20 fevereiro 2025

A extrema direita: de onde vem, o que representa, para onde está indo, como combatê-la!

Written by LIT-QI Felipe Alegria, do Corriente Roja (partido-irmão do PSTU no Estado Espanhol) A vitória de Trump na principal potência imperialista destaca a força adquirida pela extrema direita na esfera internacional, com fortes posições já conquistadas na Europa e na América Latina. O avanço da extrema direita é um fenômeno global que corresponde ao atual momento histórico de crise do capitalismo. Com amplos vínculos internacionais entre si, sua ascensão está em pleno desenvolvimento, mostra diferentes expressões nacionais e, como um fenômeno em transição, apresenta desenlaces em aberto que dependerão do curso dos acontecimentos. A extrema direita de hoje é um fenômeno que, embora tenha semelhanças, não é o fascismo e o nazismo das décadas de 1920 e 1930, pois se move em coordenadas históricas diferentes. No entanto, é necessário considerar os elementos comuns entre os dois fenômenos e sua inter-relação. E, é claro, é necessário levar em conta as lições do passado para combatê-lo e derrotá-lo. Faça uma doação A extrema direita está se desenvolvendo fortemente nos países imperialistas ocidentais (EUA, Europa) e em países semicoloniais como a América Latina (Argentina, Brasil, El Salvador…) ou a Índia (Indutva), onde os regimes democráticos liberais estão em crise. Esse não é o mesmo fenômeno das ditaduras militares na Ásia ou na África, que dependem quase exclusivamente de aparatos estatais de repressão. Na Rússia de Putin, por sua vez, é um regime bonapartista autoritário, uma ditadura que conta com a simpatia de grande parte da extrema direita europeia, que a vê como um modelo a ser seguido. 1. Um movimento que vem ganhando força desde a crise global de 2008 O crescimento da extrema direita atual é um fenômeno histórico relativamente novo, surgido a partir da crise capitalista mundial de 2008, ou seja, a partir do momento em que, após quase 30 anos de marcha triunfal, a globalização imperialista entrou em crise e revelou seus efeitos sociais devastadores. O triunfo da globalização neoliberal não teria sido tão abrangente se não tivesse associado à restauração do capitalismo na China, na Rússia e na Europa Oriental. Foi essa restauração que permitiu que a globalização ganhasse um impulso tão colossal. Ela proporcionou novas e enormes áreas para o acúmulo de capital e deu origem a grandes realocações industriais. Apoiando-se na superexploração da classe trabalhadora chinesa, permitiu uma redução geral dos salários e um processo de desmantelamento generalizado das conquistas trabalhistas e sociais em todo o mundo. Isso possibilitou o avanço na fragmentação e na terceirização da força de trabalho e ampliou o trabalho informal e a marginalização social de setores inteiros da classe trabalhadora a extremos sem precedentes. Essas conquistas do capitalismo também foram apoiadas pelo triunfo ideológico do neoliberalismo, que apresentou a restauração capitalista como o fracasso histórico do socialismo. Embora os regimes em que o capitalismo foi restaurado, ou seja, China, Rússia e Europa Oriental, fossem apresentados como socialistas ou comunistas, não passavam de um arremedo lamentável do socialismo. Ao contrário da Revolução Russa de 1917, que abriu entre as classes trabalhadoras do mundo a perspectiva e a esperança de alcançar o socialismo, a restauração capitalista dos anos 1980-90 questionou essa perspectiva socialista e contribuiu fortemente para a desorganização da classe trabalhadora. Esse triunfo ideológico neoliberal não foi, entretanto, mérito exclusivo dos ideólogos ultraliberais (e das igrejas evangélicas associadas). Os partidos socialistas (esquerda burguesa socioliberal), que administravam a globalização neoliberal, bem como o pós-modernismo, que nas últimas décadas é hegemônico na nova esquerda ocidental que surgiu nos últimos anos, também contribuíram decisivamente. Os exemplos incluem o Syriza da Grécia, o Podemos espanhol, o PSOL do Brasil, a Refundazione da Itália e certas correntes de oposição à opressão racial e de gênero. Os partidos socialistas primeiro abandonaram seu socialismo evolucionista em favor do Estado de bem-estar social capitalista e depois se mudaram com armas e bagagens para o socioliberalismo (sua versão particular do neoliberalismo). No caso dos pós-modernistas, o marxismo tornou-se uma meta-narrativa ultrapassada a ser substituída pelo pensamento cético. Para o pós-modernismo, a realidade não é algo objetivo que possa ser conhecido, mas uma construção de linguagem. A sociedade não se baseia no domínio do capital e da exploração e não há classe operária, mas inúmeras opressões com novos sujeitos sociais que precisam ser organizados separadamente. O poder está em toda parte e não há sentido na luta para tomá-lo. A luta por um regime socialista não tem sentido e deve ser substituída por uma batalha difusa por uma “democracia radical”. A extrema direita surgiu como uma opção política após a eclosão da crise global de 2008, apoiada pelo descrédito e pelo ressentimento social provocados pelos governos da esquerda burguesa socioliberal (partidos socialistas) e, por extensão, pelo descrédito alcançado pelos regimes de democracia liberal nos quais esses governos se assentavam. Sua evolução, no entanto, ocorreu alguns anos mais tarde, após intensa decepção popular diante de grandes lutas que se mostraram incapazes de ir além do capitalismo, pois careciam de organização e, sobretudo, de direção para fazê-lo. No caso da Europa, foi depois de grandes revoltas dirigidas por forças que se apresentavam à esquerda dos partidos socialistas, mas que nunca aspiraram a romper com o capitalismo ou sair da estrutura dos regimes democráticos liberais. Foi após o fiasco do Syriza, que deixou de ser a grande esperança do povo grego para ser seu carrasco em nome da UE; do Podemos, que deixou de ser o porta-estandarte da rebelião popular na Espanha para ser um sócio menor do PSOE; após o desencanto da juventude britânica com Corbyn ou da juventude portuguesa com o Bloco de Esquerda, transformado em sócio parlamentar submisso do PS. Na América Latina, a ascensão da extrema direita seguiu o desencanto da primeira onda de governos progressistas (Néstor Kirchner e Cristina, Lula, Dilma…). No calor dessas desilusões, a ultradireita, fortemente apoiada pelas redes sociais convertidas em grandes plataformas de desinformação (fakenews) e doutrinação paralelas à grande mídia, apresentou-se como a “representante do povo contra as elites e o sistema” (dentro do qual colocam em lugar de destaque à esquerda burguesa oficial), ganhando peso considerável na pequena burguesia e entre importantes setores de trabalhadores, em especial os mais precários e explorados. Hoje, na França, de acordo com as pesquisas de opinião, o Rassemblement-National (RN) de Marine Le Pen tem o voto de 53% dos trabalhadores do país e é também o partido mais votado na França. Algo semelhante ocorre como o Partido da Liberdade da Áustria (FPÖ). Na Argentina, Milei foi eleito presidente em 2023 com 55,69% dos votos, e no Brasil, em 2022, Bolsonaro quase venceu com 49,17% dos votos, 1,66 pontos atrás de Lula (50,83%). Nos EUA, Trump conquistou o apoio eleitoral de uma parte substancial dos trabalhadores brancos empobrecidos nos estados do RustBelt (Cinturão da Ferrugem), mas também de importantes parcelas do voto latino e negro. Um fator adicional que teve um forte impacto na ascensão da extrema direita, especialmente na Europa, foi a crise migratória de 2015, consequência da guerra da Síria, com a chegada de uma enorme massa de refugiados. Somente na Alemanha entraram mais de um milhão. O processo continuou mais tarde, após a invasão russa, com o afluxo de vários milhões de ucranianos em 2022. A angústia de setores da população face a este afluxo maciço, coincidindo com a crescente privação de amplos setores da população, foi amplamente explorada pela extrema direita europeia. O mesmo que Trump faz nos EUA. A extrema direita também foi capaz, durante a pandemia de 2020, de capitalizar a rejeição de amplos setores da população ao conluio dos governos com as grandes empresas farmacêuticas e seu despotismo. 2. A ideologia da extrema direita A ascensão da extrema direita baseia-se em uma combinação de ultraliberalismo, conservadorismo extremo, racismo e xenofobia, patriotismo e um forte impulso autoritário. 2.1 Ultra-liberalismo O ultraliberalismo foi articulado após a Segunda Guerra Mundial por intelectuais como Friedrich Hayek, Von Mises, Milton Friedman… Entretanto, foi somente a partir da década de 1970 que, substituindo os neokeynesianos, ele se expandiu e converteu-se na ideologia econômica dominante no Ocidente como um todo. Em particular, desde que Reagan se tornou presidente dos Estados Unidos (1981-1989) e Thatcher chefe do governo britânico (1979-1990). Desde então, o ultraliberalismo tem sido um companheiro inseparável da globalização imperialista. Nos EUA, o ultraliberalismo foi combinado com um profundo conservadorismo sociorreligioso e um forte patriotismo imperialista, resultando em uma fusão entre o movimento ultraliberal e o movimento evangélico. Essa fusão, já evidente na era Reagan, continuou e se aprofundou desde então, e agora é uma dos principais pontos de apoio de Trump. As forças de extrema direita, quando falam de socialismo ou comunismo, não estão se referindo ao socialismo de Marx e Engels, Rosa Luxemburgo, Lênin ou Trotsky. Pelo contrário, para a extrema direita, o socialismo são as ditaduras capitalistas da Venezuela, Nicarágua ou Cuba. E, além disso, o socialismo é qualquer intervenção estatal na economia. Seus ideólogos identificam o socialismo com a política socioliberal dos partidos socialistas ou do PT de Lula ou com a esquerda neorreformista pós-moderna do Podemos, Syriza ou Petro na Colômbia. Eles até identificam como socialista ou comunista uma parte da burguesia, que “depende do Estado”. Chegaram ao ponto de denunciar como socialista a Biden e o próprio Partido Democrata, o genuíno representante do grande capital americano. Chegam ao ponto de incluir a própria esquerda revolucionária nessa mistura. É aparentemente contraditório o fato de que, apoiando-se na devastação social causada pelo neoliberalismo, a ultradireita internacional defenda o ultraliberalismo mais cru como solução. Pregam um liberalismo utópico que nunca existiu na história, no qual reinaria a livre concorrência perfeita, organizada pelo mercado e sem nenhuma intervenção do Estado[1]. São defensores da luta contra o Estado, que deve ser reduzido ao mínimo, embora, é evidente, o Estado deva manter a mais estrita ordem pública, assegurar o crescente poder militar e garantir a mais absoluta liberdade de empreendimento diante de qualquer demanda sindical, social ou ambiental. São defensores da desigualdade social, que consideram a mãe do progresso, e se opõem a todos os ideais igualitários. Assumem a necessidade de uma taxa natural de desemprego e são a favor do abandono das medidas sociais do Estado de Bem-estar social[2]. A solução, para eles, é puramente individual e consiste no “empreendimento empresarial” de cada indivíduo para enriquecer. Paradoxalmente, essa ideologia reacionária é justificada pela brutal precariedade das relações de trabalho, uma realidade predominante na qual os trabalhadores, especialmente os mais jovens, não têm mais esperança de um emprego fixo ou de uma aposentadoria. Então disseminam a ideia de que a solução é se tornar o próprio patrão, algo cujo verdadeiro significado é ser privado de todos os direitos. Um trabalhador escravo do aplicativo Uber seria um exemplo. O retrocesso generalizado dos serviços públicos de saúde, educação e transporte também mostraria que “o Estado é inútil” e que a solução deve ser individual. 