliberadas nas instâncias democráticas da entidade: reuniões da diretoria (que são abertas à categoria), assembleias e congressos. É um desrespeito aos profissionais da educação que O Globo os chame de “massa de manobra”, como se fossem pessoas idiotas e sem discernimento.
 
Professora e militante incansável em defesa da sua categoria e dos trabalhadores em geral, Vera é reconhecida por muitos professores e funcionários de escolas não só por sua presença nos carros de som, mas também porque a viram muitas vezes em suas escolas, quando requisitaram a presença do sindicato e encontraram em sua figura o apoio que precisavam, que muitas vezes era no sentido de organizar a luta na própria escola. O PSTU tem muito orgulho de apresentar candidaturas que representam a luta dos trabalhadores, o que está comprovado pelo trabalho de nossos atuais vereadores eleitos, Cleber Rabelo e Amanda Gurgel. A professora Vera Nepomuceno é mais um valioso exemplo disso.
 
Não aceitamos, vinda da Rede Globo, a acusação de que os filhos dos trabalhadores do Rio de Janeiro podem sofrer consequências irrecuperáveis em sua educação por obra dos partidos de esquerda, entre eles o PSTU. A atual greve da educação se preocupa, exatamente, com a qualidade de ensino nas escolas públicas do estado e do município, que cai vergonhosamente a cada ano em função do descaso com que os governos tratam o tema.
 
Consequencia direta deste processo é a implantação de programas como o Autonomia Carioca – e congêneres por todo o Brasil – que promete corrigir a defasagem idade-série dos alunos atrasados, através da duvidosa metodologia do Telecurso – marca registrada da Fundação Roberto Marinho, braço “filantrópico” das organizações Globo –, e que rende aos Marinho imensas quantias de dinheiro público ano após ano.
 
Ao PSTU interessa apenas a luta por uma educação melhor, num país justo e livre. Aos cofres das Organizações Globo, por outro lado, é conveniente que a educação se afunde cada vez mais neste histórico processo de sucateamento.
 
A atual greve, a propósito, escancarou e denunciou as negociatas da Fundação Roberto Marinho com a Secretaria de Educação do Rio de Janeiro. Segundo página da Controladoria Geral do Município – Rio Transparente, de 2009 a 2013, foram repassados à Fundação Roberto Marinho R$ 30.183.059,73. Isso explica porque os canais de mídia da família Marinho tentam desesperadamente desqualificar o Sepe e a greve da educação municipal e estadual.
 
Nunca é demais lembrar que, ainda em 2010, R$ 24 milhões do Fundo Estadual de Conservação do Meio Ambiente (Fecam), que deveriam ser destinados a obras de contenção de encostas, foram repassados por Sérgio Cabral à Fundação Roberto Marinho, o que resultou nas trágicas enchentes, com milhares de mortos na Região Serrana do estado. As ligações entre a Globo e os governos, como se vê, não são exatamente uma novidade.
 
Por fim, é necessário fazer-se notar o alento que é, para o PSTU, constatar uma vez mais que nós estamos, na luta pela educação e em todas as lutas dos trabalhadores no Brasil e no mundo, do lado oposto ao das organizações Globo. É motivo de grande satisfação ratificar, de forma tão contundente, a certeza de que nós estamos do lado certo: apoiando e lutando pelo povo trabalhador. À Rede Globo, novamente cabe seu papel histórico de defender os patrões, os corruptos, os genocidas e toda sorte de figuras nocivas aos interesses das maiorias.
 
Repudiamos veementemente estes recentes ataques ao Sepe e aos partidos de esquerda. Os educadores foram fisicamente atacados na terça-feira (1º/10), e agora estão sendo atacados através dos seus próprios instrumentos de luta. Celebramos, com todas as nossas energias, a disposição dos trabalhadores das escolas em levar adiante esta indispensável luta por uma sociedade melhor.
 
Viva a greve da educação! E como diz a palavra de ordem cantada a plenos pulmões na manifestações: “O povo não é bobo, abaixo a Rede Globo!”

04 outubro 2013

Desaforo! Banqueiros oferecem 7,1% de reajuste.

Desaforo! Banqueiros oferecem 7,1% de reajuste nos salários e demais verbas. Nova proposta prevê também reajuste de 7,5% no piso e aumento de 10% na parte fixa e no teto da parcela adicional da PLR.

Para o Sindicato dos Bancários de Bauru e Região/CSP-Conlutas, a proposta é um tapa na cara dos trabalhadores que estão de braços cruzados há 16 dias. Assim, defendemos a continuidade da greve, que já é a maior dos últimos 20 anos.


A assembleia para deliberar sobre a nova proposta acontece segunda-feira no fim da tarde. Antes disso, A GREVE CONTINUA! Mais detalhes, em breve.