2.2 Ultraconservadorismo Os evangélicos norte-americanos vincularam-se ao ultraliberalismo através da chamada teologia da prosperidade, que prega que não devemos nos preocupar com outra vida, mas sim em prosperar e enriquecer neste mundo. O enriquecimento individual seria um sinal de ser abençoado por Deus. Essa visão é complementada pela teologia do domínio, que defende que, quando alcançarem uma maioria socioeleitoral, devem impor um governo teocrático, regido pela “lei de Deus”. O movimento evangélico tem uma estrutura coordenada internacionalmente, com um centro nos EUA e um grande peso na América Latina, como os neopentecostais no Brasil, uma força de milhões, aliada de Bolsonaro e da extrema direita brasileira. De acordo com os pensadores de extrema-direita, os socialistas e marxistas há muito reconheceram que não podem prescindir do mercado capitalista[3] e converteram o socialismo na busca pelo controle do Estado sobre a economia e a sociedade, procurando tornar o Estado a única fonte de poder[4]. Para conseguir isso, eles precisam demolir os centros de poder legados pela cultura judaico-cristã, ou seja, a religião e a família tradicional, e, da mesma forma, também precisam ir contra a nação. A extrema direita, por outro lado, apresenta-se como a grande defensora dos valores cristãos: a família tradicional e a religião. Raivosamente antifeminista e contrária ao direito ao aborto, a extrema direita é defensora da família patriarcal, porta-estandarte do homem oprimido e radicalmente contrária aos direitos LGBT[5]. 2.3 Patriotismo Do ponto de vista dos ideólogos da extrema direita, os “socialistas” procuram destruir a nação ao promover um supra-estado global. Para isso, se aliam ao capital financeiro internacional, que busca a proteção do Estado contra a concorrência e do domínio global acima das fronteiras nacionais. Eles odeiam aqueles que definem como globalistas, são obcecados por personagens como o financista judeu Soros e se opõem à própria existência de órgãos supranacionais como a ONU. Os discursos dos diferentes partidos de extrema direita apelando a pátria se assemelham formalmente, mas há uma grande diferença entre a extrema direita dos países imperialistas e a dos países semicoloniais. No primeiro caso, temos partidos abertamente nacional-imperialistas, cada um em sua própria escala: são Trump com seu Make America Great Again (MAGA), RN, AfD, Reform UK ou Vox, levantando suas bandeiras supremacistas. Na América Latina, por outro lado, o patriotismo de Bolsonaro ou Milei é uma bagatela, incapaz de esconder sua completa submissão e rendição ao amo norte-americano. Na Europa, a extrema direita se declara eurocética, se não eurofóbica. Contrapõem a UE à soberania nacional de seus países, para a qual exigem um retorno de competências (“Menos Europa, mais pátria”), ao mesmo tempo em que se dividem entre si de acordo com seus interesses nacionais, por exemplo, sobre qual política adotar em relação a Putin. 2.4 Racismo e xenofobia contra imigrantes Atualmente, nos EUA e na Europa, encontramos uma situação explosiva, combinando uma intensa pressão migratória e uma forte deterioração das condições de vida dos setores mais pobres dos países anfitriões. A pressão migratória é provocada por situações de guerra (inclusive guerras não declaradas), pela pilhagem de países semicoloniais e pela seca e fome causadas pelo aquecimento global, o que os povos não tem nenhuma responsabilidade. Em 2022, de acordo com os cálculos do Financial Times, os imigrantes representavam 26% da população nos EUA, 47% na Suíça, 31% na Suécia, 30% na Áustria, 27% na França, 25% na Bélgica, 24% na Alemanha, 23% na Grã-Bretanha e 17,1% na Espanha. Na França, em 2021, 48% dos imigrantes eram africanos, 62% dos quais eram norte-africanos (Magreb). No Estado espanhol, estão divididos entre o Marrocos e a América Latina (com um forte crescimento dos sul-americanos nos últimos anos), embora a porcentagem de africanos negros também esteja aumentando. A Alemanha é o segundo país do mundo, depois dos EUA, em termos de número absoluto de imigrantes. A situação atual é muito diferente dos anos de ascensão da economia capitalista. Na Europa, até 1973, eram os governos dos países centrais que promoviam a imigração, sendo os principais fornecedores a Espanha, a Itália e a Grécia. Nos EUA, a imigração era igualmente favorecida. Agora vivemos a situação oposta, em que a campanha contra os imigrantes é a grande bandeira da ultradireita nos EUA e na Europa… e é, ao mesmo tempo, a prática da grande maioria dos governos democráticos. A defesa ultradireitista da nação, com características supremacistas, se apoia na teoria da conspiração da Grande Substituição, segundo a qual a imigração faz parte de um plano globalista para suplantar a população nativa. No caso da Europa, essa Grande Substituição acabaria com a cultura judaico-cristã e a substituiria por uma civilização islâmica. A solução seria, então, a deportação de milhões de pessoas e o fechamento das fronteiras, conforme proposto pelo AfD, por outros na Europa e por Trump nos EUA. 2.5 Negacionismo climático Associada aos lobbies dos hidrocarbonetos e do agronegócio e envolta na bandeira da livre iniciativa, a extrema direita[6] questiona a própria existência da mudança climática. Nos EUA, Trump está de volta com o slogan “Drill, baby, drill”. Na Europa, os governos e a extrema direita contaram com as mobilizações dos agricultores europeus (em sua maioria liderada pelos grandes agronegócios, que usaram o descontentamento dos pequenos e médios agricultores levados à ruína) para se opor a quaisquer medidas de mitigação climática, incluindo o diluído “Pacto Verde” europeu. No Brasil, a extrema direita está associada ao agronegócio que está saqueando o país. 2.6 Sionismo Uma das características marcantes dos evangélicos e dos cristãos neopentecostais é a defesa do Renascimento de Israel, que consideram como uma condição para a Segunda Vinda de Cristo e a Salvação do Milênio. Com base em citações bíblicas, eles justificam a adesão incondicional ao sionismo e às políticas genocidas de Israel e exaltam Netanyahu como uma reencarnação do rei Davi bíblico. Mas, além dos evangélicos, todas as organizações de extrema direita do mundo, sem exceção, estão absolutamente alinhadas com o sionismo, que, por sua vez, tem o apoio criminoso da maioria esmagadora dos governos do mundo. O apoio incondicional da extrema direita ao sionismo é encontrado em partidos que têm suas origens históricas em partidos fascistas (Fratellid’Italia, FPÖ ou RN), bem como em partidos mais recentes, como a extrema direita holandesa ou o próprio Milei. Uma boa parte destes partidos combina sua total adesão ao sionismo com um claro tom antissemita, algo que não deveria nos surpreender, considerando as coincidências ideológicas históricas do sionismo e o nazismo e seu apoio político mútuo na década de 1930[7]. 3. Uma reação burguesa que responde às atuais necessidades históricas do grande capital A ultradireita é a reação burguesa à atual crise do capitalismo e da ordem mundial, em circunstâncias em que o grau de oligopolização da economia mundial é gigantesco, enquanto a classe trabalhadora sofreu retrocessos consideráveis em seus direitos, consciência e organização. Os grandes capitalistas não precisam hoje, dado o grau de desorganização e a ausência de partidos revolucionários com influência de massa, impor um regime fascista de terror como o das décadas de 1920 e 1930, quando a memória da Revolução de Outubro de 1917 estava viva, existia uma grande agitação social e política, com grandes partidos e sindicatos operários de massa, e quando as burguesias estavam se preparando para a guerra. No entanto, estamos diante de um fenômeno em transição, com conclusões em aberto, onde, como Leon Trotsky disse na década de 1930, não há muros intransponíveis entre semi-bonapartismos, bonapartismos e fascismos. Se as circunstâncias mudassem e entrássemos em cenários de pré-guerra ou de guerra e a crise e a desestabilização política atingissem limites fora de controle, os grandes capitalistas poderiam considerar soluções semelhantes aos antigos fascismos. Isso pode ser ilustrado, em pequena escala, no exemplo da organização neonazista grega Aurora Dorada. Em 2014-2015, no auge de uma poderosa revolta popular e dos trabalhadores na Grécia, esse partido era a terceira maior força do país e agia de acordo com as linhas fascistas clássicas, com suas gangues armadas. No entanto, em 2020, quando o levante revolucionário foi derrotado (com a ajuda decisiva do Syriza) e a situação se normalizou, a Aurora Dourada, sob a bênção da UE, foi declarada uma organização criminosa e banida. Posteriormente, ela foi substituída por organizações de extrema direita que não são expressamente fascistas como a versão original. No momento, não estamos testemunhando o desenvolvimento de movimentos fascistas de massa como nas décadas de 1920 e 1930, com base na estruturação de gangues armadas e métodos de guerra civil. De um ponto de vista geral, atualmente, a ultradireita, apoiada por setores do grande capital de importância desigual, dependendo do país, e com forte apoio da polícia e das Forças Armadas, se sustenta na estrutura parlamentar, com o objetivo de usá-la para avançar na imposição de regimes autoritários, bonapartistas, ditaduras com eleições controladas. Em outras palavras, amputar as liberdades políticas e os direitos democráticos, impor retrocessos substanciais às conquistas das mulheres e LGBT, reprimir duramente as mobilizações operárias e populares, impor forte controle policial, subjugar o aparato judicial e a mídia. Esse curso se reflete na “democracia liberal” de Orbán na Hungria, nos planos de Bolsonaro, nos planos de Trump (contidos, entre outros, no Projeto 2025 da Heritage Foundation). A ultradireita, atualmente forma líderes, organiza nacional e internacionalmente um amplo setor militante e mobiliza setores de massa contra a institucionalidade existente e a favor de uma pauta reacionária. Com peculiaridades marcantes e ritmos específicos em cada país, essa é a atual orientação geral das organizações de extrema direita, embora, após do ataque ao Capitólio promovido por Trump ou as tentativas frustradas de golpe de Bolsonaro, não deva ser descartada a possibilidade de tentativas de golpe de Estado para acelerar o estabelecimento de um regime autoritário. Além disso, a estratégia geral da extrema direita combina bem com fenômenos de violência, como os pogroms anti-imigrantes de agosto de 2024 na Grã-Bretanha, realizados por gangues neofascistas e orquestrados pelo partido de extrema direita Reform de Nigel Farage. Esses pogroms foram um dos pontos altos da violência neonazista nos últimos tempos na Europa, embora, como vimos em 2017 em Charlottesville (EUA), ou no ataque ao Capitólio, eles estejam longe de ser uma experiência exclusiva. Nesse contexto, não deixa de ser importante que organizações como o FPÖ, Fratellid’Italia, AfD, Vox, Milei ou o Bolsonarismo, que incluem neonazistas nas suas estruturas, promovam o chamado revisionismo histórico com o objetivo de apagar o passado fascista ou ditatorial de seus países. 3.1 Nos EUA e na Europa contra os imigrantes, na América Latina “contra a insegurança e a corrupção” Nos EUA e na Europa, a grande bandeira é a cruzada contra imigrantes e refugiados. Na Europa, as organizações de extrema direita e supremacia branca promovem a Reemigração, ou seja, a deportação em massa de migrantes, em nome da defesa da “identidade europeia” e dos “valores cristãos ocidentais”, ameaçados por uma suposta invasão islâmica. A AfD está pressionando pela expulsão de dois milhões de pessoas, algumas delas de nacionalidade alemã, que considera não assimiladas (Conferência de Potsdam, novembro de 2023). Trump, por sua vez, está ameaçando com a deportação em massa de 15 milhões de imigrantes sem documentos (embora, de acordo com os números oficiais, sejam 11 milhões). Em todos os casos, os imigrantes são acusados de serem responsáveis por todos os males: a criminalidade, a crise do Estado de Bem-estar Social, os baixos salários, o roubo de empregos dos trabalhadores nacionais e acumulação de subsídios sociais em detrimento dos nativos. No caso da América Latina, a bandeira da ultradireita muda para a luta contra a insegurança, a violência e a criminalidade urbana. Esta ofensiva, no entanto, tem um significado preciso: uma cruzada contra os setores mais pobres, identificados como delinquentes e bandidos, bem como a criminalização dos movimentos sociais no campo e na cidade, como os povos indígenas, os negros quilombolas brasileiros, os sem-terra e os sem-teto, como é evidente na Argentina (com uma taxa de pobreza de 52,9% no primeiro semestre de 2024, com 25 milhões de pessoas pobres), em El Salvador de Bukele ou no Brasil. 4. Organizações e movimentos de extrema direita no mundo 4.1 A extrema direita americana Nos EUA, a extrema direita se reagrupa em torno de Trump, que há muito tempo assumiu o controle do Partido Republicano. Ele está ligado a setores relevantes do grande capital americano, tendo como figura de proa Elon Musk, suas empresas e sua rede social X. Trump foi um dos promotores do ataque ao Capitólio e dá cobertura a grupos fascistas, como em Charlottesville ou na própria invasão do Capitólio. Ele é a quintessência do chauvinismo nacional-imperialista e um defensor ferrenho do sionismo genocida. Ele conta com o aparato do Partido Republicano, fundações e grupos de opinião, redes neonazistas e igrejas evangélicas. Tem uma forte base de apoio na pequena burguesia e entre setores significativos de trabalhadores brancos condenados ao desemprego, aos baixos salários e à pobreza, em particular no desindustrializado Cinturão da Ferrugem (RustBelt). A desilusão popular e os processos de ruptura com o Partido Democrata também afetaram setores da população latina e negra, que votaram nele nas últimas eleições presidenciais. É abertamente negacionista das mudanças climáticas e porta-voz do lobby dos combustíveis fósseis (Drill, baby, drill). Travou uma luta contra os imigrantes que é o eixo de sua campanha eleitoral, colocando um sinal de igualdade entre os migrantes e o crime e o tráfico de drogas e propondo a deportação em massa como sua maior promessa eleitoral. A conquista da presidência, junto com o controle da Câmara dos Deputados, do Senado e da Suprema Corte, facilita a ofensiva de Trump para depurar maciçamente a Administração federal, controlar o aparato judicial, atacar os direitos das mulheres e LGBTs e cortar os direitos democráticos, o que, sem dúvida, provocará grandes confrontos e mobilizações em massa. A posse de Trump ocorrerá em 20 de janeiro e será a partir daí que poderemos avaliar em profundidade o programa exato que ele pretende aplicar e em que ritmo, seu impacto internacional e a resistência significativa que ele encontrará nos diferentes setores da classe trabalhadora e do povo americano. 4.2 A extrema direita no Brasil É necessário, dada a sua importância, analisar o movimento bolsonarista, cujo momento de expansão foram as eleições de 2018, nas quais Jair Bolsonaro venceu com 55,13% dos votos no segundo turno. A vitória inicial de Bolsonaro foi relativamente improvisada, embora já naquela época contasse com o apoio de Steve Bannon (Trump) e grupos da ultradireita brasileira, de setores-chave da cúpula militar e de amplos setores da burguesia brasileira (com Paulo Guedes, como fiador do ultraliberalismo, na primeira fila). No bolsonarismo, vários setores se fundem. Um deles é encabeçado pelos filhos de Bolsonaro, vinculados a Bannon e educados por Olavo de Carvalho (1947-2022), o principal ideólogo da extrema direita brasileira, intimamente associada à ultradireita norte-americana, além de defensor do período da ditadura militar. Esta facção, com grande presença nas redes sociais, é a que define a ideologia bolsonarista. Ou seja, ultraliberalismo, protofascismo, defesa dos torturadores e da tortura sob ditadura, violência física contra opositores, paramilitarismo e ultraconservadorismo (misoginia, homofobia, racismo, xenofobia). Propagam os slogans “Pátria, Deus e Família”, “Brasil acima de tudo” (adaptando o lema hitleriano) e “Deus acima de todos”, que compartilha com os demais setores bolsonaristas. Outro grupo pertence às Forças Armadas e tem grande peso no bolsonarismo: até 6.000 militares ocuparam cargos executivos durante o governo Bolsonaro, com um grande número de ministros à frente. Esta é uma peculiaridade brasileira: o papel central desempenhado por uma geração de generais e oficiais de alta patente que reivindicam a ala linha-dura da ditadura militar que subjugou o Brasil entre 1964 e 1985. Outro componente importante do bolsonarismo são as igrejas neopentecostais, com estruturas poderosas que incluem vários milhões de pessoas, em sua maioria trabalhadores. A teologia da prosperidade (buscar a prosperidade individual neste mundo) e a teologia da dominação (favorecendo o estabelecimento de um Estado teocrático) as associam intimamente ao ultraliberalismo e algumas delas ao projeto autoritário do bolsonarismo. O triunfo de Bolsonaro se baseia em dois fatores centrais: um é a decadência do país, que vem desde o fim da ditadura e se manifesta na ruína de setores da pequena burguesia, na desindustrialização do país e no processo de demolição das condições de vida e trabalho de setores inteiros do proletariado brasileiro, submetidos a um processo brutal de precarização e terceirização. Esta decadência, mascarada durante a presidência de Fernando Henrique Cardoso (FHC) e depois pelo boom das commodities durante os governos do PT, veio à tona com força após a crise mundial de 2008. O outro fator por trás da ascensão do bolsonarismo é a grande desilusão com o desempenho dos governos do PT diante desta decadência. Como resultado de tudo isso, primeiro veio a explosão social de junho de 2013, protagonizada pela juventude precarizada da classe trabalhadora. Em seguida, depois da desilusão popular com os dolorosos planos de austeridade de Dilma Rouseff após sua vitória apertada em 2014, combinada com os casos de corrupção que afetaram importantes figuras do PT, vieram as grandes manifestações de março de 2015 e dos meses seguintes, dessa vez dominadas pela direita, embora com uma pequena presença da extrema direita. Depois veio a grande greve geral contra o presidente Temer e o “Ocupa Brasília” de 2017[8], traído pela burocracia sindical e pelo PT. Foi justamente nesse refluxo, em 2018, que Bolsonaro surgiu como uma figura de massa, com uma candidatura articulada desde 2016, com nove generais e um brigadeiro dirigindo a sua equipe de campanha, e com seus filhos, apoiados por Bannon, encarregados da propaganda nas redes sociais. A extrema direita brasileira se apoia na base das Forças Armadas e da polícia e por setores maciços da pequena e média burguesia, mas também conseguiu se enraizar, em especial, em setores atingidos da classe trabalhadora, desiludidos com Lula e o PT, particularmente em setores precários que trabalham em plataformas ou aplicativos, que se veem como “empreendedores”, e até mesmo em alguns setores jovens e pobres da periferia. Os planos do bolsonarismo são transformar a exaurida Nova República (construída com base na Constituição de 1988) em um regime autoritário e bonapartista, em uma ditadura com eleições, justiça e mídia controladas, com os militares à frente de cargos relevantes e direitos democráticos severamente restringidos. Eles não tiveram sucesso, por enquanto, porque perderam as últimas eleições e porque o governo Biden, bem como a maioria da burguesia brasileira, estavam contra o auto-golpe. Mas, apesar do fato de que, sem o apoio do imperialismo norte-americano, um golpe provavelmente não teria sucesso, eles tentaram em 8 de janeiro de 2023. Essa tentativa foi muito mais forte do que se esperava e foi precedida, por mais de um mês, pela mobilização de pelo menos 100 mil pessoas em todo o país, com bloqueios de estradas, acampamentos em frente a quartéis, ameaças de ataques a bomba a aeroportos e torres de energia e a participação de um importante setor da cúpula das Forças Armadas. A Polícia Federal tornou público nestes dias que esses planos incluíam o assassinato de Lula, Alckmin (vice-presidente) e Moraes (Supremo Tribunal Federal), antes mesmo do dia 8 de janeiro. O que o “bolsonarismo” conseguiu até agora foi consolidar um espaço político que abrange 30% da população do país, a favor da pauta reacionária e autoritária da extrema-direita, estruturar um forte setor militante, formar novas lideranças e dotar-se de uma capacidade de mobilização e organização, ligadas as milícias e aos militares e vinculada à extrema-direita internacional, particularmente ao trumpismo. A derrota da tentativa de golpe em 8 de janeiro e a possível condenação e inelegibilidade de Bolsonaro, o líder com maior capacidade de unificar a extrema-direita brasileira, abre fissuras entre seus líderes, mas suas bases estruturais persistem. 4.3 Partidos de extrema direita europeus Os partidos europeus de extrema direita têm origens históricas diferentes. Alguns deles têm raízes no fascismo derrotado na Segunda Guerra Mundial: o FPÖ austríaco, o VlaamsBelang (VB) belga, o Rassemblement National (RN), com origem no regime pró-nazista de Vichy, o Fratellid’Italia de Meloni (que provem do neofascista MSI), bem como a extinta Aurora Dourada. O espanhol Vox, que surgiu de uma ruptura com o PP, defende expressamente o franquismo e o ultra-catolicismo. O Democratas da Suécia (SD) também foi fundado por neonazistas em 1988, embora no início dos anos 2000 tenha se desvinculado formalmente do nazismo. Outros partidos de extrema direita provêm do quadro democrático burguês pós-Segunda Guerra Mundial, como os Verdadeiros Finlandeses, criado em 1995, ou a extrema direita dos Países Baixos, vencedora das últimas eleições parlamentares (novembro de 2023), que acaba de formar um governo de coalizão (junho de 2024). Viktor Orbán e seu partido Fideszy elPiSpolaco são anteriores à restauração capitalista na Europa Oriental. O britânico Nigel Farage líder do Reform UK, é um ex-corretor da City de Londres e ex-membro do Partido Conservador britânico que criou o partido UKIP, o grande porta-estandarte da saída da UE (Brexit). Na Áustria, o Partido da Liberdade (FPÖ) foi fundado por nazistas em 1956 como um partido pan-germânico. É o primeiro partido de extrema direita que integrou um governo de coalizão com a direita tradicional em um país da UE (1999). Inicialmente, a UE fez vista grossa, mas depois, desde 2018, quando voltou ao governo, passou a aceitá-lo sem problemas. O FPÖ, que ocupou ministérios importantes, já não reivindica o pan-germanismo e se declara um patriota austríaco. Relativiza e normaliza o nazismo e não marginaliza sua ideologia, que é compartilhada por parte de sua base e de seus eleitores. Atualmente, o FPÖ recolhe a maior parte dos votos da classe operária na Áustria e, em setembro de 2024, venceu uma eleição parlamentar pela primeira vez, com 29,2% dos votos, embora os outros partidos tenham vetado seu acesso ao governo. Apoiou a entrada na UE, mas se tornou um eurocético. Assim como Orbán, apoia abertamente Putin. Ele se concentra na batalha contra a imigração e o Islã. Na Hungria, o partido de Orbán (Fidesz) surgiu como uma alternativa aos governos de coalizão liderados pelo Partido Socialista (herdeiro do antigo partido único stalinista), que eliminou os direitos sociais e privatizou tudo o que podia, para finalmente, em 2010, entrar em colapso, dando a vitória a Orbán, que está no poder há 14 anos. A Hungria é um país da UE onde Orbán levanta a bandeira nacionalista e eurocética e reivindica autonomia em relação à UE. Subjugado economicamente à Alemanha, busca um contrapeso nos investimentos chineses. Proclama sua amizade com Putin (de cujo fornecimento de energia depende), sua total rejeição a qualquer apoio à Ucrânia frente à agressão russa e sua fraternidade com Trump. Ele é um dos grandes porta-estandartes europeus contra a imigração e o Islã. Ele se proclama anticomunista, defensor dos valores cristãos e contrário aos direitos das mulheres e dos LGBTs. Ele não reconhece o aquecimento global e nega a emergência climática. Com a nova constituição de 2011, deu início a um regime que o próprio Orbán descreve como uma “democracia iliberal”, com o aparato judicial e a mídia rigidamente controlados. Os poloneses do PiS (Lei e Justiça) têm muitas semelhanças com Orbán, mas, ao contrário dele, por razões históricas, mantém uma relação de confronto aberto com Putin. A Polônia não existiu como país independente de 1795 a 1918 (Tratado de Trianon), estando dividida entre Alemanha, Rússia e Áustria. O PiS é extremamente submisso aos EUA, fator que utiliza como contrapeso ao domínio econômico alemão. Assumiu o governo em 2015 e nele permaneceu até 2024, quando o perdeu por uma margem estreita. São nacionalistas, eurocéticos e ultracatólicos, defendem a fusão entre a nação polonesa e a Igreja Católica. Não teve qualquer problema em tolerar a atividade controlada de grupos neofascistas menores. Na Croácia, temos o partido governista HDZ. O país se constituiu como um estado independente com o apoio direto da Alemanha quando a Iugoslávia se desintegrou. O HDZ foi criado sob o impulso direto dos antigos fascistas da Ustasha, aliados da Alemanha nazista, e é ultracatólico. O ultradireitista britânico Nigel Farage (Reform UK) obteve 4,1 milhões de votos nas eleições gerais de julho de 2024 (ficando em segundo lugar em vários distritos eleitorais), em comparação com os 6,5 milhões dos conservadores e os 9,7 milhões dos trabalhistas de KeirStarmer. Os conservadores vivem atualmente uma verdadeira decomposição, o que poderá levar Farage a assumir parte do partido. Longe de condenar os pogroms neonazistas contra imigrantes, ele tentou se apropriar deles para seu próprio benefício. A extrema direita holandesa era marginal até 2002. Até então, todo o jogo político era disputado entre liberais, democratas-cristãos e social-democratas. Entre os promotores da extrema direita holandesa se destacam figuras como PimFortuyn (que morreu em um atentado em 2022), Geert Wilders (líder do PVV, Partido da Liberdade – o mais votado nas eleições legislativas de novembro de 2023, embora não tenha uma estrutura partidária formal) e Baudet. O eixo principal de Wilders é o enfrentamento contra imigrantes e refugiados e uma obsessão contra o Islã, que se confronta em nome da igualdade entre homens e mulheres, da defesa dos direitos dos homossexuais ou do direito ao aborto. Proclama os valores ocidentais e a tradição judaico-cristã. Formalmente, ele se apresenta como opositor do nazismo. É abertamente eurocético em relação à UE (“Vamos devolver a Holanda aos holandeses”) e é a favor de uma “Grande Holanda”, que incluiria a Flandres belga. O Partido Popular (PP) da Dinamarca, que se constituiu em 1972, mesmo reivindicando a luta contra a ocupação nazista durante a Segunda Guerra Mundial, surgiu como um típico partido pequeno-burguês contra as altas taxas de impostos. Na década de 1980, incorporou um discurso xenófobo e islamofóbico, em defesa dos “valores dinamarqueses”. Mas, em seguida, foi todo o espectro político dinamarquês que assumiu esse discurso e o parlamento acabou aprovando várias das medidas mais duras anti-imigração da Europa: a requisição de bens dos requerentes de asilo, um forte endurecimento dos requisitos para o reagrupamento familiar, controles rígidos de fronteira, realocação dos habitantes dos bairros guetos das cidades e o confinamento em uma prisão insular dos migrantes que aguardam a expulsão. A abordagem oficial não é a integração dos imigrantes, nem mesmo sua assimilação, mas seu retorno ao país de origem. Esse discurso foi adotado por todos os outros partidos, incluindo a Social Democracia Dinamarquesa de Mette Frederiksen. Com características semelhantes, temos também o partido dos Verdadeiros Finlandeses, fundado em 1995 sobre as cinzas do antigo Partido dos Camponeses, com características moderadas de centro-esquerda, defensor dos “valores finlandeses” (pátria, religião, família), nacionalista e social-cristão. Logo, porém, em 2003, a extrema direita assumiu o seu controle. A sua primeira grande ascensão foi durante a crise de 2008-2009, capitalizando eleitoralmente sua oposição aos resgates dos países do sul da Europa e a favor da austeridade. 4.4 Divisões entre a extrema direita europeia As diferenças entre a extrema direita europeia estão associadas aos seus diversos interesses nacional-imperialistas e se refletem, acima de tudo, em sua política internacional. Assim, embora sejam todos raivosamente sionistas, celebraram a vitória de Trump e sejam abertamente xenófobos e racistas, eles estão divididos em relação à Rússia. De um lado, temos os amigos de Putin (Orbán, a AfD, o italiano Salvini, o FPÖ ou, mais discretamente, o RN francês), que são contra qualquer tipo de ajuda militar ou econômica à Ucrânia e abertamente a favor da entrega do Donbass ucraniano à Rússia. A AfD defende a restauração das relações com a Rússia, o fim das sanções e o retorno às compras de gás. No lado oposto temos o PiS polonês ou a italiana Meloni, claramente alinhados contra a Rússia de Putin. Se os grupos europeus de extrema direita estivessem juntos, formariam hoje o segundo maior grupo no Parlamento Europeu, com 187 membros, apenas um de distância do primeiro grupo, a direita tradicional. No entanto, estão separadas em três grupos: “Conservadores e Reformistas Europeus”, com 78 parlamentares, liderado por Meloni, que inclui o PiS polonês; “Patriotas pela Europa”, o maior, com 84 eurodeputados, presidido por Orbán, que inclui o RN francês, a extrema direita holandesa, o FPÖ austríaco e o Vox espanhol; finalmente, a “Europa das Nações Soberanas”, com 25 eurodeputados, composto pelo AfD alemão e alguns partidos pequenos. 5.5. A decadência da França e o fortalecimento da NR O colapso de Macron é um verdadeiro reflexo do declínio do imperialismo francês, o segundo maior país europeu que, junto com a Alemanha, é um pilar da UE. A arrogância de Macron não pode esconder essa realidade. A França está sendo expulsa de suas antigas colônias africanas, seus serviços públicos sofrem uma grave deterioração, sua economia está estagnada, com altos níveis de endividamento (110,6%) e déficit público (5,5%). Desde as mobilizações dos Coletes Amarelos (2018-2019), é a vanguarda europeia na repressão da dissidência e nos ataques às liberdades democráticas e aos direitos sociais fundamentais, como as aposentadorias públicas. O principal beneficiário político desse declínio é o RN, que – como disse seu aspirante a primeiro-ministro nas últimas eleições legislativas, Jordan Bardella – quer “colocar ordem nas ruas e nas contas e atender ao princípio da realidade” (ou seja, cumprir promessas como a de retirar a reforma previdenciária de Macron). O RN foi refundado em 2018, no congresso de Lille, onde o até então Front National (FN) se tornou o Rassemblement National (RN). Desde 2011, o partido vem adotando uma política de desdemonização (dédiabolisation). Como parte disso, em 2015, expulsou seu fundador, Jean-Marie Le Pen, pai da atual líder Marine Le Pen. O RN registrou progressos eleitorais em todas as categorias da população e, desde a chegada de Macron em 2017, aumentou sua participação eleitoral em 20%. Obteve um forte aumento nas áreas rurais e, segundo estudos demográficos, votam nele 40% dos desempregados, 48% das pessoas com ensino primário, 53% dos trabalhadores, 33% dos jovens entre 18 e 24 anos e 39% das pessoas entre 50 e 64 anos votam nele. Tem como eixo principal a cruzada contra imigrantes e refugiados. Ele quer negar o direito de asilo e expulsar quem não tem documentos. Apresenta-se como o partido contra as elites e defende a chamada preferência nacional. Apresenta-se como social-populista e defensor dos interesses populares. 5.6 A decadência da Alemanha e a ascensão da AfD O Alternativa para a Alemanha (AfD) nasceu em 2013 como um partido “ordoliberal” (neoliberal na versão germânica) contrário aos resgates do Sul da Europa (na verdade, resgates dos bancos alemães que estavam no centro dos grandes credores) e a moeda única europeia, o euro. Mas desde a crise dos refugiados de 2015, passou para as mãos de uma extrema direita intransigente: xenófoba, islamofóbica, revisionista histórica em relação ao nazismo e eurofóbica (“queremos que os poderes de Bruxelas retornem ao nível nacional”). Defende a expulsão de dois milhões de pessoas, algumas delas de nacionalidade alemã que consideram não assimiladas (Conferência de Potsdam). É amiga de Putin. Defende a retirada das tropas dos EUA da Alemanha e o fechamento da base americana em Ramstein, embora esteja dividida quanto à adesão do país na OTAN. Tem uma forte base eleitoral nos estados da antiga Alemanha Oriental anexada, discriminados e nunca foram totalmente integrados à Alemanha unificada. A AfD se tornou um dos principais pilares da extrema direita europeia. Na Alemanha, nas eleições europeias de junho de 2024, o principal partido do governo, o SPD social-democrata, obteve 14% dos votos, atrás do AfD, com 16%. A AfD tornou-se a segunda força política do país (atrás dos Democratas-Cristãos, CDU-CSU, com 30%) e é o principal partido em vários estados da antiga Alemanha Oriental: venceu as eleições na Turíngia e na Saxônia em setembro de 2024, onde obteve mais de 30% dos votos, e algumas semanas depois ficou em segundo lugar em Brandemburgo, com quase 30%, apenas 1,7 pontos atrás do primeiro partido. Antes das eleições, as 300 maiores corporações da patronal alemã se posicionaram publicamente contra a AfD, que consideram, nas atuais circunstâncias, um obstáculo aos seus interesses. Os grandes empregadores alemães, com fortes investimentos no exterior e grandes interesses exportadores, precisam vitalmente da UE para seus negócios, tanto na Europa – seu principal mercado de exportação – quanto no exterior, bem como para obter influência política em um contexto internacional dominado pelo confronto entre os EUA e a China. Também precisa de trabalhadores qualificados para sua indústria, que a Alemanha não consegue preencher com nativos. É por isso que não compartilha das posições ultranacionalistas da AfD, contrárias a EU ou a sua proposta da grande Reemigração e prefere seus partidos habituais. A ascensão da extrema direita alemã é proporcional ao declínio do país. O capitalismo alemão, que já se destacava antes dos anos 90 como o mais poderoso da Europa, recebeu um enorme impulso nessa década com a unificação alemã (na verdade, a anexação da Alemanha Oriental) e com a expansão para a Europa Oriental, semicolonizada pelo capitalismo alemão, apoiada pela ampliação da UE. O antigo Glacis foi transformado em um novo mercado e base para a transferência de fábricas para países com menores salários e direitos e poucas regulamentações ambientais e sociais. Depois, em 2003, o chanceler social-democrata Gerhard Schröder (hoje um empresário proeminente e parceiro de Putin) transformou a Alemanha, com sua Agenda 2010 e o apoio do SPD, num país de vanguarda da desregulamentação do trabalho, do corte de benefícios de desemprego e da implantação de um setor de baixos salários e direitos mínimos. Mas agora chegamos ao fim do excepcionalismo alemão. O capitalismo germânico vive o esgotamento do impulso que lhe proporcionou a unificação, a expansão para o Leste e pela Agenda 2010 de Schröder. A guerra de agressão de Putin contra a Ucrânia levou a ruptura no acesso ao gás e ao mercado russo. Com forte atraso em relação aos EUA e a China em novos ramos tecnológicos, além de estagnada economicamente, a Alemanha se encontra sem novos mercados de exportação e com uma relação muito diferente com a China em comparação com 2000. Agora, as empresas alemãs competem com a China na UE e na própria Alemanha, por exemplo, com o carro elétrico (que não está ganhando impulso) ou painéis solares. Ao mesmo tempo, uma potência exportadora como a Alemanha não pode, com a relativa liberdade dos EUA, promover medidas protecionistas contra a China, ainda mais quando grandes empresas alemãs têm enormes investimentos no país voltados para o mercado chinês e para suas próprias exportações. O genocídio sionista em Gaza também mostra o papel do imperialismo alemão como um anão político sujeito aos EUA. A ascensão do AfD se baseia nesse declínio e na incerteza do imperialismo alemão. Extrai força do profundo sentimento de frustração no Leste do país, na desesperança de setores da classe média, na perda do poder de compra devido à inflação e da deterioração dos salários e das condições de trabalho dos setores mais pobres dos trabalhadores alemães. Nessas circunstâncias históricas, a AfD se apresenta como uma alternativa a um sistema em crise sustentado pela Democracia Cristã, pela social-democracia alemã e pelos Verdes. 5.7 Os “conservadores de esquerda” alemães da Aliança Sahra Wagenknecht (BSW) Devemos também acompanhar de perto o movimento “conservador de esquerda” BSW de Sahra Wagenknecht, que surgiu recentemente na Alemanha, especialmente após suas recentes vitórias eleitorais nos estados da Turíngia, Saxônia e Brandemburgo, onde emergiu como a terceira força. Mencionamos o BSW porque, embora se apresente como defensor da classe trabalhadora alemã, assume elementos centrais do programa da extrema direita e pode se tornar uma referência em outros países para organizações vindas da diáspora do stalinismo e tentam se recompor. O BSW, organizado em torno dessa ex-líder do Die Linke, que dá seu nome à sigla do partido, tem seu maior peso nos estados do Leste da Alemanha. Sara Wagenknecht provem do antigo partido stalinista da Alemanha Oriental, que em 2007 se fundiu com uma dissidência do SPD liderada por Oskar Lafontaine, dando origem ao partido Die Linke. Sahra Wagenknecht, em uma entrevista recente ao New LeftReview, definiu seu partido como “conservador de esquerda”. Não questiona o capitalismo, mas pretende transformá-lo em um capitalismo virtuoso. A sua grande referência é o grupo de pequenas e médias empresas exportadoras alemãs conhecido como Mittelstand, cuja prosperidade, segundo ela, a condição para melhores condições de trabalho e para o renascimento da Alemanha.O BSW reivindica o passado stalinista da RDA, é contra a OTAN e a favor da retirada dos mísseis norte-americanos da Alemanha. Ao mesmo tempo, assume as bandeiras fundamentais da extrema direita alemã. A sua grande batalha é dupla: por um lado, contra a imigração (embora não exerça a virulência da AfD) e, por outro, contra a Ucrânia e a favor de Putin, algo que apresenta como uma luta pela paz e, tal como faz a AfD e o governo alemão, apóia Israel e o genocídio palestino. O BSW é islamofóbico, nacionalista alemão e também rejeita medidas ambientais e políticas de igualdade de gênero. 6. A luta contra a extrema direita A luta contra a extrema direita ocupa atualmente um lugar fundamental. Exige-nos, como ponto de partida, avançar na organização independente da classe trabalhadora e da juventude, particularmente dos seus setores mais precários, bem como unificar os trabalhadores (nativos e imigrantes, de diferentes cores de pele e orientações sexuais) na luta pelos direitos básicos. Para isso, seremos quase sempre forçados a entrar em conflito com as burocracias sindicais e a esquerda oficial. Muito mais se as mesmas participam no governo que aplica os planos socioliberais. Diante de situações de ofensiva aberta da extrema direita, especialmente quando esta está no governo, temos que recuperar as melhores tradições de luta e, em particular, aquelas defendidas pelos trotskistas na década de 1930 na batalha contra o fascismo. Ou seja, promover a frente única e a unidade de ação mais ampla com organizações operárias e populares, estudantes e outras organizações políticas, para promover a mobilização massiva face às tentativas autoritárias bonapartistas, à repressão oficial e às agressões fascistas; em defesa dos direitos democráticos, das conquistas sociais e da solidariedade com os setores e povos oprimidos. Quando temos governos progressistas, em colaboração com a burguesia, devemos rejeitar uma política de alinhamento de campo com eles e agir como uma verdadeira oposição de esquerda e socialista. Ter evidente que ser uma oposição de esquerda não significa confundir-se com a extrema direita ou deixar de combatê-la a todo momento. Diante de qualquer tentativa de golpe, deve haver unidade de ação com o governo para derrotar os golpistas, sem que isso signifique dar-lhes apoio político. Como fizeram os trotskistas contra Franco na década de 1930 ou Lênin há um século, quando do golpe do general Kornilov. Num contexto em que a extrema direita incentiva e organiza a violência contra o movimento e, ainda mais promova gangues armadas, devemos recuperar a tradição revolucionária e educar a classe trabalhadora e a juventude para que tomem a autodefesa nas suas próprias mãos. Deixando de lado tanto as tendências pacifistas que defendem a não violência entendida como princípio moral, como as tendências individualistas e espontâneas, cujas ações deixam o movimento indefeso diante da repressão governamental ou diante de gangues armadas de extrema direita, como está acontecendo no campo brasileiro. A experiência inglesa do Verão de 2024, de como enfrentaram os ataques neonazis contra os imigrantes, é um exemplo recente de como enfrentar os pogroms racistas e xenófobos do próprio movimento. A batalha cultural, isto é, a propaganda e a luta ideológica contra a extrema direita, é de capital importância, dirigida especialmente à juventude trabalhadora e estudantil. Devemos desmontar, com base no marxismo, as falsas teorias do ultraliberalismo e do anarcocapitalismo, bem como as teses da conspiração, e contrastar a sua demagogia com os resultados sinistros das suas experiências de governo, tanto as históricas do fascismo como, em particular, os mais recentes, de Pinochet a Trump, Bolsonaro, Milei ou Orbán. Deve também ser feito um esforço para compreender porque é que certas teses da extrema direita têm impacto nos setores da juventude trabalhadora, a fim de melhor os perturbar. Também não devemos esquecer que não há forma de enfrentar a extrema direita sem combater ideológica e politicamente a esquerda socioliberal e os seus parceiros pós-modernos (além das correntes neo-stalinistas). Não foi em vão que a desastrosa gestão governamental socioliberal alimentou e continua a alimentar o monstro da extrema direita. É por isso também deve ser demonstrado que o (neo)keynesianismo e o socioliberalismo não são marxismo nem socialismo, mas uma variante do capitalismo. Este trabalho, se quiser ser eficaz, não pode ser abordado dogmaticamente. Deve ser apoiado por uma prática, um programa e políticas concretas. Um programa que leva em conta os setores mais precários e uberizados, que nunca tiveram os direitos que o setor mais antigo da classe trabalhadora alcançou e que muitas vezes acreditam que os sindicatos só defendem os “privilegiados”. Um programa que enfrenta a decomposição social, a crise do Estado de Bem-estar, a emergência ambiental, o racismo e a xenofobia, os massacres imperialistas em Gaza e na Ucrânia, a pilhagem de países semicoloniais e o militarismo. Que apresente alternativas, que se integram na batalha por uma reorganização geral e radical da sociedade, pela expropriação do grande capital e do poder socialista. Uma tarefa histórica que, em última análise, exigirá a reconstrução de uma esquerda revolucionária poderosa e enraizada na vanguarda do movimento operário e popular. 26/11/2024 [1] Uma tese que não é exatamente partilhada por figuras relevantes do Trumpismo, como Peter Thiel. Este magnata do Vale do Silício, colega de Elon Musk, expoente da extrema direita empresarial americana, colaborador do exército israelense no genocídio palestino e grande financiador da campanha eleitoral de Trump, não hesita em proclamar que “a competição é para os perdedores”. [2] Alguns partidos da extrema direita europeia não se expressam em termos tão grosseiros como Milei, Bolsonaro ou a alt-right norte-americana. RassemblementNational(RN), o FPÖ ou a AfD alemã, defendem que as medidas sociais devem ser “exclusivamente para os nacionais”. Embora mais tarde, o apoio do RN à política de austeridade do governo Barnier mostra a falácia desta afirmação, que só serve enquanto não tiverem acesso ao governo. [3] O que é verdade no caso dos partidos socialistas, dos que vêm da crise do stalinismo e dos da esquerda pós-moderna. Embora, é claro, nenhum deles afirme ser ou possa ser considerado marxista. A sua política é socioliberal, isto é, uma política de colocar a crise nas costas da classe trabalhadora, mas de uma forma mais benigna… até que sejam forçados a tomar medidas de choque! [4] Na verdade, exatamente o oposto do que estabelece o marxismo, cujo objetivo histórico, o comunismo, nada mais é do que a extinção do Estado. [5] Embora, como veremos mais tarde, existam lugares na Europa, como os Países Baixos, onde a extrema direita tem uma abordagem liberal a questões como os direitos das mulheres ou dos LGBT. [6] Com raríssima exceção de algum grupo “ecofascista” nos EUA [7] Ralph Schoenman, A História Oculta do Sionismo [8] Onde se destacou o papel da CSP-Conlutas e do PSTU Tradução: Rosangela Botelho Jornal oficial do PSTU - Partido Socialista dos Trabalhadores Unificado.

04 novembro 2024

2º turno: Vitória de um Centrão mais à direita e as derrotas do PT e do PSOL!

Gilberto Kassab, dono do PSD, apoiou candidaturas da extrema direita e mantém ministérios no governo Lula Foto José Cruz/Agência Brasil Passado o 2º turno das eleições municipais, já é possível traçar um balanço mais completo deste processo. Primeiro, reafirmou-se a vitória do Centrão e da direita. O Partido Social Democrático (PSD) e o Movimento Democrático Brasileiro (MDB) ganharam cinco capitais, cada um, repetindo numericamente o feito de 2020. Mas, o PSD ultrapassou o MDB, alcançando um total de 885 prefeituras em todo o país. Demais siglas, como União Brasil e Republicanos, também tiveram vitórias significativas, conquistando 583 e 433 prefeituras, respectivamente. O bolsonarista Progressistas (PP) elegeu 746 prefeituras. O Partido Liberal (PL), que é categoricamente oposição de direita ao governo, ficou com 516. O partido de Bolsonaro abocanhou quatro capitais, resultado inédito para o ex-presidente e seu partido. Tiveram, ainda, o maior número de prefeituras nas cidades com mais de 200 mil habitantes. Mas, no 2º turno, perderam para o Centrão em várias capitais que disputaram. Ou seja, mesmo tendo vitórias, foram aquém do esperado por Bolsonaro e a cúpula do PL. Faça uma doação Vitórias e derrotas Se no 1º turno o PL foi o partido que mais cresceu em número de votos, e também o que garantiu a ida ao 2º turno no maior número de cidades (dentre elas, nove capitais); no 2º turno o partido venceu em apenas duas (Aracaju/SE e Cuiabá/MT), perdendo, em geral, para candidaturas do Centrão ou da direita que fazem uma oposição mais dura ao governo, mas ainda institucional, como em Goiânia, onde Bolsonaro se envolveu pessoalmente no enfrentamento contra Ronaldo Caiado (União Brasil). Houve, ainda, um crescimento dos votos nulos e das abstenções, que expressam desde um desgaste do regime até uma certa apatia e indiferença. O PT e o PSOL, por outro lado, sofreram uma grande derrota, embora o PT tenha ganhado mais prefeituras que em 2020. No 2º turno, o PT disputava diretamente três capitais: Cuiabá (MT), Porto Alegre (RS) e Fortaleza (CE). Ganhou apenas em Fortaleza, aos 45 do segundo tempo, pela diferença de apenas 10 mil votos. Soma-se a isso a derrota de Boulos, em São Paulo, que, apesar de ser do PSOL, era o candidato de Lula e do próprio PT na cidade. Para um setor à frente do Governo Federal é uma derrota importante. O Centrão e a direita O Centrão que sai vitorioso dessa eleição não é o velho Centrão do último período. O que chamamos de Centrão foi, de conjunto, mais para a direita. Estão estruturando e consolidando uma direita ideológica extremada, nos limites da institucionalidade, e uma ultradireita que desafia e vai além dos limites da democracia burguesa, como o “bolsonarismo” em suas diversas variantes. Desde a redemocratização, o Centrão ajudou a compor todos os governos – do PSDB ao PT. Hoje, 70% do espectro partidário está à direita do PSDB. Destes, uns 30% são uma força de ultradireita, capaz de mobilizar e, também, de chegar ao 2º turno e quase ganhar. PSD e MDB são partidos tipicamente do Centrão. Assim como o União Brasil e Republicanos, sem deixarem de ser pragmáticos e fisiológicos, são hoje ideologicamente muito mais à direita e até abrigam alguns tipos diversos de bolsonaristas, como Tarcísio, Damares e Mourão. Um pé em cada canoa O presidente Lula e o governador de SP Tarcisio Ao mesmo tempo em que seguem essa guinada à direita, o PSD, o MDB, o Republicanos, e até o PP, compõem ministérios no governo Lula. E, ainda, fazem parte do governo Tarcísio, em São Paulo, assim como faziam parte do governo Bolsonaro. Isso mostra como é falso o discurso do PT sobre combater a direita. Isso também se reflete nas eleições municipais. Eduardo Paes (RJ) e Fuad (MG), do PSD, são mais próximos de Lula; enquanto Topázio Neto (SC) e Eduardo Pimentel (PR), do mesmo partido, são apoiadores de Bolsonaro, com os vices do PL. Também no MDB isso se expressa com Ricardo Nunes, em São Paulo, e Sebastião Melo, em Porto Alegre, tendo vices do PL e apoiados por Bolsonaro. Enquanto que, em Belém, o prefeito eleito, Igor Normando (MDB), é aliado do presidente Lula e foi apoiado pelo PT no 2º turno. Muito se tem dito sobre como a vitória do Centrão mostra que a polarização no país ficou para trás. É verdade que a polarização foi menor e o papel das figuras de Lula e Bolsonaro não teve tanto peso. Mas, o significado disso tem sido a estruturação e a consolidação, cada vez maiores, da direita e, também, da ultradireita. As divisões no bolsonarismo Bolsonaro e Pablo Marçal O signo da campanha foi a demonstração de um maior enraizamento da direita e da ultradireita. Pautaram o debate e mostraram diversas novas roupagens. O bolsonarismo vem de uma grande derrota, com as punições após a tentativa de golpe. Diminuíram os rompantes autoritários, mas ganharam novos contornos, que passam pelo bolsonarismo tido como mais domesticado, com Tarcísio, inclusive com a capacidade de incidir sobre o Centrão. E há alas que têm um projeto mais abertamente autoritário, em fenômenos com características diferentes, como Marçal (SP) e Nikolas Ferreira (MG), passando por bolsonaristas “raiz”, mais tradicionais, como o prefeito eleito de Cuiabá, ou Ratinho Jr., no Paraná. Embora sejam setores com diferenças entre si, são partes do mesmo fenômeno de ultradireita. E todos eles com grandes acordos programáticos entre si. Neste sentido, as divisões na ultradireita são uma derrota para Bolsonaro, mas também são um sintoma de que esta corrente política tem um lastro social e ideológico, não sendo apenas expressão de um “voto castigo” ou da simpatia episódica por uma figura populista. Divididos, mas com vitórias importantes Se, por um lado, houve um desgaste de Bolsonaro, não se pode dizer que o bolsonarismo ou a extrema direita tiveram uma derrota como a do PT. A direita se fortaleceu com o Centrão e com figuras de direita categóricas e extremadas, como Tarcísio de Freitas, em São Paulo. A própria extrema direita saiu maior das eleições de conjunto e, mesmo onde perdeu, teve vitórias políticas importantes, como em Belo Horizonte, com Engler (PL); em Fortaleza, com André Fernandes (PL); em Curitiba, com a Cristina Graeml (PMB); sem falar no Marçal (PRTB), que apesar de não ir para o 2º turno em São Paulo virou uma figura nacional. A pulverização da ultradireita pode significar seu fortalecimento ou enfraquecimento. Isto ainda não está dado. Há muita água para rolar. Mas, hoje, o resultado eleitoral mostrou que apesar dessa pulverização estes setores tiveram conquistas políticas e eleitorais em 2024, apesar da derrota pós 8 de janeiro e dos maiores questionamentos a Bolsonaro. As várias derrotas do PT e do PSOL Live patrocinada por Pablo Marçal com a presença de Boulos As candidaturas do PT e PSOL não empolgaram nestas eleições. Como suposta solução, buscaram mais ainda aliança com setores da direita e dos bilionários capitalistas. A tarefa que se deram foi se apresentarem como os melhores nomes para salvar o sistema. Chegou ao cúmulo de, por exemplo, em Cuiabá (MT), Lúdio Cabral, o candidato do PT, fazer coro com as pautas conservadoras defendida pelos bolsonarista, na questão do aborto e das opressões, se colocando integralmente a serviço do fundamentalismo religioso. Ou, ainda, o aceno estapafúrdio de Boulos, ao aceitar a “live” com Marçal, dizendo que incorporaria propostas dele, assim como fez com Tabata Amaral, reconhecida liberal e privatista, que votou a favor da Reforma da Previdência de Bolsonaro. O fracasso da tentativa de servir a dois senhores No geral, estas candidaturas defenderam o mesmo modelo de Lula na Presidência. Disseram que governariam para todos, mas o programa apresentado estava inteiramente a serviço dos bilionários capitalistas. Um programa que mantém a política fiscal exigida pelo mercado e a manutenção do Arcabouço Fiscal, com o corte de verbas nas áreas sociais, os ataques ao funcionalismo, as privatizações e Parcerias Público-Privadas (PPP’s), assim como a entrega do país às multinacionais, a depredação ambiental e os benefícios ao grande agronegócio. O problema do PT não é apenas rejuvenescimento e meios de comunicação. É de conteúdo. Ou seja, tem a ver com responder a uma questão fundamental: Que classe social seu projeto, programa e política representam? Algo cuja resposta se encontra no fato de que são cada vez mais vistos como parte do sistema capitalista e da institucionalidade burguesa. Aquele projeto social liberal, aplicado lá atrás, de distribuir dinheiro público para setores da burguesia e, em base ao crescimento econômico, fazer política sociais compensatórias, gerando ascensão social das classes baixas através do consumo, está esgotado. A expectativa de que um crescimento econômico induzido pelo Estado vai virar mais consumo e melhorias para os trabalhadores, hoje, se choca com a realidade do próprio capitalismo brasileiro e mundial, que se debate, de crise em crise, com setores da burguesia, exigindo mais espoliação e maiores lucros. Na prática, o projeto do PT não apenas é (como sempre foi) parte desta engrenagem, como também, agora, é visto desta forma. Pagando o preço pela proposta de gerir o capitalismo em crise A derrota eleitoral do PT nesta eleição mostra que o governo Lula não serve nem para derrotar a ultradireita. Já que, ao contrário do que diz o ministro petista Paulo Pimenta, a ultradireita não foi derrotada ou isolada. E, muito menos, o governo Lula foi vitorioso nesta eleição municipal. Não é para menos. Afinal, o governo do PT é o principal sustentador do Centrão e da direita, liberando as emendas parlamentares, não punindo os golpistas, distribuindo cargos e ministérios para a direita e fazendo todo tipo acordos de financiamento com bolsonaristas, como Tarcísio. Em suma, o PT se dirige para a centro-direita, se transformando num partido cada vez mais igual a tudo que está aí. Um defensor da desgastada institucionalidade burguesa, do “status quo” (da ordem vigente ou da manutenção das coisas como estão) do capitalismo que ele ajudou a gerir por cinco mandatos. Fonte: www.pstu.org.br

09 janeiro 2024

Editorial: O governo Lula, as privatizações e a ultradireita!

A eleição do ultradireitista Javier Milei, na Argentina, trouxe preocupações aos trabalhadores do Brasil. Não é para menos. Afinal, ele é parte do fenômeno da ultradireita mundial que, apesar das diferenças em cada país, tem muitas coisas em comum. Este setor defende terra arrasada, acelerar e aprofundar, sem dó, os ataques à classe trabalhadora, aos setores oprimidos, ao meio ambiente e à soberania dos países, como também atacar as liberdades democráticas. Tudo em nome do lucro dos capitalistas. Para isto, também promovem o ódio contra negros, mulheres, LGBTI+ e imigrantes. O projeto defendido por Milei inclui privatização geral das estatais argentinas, a dolarização da economia e conta com uma vice negacionista dos mortos da ditadura militar daquele país. Faça uma doação “Esquerda” reformista e neoliberal pavimenta o caminho para a ultradireita A situação argentina traz dois alertas. O primeiro é que a ultradireita não está morta e está à espreita para voltar ao poder. O segundo, que não adianta os governos capitalistas que se dizem de esquerda governarem o capitalismo em um modo neoliberal mais lento, pois isso não impede o fortalecimento da ultradireita. Na verdade, o caminho da direita é pavimentado porque “governos de esquerda” defendem medidas que interessam aos monopólios capitalistas e terminam desgastados, piorando as condições de vida do povo, precarizando o trabalho, não enfrentando a pilhagem e a subordinação aos imperialismos; sem conseguir, assim, resolver as necessidades mais básicas. E isso aduba o solo onde viceja a ultradireita. Milei ganhou a eleição depois da derrocada do “governo de esquerda” do peronista Alberto Fernandez. Não há “mal menor” Neste momento, isso é muito importante. Há uma grande parcela da esquerda que defende que, para derrotar a ultradireita, é preciso apoiar e defender o governo Lula. Mas, quando vemos o que está sendo feito pela ultradireita e pelo Governo Federal, vemos como esta posição, na verdade, leva ao fortalecimento das pautas e demandas da ultradireita. Há, por exemplo, uma luta em curso contra as privatizações promovidas pelos governos estaduais de São Paulo e de Minas Gerais, nas mãos do Republicanos e do Novo, respectivamente. As mobilizações contra as privatizações, marcadas para o dia 28, em São Paulo, e que estão ocorrendo nestes dias 21 e 22, em Minas Gerais, são importantes. Com a luta, é possível derrotar os planos privatistas dos governos estaduais e, também, exigir de Lula a reversão das privatizações já feitas, como a da Eletrobras e impedir novas privatizações. Ocorre que o governo Lula não é um contraponto aos processos de privatizações dos governos estaduais da ultradireita. Pelo contrário, vem fazendo parcerias nas privatizações promovidas nos estados, como demonstram o financiamento que o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) dará para a privatização das escolas paulistas. Pretendem induzir um suposto desenvolvimento do país, injetando dinheiro público na iniciativa privada. Por isso, o governo anunciou um Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) recheado de recursos públicos e baseado na proliferação de Parceria Público Privadas, que nada mais são que um tipo de privatização, com a diferença que os custos e riscos são assegurados pelo Estado, enquanto os lucros são privados. As multinacionais recebem todo tipo de incentivos e benefícios para abocanhar empresas, se instalarem no país e enviarem seus lucros para o exterior. Há setores de direita que defendem, abertamente, privatizar tudo, cortando gastos públicos e criando o tal “Estado mínimo”. E há aqueles que se dizem de esquerda, mas que, na prática, também privatizam, só que de maneira diferente. Ao invés de venderem, fazem PPPs. Também defendem uma política fiscal neoliberal; mas, ao invés de cortes diretos dos gastos públicos, como fazia Temer, fazem a mesma coisa através do novo Arcabouço Fiscal. Defendem até aumentar um pouco os gastos, mas para tentar gerar algum crescimento econômico, remunerando os capitalistas com o orçamento público. São duas faces da mesma moeda. Embora sejam diferentes, com ritmos diferentes, chegam ao mesmo lugar: um país mais subordinado, desnacionalizado, privatizado, com trabalho precarizado e alguma renda mínima. Oferecem o mal menor: liberalismo em doses homeopáticas, com pequenas concessões no varejo. Mas, fazem o mesmo jogo do capitalismo em defesa dos interesses dos lucros privados dos bilionários brasileiros e internacionais. Mas, quem se diz de esquerda e, mesmo num ritmo mais lento, faz o jogo da burguesia e do capitalismo, alimenta a ultradireita! Alternativa revolucionária, de classe e socialista Para acabar com a desigualdade social brasileira é preciso enfrentar os grandes grupos capitalistas. Este é um problema histórico, que remonta à própria origem do país. Inclusive, o fato do Banco do Brasil ter, comprovadamente, atuado centralmente na escravidão, possibilitando que acumulasse lucros e capitais, é só a expressão de uma responsabilidade que envolve todos os capitalistas brasileiros e o próprio Estado, submetidos ao imperialismo. Inclusive, não há reparação para o povo negro que não passe por enfrentar os interesses dos ricos e pela expropriação dessas riquezas que nos foram roubadas. A dominação dos países imperialistas no Brasil é a base da nossa condição de pobreza, atraso tecnológico e desigualdade social. Da nossa condição de subdesenvolvimento e subalternidade econômica, política e social. Por isso, também é tão importante a luta em defesa do povo palestino. Lula deveria romper relações diplomáticas, econômicas e militares com Israel, que está promovendo genocídio e apartheid. O que o impede de fazer isso não é uma movimentação tática para repatriar os brasileiros. Na verdade, este episódio comprova a subalternidade do Brasil aos interesses dos imperialistas. Esta luta é também parte da libertação do próprio Brasil do domínio do imperialismo. O desafio político do nosso tempo é que, para enterrar de uma vez por todas o perigo de Mileis, Bolsonaros e Trumps, é preciso superar o programa, a estratégia e as táticas desta esquerda capitalista, liberal e defensora da ordem burguesa, que têm hegemonizado o cenário político, até o momento. É preciso construir uma alternativa dos trabalhadores e das trabalhadoras, que vá à raiz dos problemas; ou seja, o capitalismo, e que signifique não só uma mudança de governo, mas também de sistema. Enquanto a esquerda ficar refém de um campo burguês e da defesa da ordem, cairá no colo da ultradireita a possibilidade de capitalizar este sentimento, ainda que ela seja a parte mais perversa deste sistema.

13 novembro 2023

Editorial: Lula tem que romper relações com Israel, já!

As barbaridades promovidas por Israel contra o povo palestino estão sendo respondidas em todo o mundo com uma forte campanha de solidariedade internacional. No mundo árabe e muçulmano, as mobilizações são massivas e demonstram a força que teria um verdadeiro levante de todos os países da região em defesa dos palestinos. Mas também na Europa, nos Estados Unidos e, aqui, na América Latina ocorreram grandes manifestações. No Ocidente, há uma forte campanha em defesa da Israel promovida pelos países imperialistas. Contam mentiras, invertem os fatos e escondem seus interesses econômicos, políticos e militares sob a hipocrisia de uma suposta luta contra o terrorismo, defesa da democracia. Em 2014, Joe Biden, afirmou que a defesa que os EUA fazem de Israel “não é um favor, é uma obrigação, mas também uma necessidade estratégica”. Chegou a falar que “se não houvesse Israel, teríamos que inventar um”. De fato, inventaram. Israel: um Estado racista e terrorista Israel foi criado em 1948 em um território onde viviam os palestinos de maioria árabe e, também, havia uma minoria de judeus que conviviam com uma relativa tranquilidade. Este país nasceu apoiado, financiado e sustentado pelos EUA e demais países imperialistas para defender os seus interesses na região, como à exploração do petróleo. O primeiro e maior ato de violência foi a criação do Estado de Israel, que tomou as terras e as vidas dos palestinos através de massacres, assassinatos e perseguições que se estendem até os dias de hoje. Israel não é um país democrático, que combate o terrorismo e quer paz, como diz a propaganda da imprensa burguesa. Israel é um Estado teocrático e racista. Ou seja, um Estado baseado na religião, onde as leis e direitos excluem oficialmente os não-judeus. Um Estado onde os palestinos vivem um verdadeiro regime de segregação racial. Israel não combate o terrorismo pois é ele mesmo que promove o terror todos os dias. A luta de Israel não é contra o Hamas, mas contra o povo palestino. Inclusive, décadas antes da existência do Hamas, que nasceu em 1987, Israel já tinha liderado massacres na Palestina. E, hoje, na Cisjordânia onde o Hamas sequer existe, promovem bombardeios, assassinatos e ataques aos palestinos. O uso distorcido da fé e a manipulação da mídia Esta Israel não tem nada a ver com a Israel bíblica. Não tem nada a ver com religião. O que vemos são poderosos homens capitalistas garantindo seus negócios e seus interesses geopolíticos e econômicos. Aqui no Brasil, inclusive, o bolsonarismo vem tentando se aproveitar desse debate, misturando, mais uma vez, política e religião e abusando da fé das pessoas. Em nome de Deus, defendem os crimes de um Estado controlado por um homem como Netanyahu, presidente da ultradireita sionista, que tentou acabar com a Suprema Corte de seu próprio país, e que nem os próprios israelenses defendem mais. Também é lamentável o papel da grande imprensa. Reproduzem acriticamente todas argumentações dos defensores de Israel, que não apenas justificam as ações bárbaras deste país nesse momento, com os bombardeios, mas também justificam seu suposto direito de atacar e destruir os palestinos. Essa imprensa apenas reproduz o que pensa um setor da burguesia que gosta de se dizer democrática ou contra o bolsonarismo. Mas, eis que aqui estão todos juntos na defesa das atrocidades cometidas por Israel. Inclusive ajudando o bolsonarismo, ao alimentarem a indústria de “fake News”, mentiras e perseguições que os apoiadores da causa palestina estão enfrentando. Lula e demais governos No Conselho de Segurança da Organização das Nações Unidas (ONU), o governo Lula propôs uma resolução que, ao mesmo tempo, agradava Israel e tentava defender um cessar fogo contra os exageros dos bombardeios atuais a Gaza. Ainda assim, os EUA vetaram a resolução, provando que não quer paz alguma. As posturas adotadas por países como Brasil, China e Rússia, ao mesmo tempo que criticam Israel e os palestinos, se dizem pela paz e buscam uma solução de “dois Estados”, reconhecendo, assim, na prática, o direito de Israel possuir as terras roubadas dos palestinos. São posturas que não ajudam em nada os palestinos e não movem um dedo no sentido de romper relações com Israel. O que só mostra que, também estes setores burgueses, não têm interesse algum em uma Palestina livre. Lula deveria romper relações militares, diplomáticas e econômicas com Israel, já. Ao chamar a resistência palestina de “terrorismo”, Lula mostra o nível de subserviência ao imperialismo dos EUA. Solidariedade internacional Tudo isso só reforça a importância de redobrarmos a solidariedade dos trabalhadores e de todos os povos oprimidos e explorados do mundo com a resistência palestina. Esta luta tem tudo a ver com a luta dos trabalhadores no Brasil. Afinal, somos um país dominado economicamente pelas mesmas potências imperialistas que sustentam Israel e massacram os palestinos em Gaza. Defendemos a mais ampla unidade de ação com o Hamas e qualquer um que esteja a favor da luta do povo palestino. Mas é preciso que também discutamos os limites políticos e estratégicos dessa batalha. Os militantes do Hamas resistem e lutam bravamente contra Israel. Mas, a direção do Hamas defende uma política conservadora e não defende abertamente uma Palestina Laica e Democrática. Por mais que tenha surgido de uma crítica correta aos acordos feitos de Oslo, que controla a Cisjordânia, o Hamas tampouco representa uma alternativa ao povo palestino. Organizações como estas têm limites exatamente por terem direções burguesas e um programa adaptado à ordem capitalista. Não apontam como saída a organização da classe trabalhadora e a combinação da luta por libertação nacional com um processo revolucionário e socialista na Palestina. As lutas no Brasil O governo Lula segue aprofundando esta dominação com sua política de desenvolvimento baseado em privatizações, Parcerias Público-Privadas, o que, na prática, significa a venda do Brasil. E mesmo com as benesses que têm recebido, os capitalistas não titubeiam em atacar os trabalhadores. Por isso mesmo, depois do programa do governo de subsídios ao preço do carro e todo tipo de isenção fiscal que recebe, a GM demitiu vários trabalhadores. Diante disto, são importantíssimas as lutas contra as privatizações promovidas pelos governos estaduais, que contam com a conivência do governo federal, que tem um projeto similar, assim como a luta contra os cortes de verbas nas áreas sociais e contra a privatização da Educação, a começar pela presença do bilionário e desonesto Jorge Lemann no interior do Ministério da Educação (MEC) Fonte: www.pstu.org.br

26 setembro 2023

Contra o acordo bi-anual: pela volta ao acordo de 1 ano...

E O REAJUSTE SALARIAL? CADÊ ELE? Quem viu o seu saldo em conta no último sábado, 23, ficou muito frustrado e nada satisfeito, pois, em comparação com o mês anterior, os valores foram semelhantes, pareceu que o Banpará não havia procedido o reajuste. Mas, a Afbepa confirmou que a folha rodou com o percentual de 4,58%, o INPC/IBGE acumulado 2022/2023. Para a Associação, esse índice de reajuste não reflete o compasso dos preços, quer seja de alimentos, medicamentos, vestuário, escola etc., portanto, contraindicado para servir de índice para o reajuste anual da nossa categoria. A Afbepa defende o IPCA mais ganho real que reflita as nossas perdas, não dá para ir em uma mesa de negociação nacional fechar 0,50% de ganho real. Chega de migalha!! O movimento sindical tem de saber reivindicar, se empoderar e enfrentar a ganância dos Banqueiros. Outro ponto importante que temos de refletir e lutar é para que haja a nossa participação nas Regras do Acordo Coletivo para o 2° ano, ou Lutarmos para que o Acordo seja de um ano. A prioridade da vida dos(as) trabalhadores(as) para os donos do capital é zero, para sermos vistos tivemos que brigar por isso, a data base, uma única vez no ano é um Direito conquistado, por isso, a principal reivindicação tem de ser por Salários. Assim, que repensemos a nossa postura em Acordo de dois anos, não podemos deixar frouxo o 2° segundo, a Luta é para participarmos até o fim, ou seja, o que queremos no 1° e 2° ano do Acordo Coletivo. Fonte: blog da afbepa

05 setembro 2023

CSP-Conlutas: Um congresso sindical, popular e de oposição de esquerda ao governo Lula/Alckmin!

Praticamente todas as organizações sociais e políticas da esquerda brasileira estiveram juntas num movimento que, ao final, interrompeu eleitoralmente o governo da ultradireita, capitaneado por Jair Bolsonaro, e isso inclui a Central Sindical e Popular (CSP)-Conlutas, que chamou voto crítico em Lula/Alckmin no segundo turno das eleições e que, agora, entre os dias 7 à 10 de setembro vai realizar, na cidade de São Paulo, seu 5º Congresso Nacional. Com o lema ‘O lugar onde as lutas contra os governos, patrões e toda forma de opressão se encontram’, o evento vai reunir mais de mil ativistas e lideranças do movimento sindical, popular, de luta contra as opressões e de juventude que, diferente da ampla maioria das maiores centrais sindicais do país, se coloca numa linha de oposição de esquerda ao governo Lula/Alckmin. Para essas lideranças, que também defendem punição à todos os envolvidos nos atos golpistas de 8 de janeiro, motivos não faltam para se postularem à esquerda de um governo que se diz de “esquerda”. Aliás, trata-se de uma necessidade. “Trata-se de se pautar pelo princípio da independência de classe e de seguir a luta em defesa das pautas mais emergenciais e históricas da classe trabalhadora brasileira. E, isso deve ser feito enfrentando o governo Lula/Alckmin e sua submissão aos interesses da banca internacional”, afirmam teses que serão debatidas no Congresso da CSP-Conlutas. Delegações de Norte a Sul do Brasil Já a partir desta segunda-feira, 4 de setembro, algumas delegações já começam a cortar as estradas brasileiras vindas do Norte e Nordeste do país rumo ao 5º Congresso da CSP-Conlutas. Iniciam um movimento que, no dia 7 de setembro, vai desembocar num plenário de abertura dos trabalhos que, também, vai contar com presença de 40 mais lideranças do chamado sindicalismo alternativo internacional. São ativistas que estiveram à frente de piquetes de greves na Inglaterra e França. Uma delegação de lutadores da África, Palestina e América Latina, como chilenos e equatorianos que realizaram mobilizações de massa em seus países. A delegação internacional ainda inclui, destacadamente, uma enfermeira e um dirigente operário, ambos combatentes da “resistência ucraniana contra a guerra opressora imposta por Putin e suas tropas”, como afirmam documentos e campanhas, hoje desenvolvidas pela CSP-Conlutas. Isso mesmo, diferente de todas as outras centrais sindicais brasileiras, a CSP-Conlutas apoia a resistência operária ucraniana, denuncia a opressão russa e, ao mesmo tempo, combate os interesses imperialistas da Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN) na região e se opõe ao governo Zelensky. Enfrentar a política econômica de Lula/Alckmin Enfrentar a política econômica de Lula/Alckmin, seu teto de gastos chamado de ‘Arcabouço Fiscal’; sua reforma tributária, que só muda de nome e continua penalizando a taxação do consumo das famílias trabalhadoras, enquanto deixa isento de impostos as grandes empresas, os bancos e os bilionários. Também enfrentar os ataques aos serviços e servidores públicos que acabam de receber do governo uma proposta de ‘reajuste salarial’ quase dez vezes menor que o orçamento deixado pelo genocida no ano passado para este fim. Exigir uma verdadeira política ambiental e a demarcação e a titulação de todas as terras indígenas e quilombolas. Ddizer não ao Marco Temporal, exigir reforma agrária, sem indenização do latifúndio e do agronegócio” e ainda exigir do governo uma política urbana de infraestrutura e construção de casas populares para acabar com o déficit de mais sete milhões moradias que aflige o nosso povo. Essas são algumas bandeiras que se levantam no 5º Congresso Nacional da CSP-Conlutas e que se somam a muitas outras, gerais ou específicas, como ,a necessidade de dobrar imediatamente o valor do salário mínimo; garantir todos os direitos trabalhistas e sociais aos trabalhadores e trabalhadoras de plataformas digitais; e ainda denunciar Lula por se contrapor a revogação de 100% das reformas trabalhista, previdenciária e do Novo Ensino Médio. Luta contra a exploração e a opressão Mulheres, negras e negros, LGBTIs, indígenas, quilombolas, imigrantes e a juventude estudantil estarão no congresso para, junto com o movimento sindical, impulsionar o enfrentamento ao genocídio do povo negro; para lutar contra o aumento da violência machista e as condições que mantém o Brasil na liderança dos assassinatos de pessoas LGBTIs; para denunciar a falta de investimento público em políticas de combate às opressões e o já conhecido método de Lula de rifar pautas históricas dos movimentos, como a legalização do aborto, em troca de alianças com setores conservadores. É com esse conjunto de proposições que, sim, o 5º Congresso da CSP-Conlutas se coloca, como oposição de esquerda ao quinto governo do PT com a burguesia. E, é “em defesa dos interesses de nossa classe que devemos fazer desse nosso Congresso um ponto de apoio para que se amplie a unidade de ação, as mobilizações, paralisações e greves e possamos nos pôr em movimento, enfrentar os governos, os patrões, e lutar contra toda forma de opressão e apostar na superação da sociedade capitalista.

10 junho 2023

PSTU não integra e não participa do Foro de São Paulo!

O PSTU emite esta nota para informar que não somos parte do Foro de São Paulo. Saiu uma notícia no Blog do Noblat em que dizia que PSTU deveria participar da próxima reunião do Foro de São Paulo, marcada para acontecer em Brasília, de 29 de junho a 2 de julho. O PSTU emitiu uma nota ao Blog do Noblat e a informação foi corrigida. A nota do partido foi publicada na íntegra pelo blog. Publicamos aqui a nota do PSTU assinada pelo presidente do partido, José Maria de Almeida, o Zé Maria: Na matéria “Foro de São Paulo em Brasília ganha data e Lula é convidado”, publicada dia 7/6, no Blog do Noblat afirma que além do PT, outros partidos de esquerda do Brasil devem participar e cita o PSTU. Por meio desta nota, o PSTU informa que nunca participou do Foro de São Paulo. Não participaremos da reunião marcada para Brasília. Não recebemos nenhum convite oficial e mesmo se recebêssemos não iríamos, já não integramos tal espaço político, pois nele reúnem partidos que defendem um projeto de colaboração com a burguesia e países ricos, que realizam governos no marco da ordem capitalista, como o PT e, inclusive, também ditadores como Maduro e Ortega. Somos oposição de esquerda, de classe e socialista a todos os governos dirigidos pelos partidos que lá estarão. O PSTU defende outro projeto internacional, independente da burguesia, e socialista, e não um social-liberalismo ou uma impossível humanização do capitalismo. A integração latino-americana necessária, a qual defendemos, exige enfrentar as multinacionais, a entrega das nossas riquezas, a exploração e devastação ambiental. Sendo assim, solicitamos ao Blog do Noblat que corrija tal informação sobre a participação do PSTU na reunião do Foro de São Paulo e publique os motivos, acima citados, porque não participaremos da reunião em Brasília. Desde já, agradecemos! São Paulo, 8 de junho de 2023